O navio baleeiro é carregado de homens calejados de viverem no mar, que deixam as famílias sem notícias por meses ou até mesmo anos. Eles se despedem com o pensamento de nunca mais voltarem. A vida no mar é perigosa e desastrosa. Apenas os mais desgraçados imergem para dentro do coração do mar.
Com todos a bordo, içam a vela principal e erguem a âncora. Os marujos fazem filas e prestam o seu respeito ao mastro - ritual do qual fazem sempre que começam uma nova jornada. Acredita-se que se um dos homens não realizar o ritual, o mar se revoltará e eles não terão mais a proteção de seu navio. O marinheiro que preze a própria vida nem sonha em passar reto do mastro sem concluir o ritual. No navio baleeiro é proibido mulheres. Assim como acreditavam que deveriam mostrar devoção ao mastro, acreditavam que mulheres traziam azar.
Na cabine, o capitão estende o mapa sobre a mesa e abre a caixinha agulha para analisar novamente o trajeto. Ao seu lado está o seu braço direito de anos. Desbravaram juntos os desconhecidos e, juntos, viram de tudo. Ambos encaravam o mapa e traçavam com um objeto pontiagudo o destino. Teriam a baleia e o seu óleo.
Na proa se encontrava Tomás. É a primeira vez que está em um navio de verdade. Ele resolveu seguir os passos do pai e do avô, apesar de não gostar muito do mar. O garoto ouviu muitas histórias de velhos marinheiros e por isso começou a puxar o ar pelo nariz desesperadamente. Esperava que não desse de frente com uma baleia gigantesca como a tripulação do Essex. Queria sair vivo dali provando que é corajoso como o pai e o avô.
O capitão abandonou a cabine e instruiu os marujos, fazendo Tomás despertar. Homens indo de um lado para o outro, gritando instruções. Tomás era o único que não tinha ideia por onde começar, a maioria já participara pelo menos de uma viagem de barco.
"Amurado por estibordo!", gritou o capitão. Velejarão recebendo o vento pelo lado direito do barco.
Tomás beijou o anel de família, tomou o seu posto e foi para o trabalho fora da agitação, na cozinha. Ele será o responsável por preparar refeições para a tripulação faminta. Seu pai, ex- marujo, disse-lhe para ter paciência porque um dia conseguirá um posto de mais honra. Pra ser sincera, o garoto de quase vinte e dois anos não se importou com o trabalho que lhe foi designado. Ele não sabia muita coisa sobre barcos – desde pequeno se fazia de desinteressado sobre as partes mais técnicas.
O tempo estava ótimo. O mar calmo; por enquanto. As coisas estavam tranquilas, dando a sensação de que até o final nada sairia do controle.
Foi-se já seis meses de viagem. Houveram algumas complicação básicas. O capitão sabia que, conforme se aproximavam do local onde há mais possibilidade de conseguir a baleia, a situação se reverteria. Conhecia as histórias contadas pelos velhos baleeiros e, como se já não fosse muito, vivera pessoalmente um punhado delas.
"Escutem bem o que vou lhes dizer! Essa viagem não será fácil para ninguém. Morrerão muitos de nós, não tenham duvidas disso. Mesmo os não navegadores sabem sobre o Essax. O caminho que tomaremos será o mesmo, portanto mantenham-se firmes e, se caso eu tiver me juntado ao mar, escutem o Braço Direito. Ele os orientará. Se meu compadre também se juntar e não tiver mais ninguém para quem seguir as ordens, pois então sigam as da razão. Aqui não é brincadeira, rapazes. Não se precipitam se querem voltar para as suas casas em segurança. Tomem decisões juntos. Sempre.", a tripulação deu um grito de guerra e o capitão atirou de volta.
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O RELÓGIO TIQUE TAQUE, MEIA NOITE
Short StoryTique taque, o relógio caminha Tique taque, o relógio corre Tique taque, ele não espera, Ele chega ao fim Cura Mas também destrói. O que é o tempo? O que é a vida? A morte luta e reluta O preço que pagamos Ou o preço que inventamos Também ba...