Ela

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Ao ver a porta da livraria se abrindo, eu tinha certeza de que era ela quem entrava. O perfume forte que passava era inesquecível, infestando a loja com seu aroma. Distraída, Luísa irrompia pela entrada, acostumada com o ambiente, e eu acostumado com a visita dela.
          Toda semana, ela frequentava o local, mesmo que não comprasse nada. A garota gostava de cheirar os livros, apreciar suas capas, ler suas sinopses e admirar as estantes. O lugar não era uma biblioteca, mas servia como uma para Luísa.
          Com sofás confortáveis e uma pequena cafeteria, a livraria abrigava vários leitores apaixonados, mas a jovem era quem mais aparecia por lá. Como funcionário, posso dizer que fico admirado com o esforço dela de comparecer diariamente.
          Claro que a garota já me viu. Mas tenho certeza de que ela não sabe o quanto a admiro. Não somente por sua aparência, mas pela sua personalidade. Cabelos castanhos e curtos, na altura dos ombros, olhos amendoados, franja até as sobrancelhas e roupas largas e aconchegantes escondem uma pessoa amável e reservada. Pode ser introvertida, mas exala simpatia e alegria.
          Mesmo não tendo conversado com ela diretamente, somente para passar suas compras, observo seus gestos toda vez que passa tempo na loja. Suas manias, suas reações, seus gostos e seu jeito são conhecidos por qualquer um que trabalha na livraria. Mas ela chama minha atenção de um jeito diferente.
          Contento-me em contemplá-la, porém um dia, um dia, eu terei coragem de contatá-la. Um dia, ainda perderei a timidez e conversarei cara a cara com Luísa. Por enquanto, me limitarei a ficar atrás do balcão, apreciando sua presença.

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