Ann já tinha deixado seu livro de lado, Ada e Elaene já não estavam mais conversando e já estava quase no horário de desligar a luz, quando ouvimos uma batida na porta. Nos entreolhamos confusas, a essa hora pode ser uma criada pedindo alguma coisa, ou vindo contar uma notícia urgente do castelo. Ada se levanta da cama e vai até a porta, quando ela abre posso ver Rylia de pé a porta, um frio corre a minha espinha, Rylia tem uma aparência rígida, sua pele clara, contrasta com seus olhos escuros e afiados, por ela ser alta ela olha todos de cima, o que combina com sua personalidade. Ela parece meio abatida e penso no que Ada falou sobre a chegada da princesa de Ikonphi, isso deve ter a deixado estressada, seu cabelo escuro, no qual haviam começado a aparecer fios prateados, não estavam cuidadosamente presos como de costume e uma mecha caia sobre seu olho.
Ela conversa com Ada, que fecha a porta nos deixando curiosas, Elaene nesse momento me olha da sua cama e depois para Ann.
—O que será que aconteceu?— pergunta Elaene. —Rylia nunca vem aos dormitórios.
— Deve ter algo haver com a visitante— diz Ann, falando baixinho para apenas nós ouvirmos.
Depois de um tempo Ada entra com um sorriso enorme me encarando, me sinto constrangida e antes que eu possa perguntar alguma coisa ela diz:
—Rylia está te procurando, tem haver com a visitante.— ela diz. Levanto da cama, ajeito meu cabelo e minhas roupas com a mão. A presença de Rylia me deixa nervosa e eu tenho a certeza de que ela me odeia. Quando abro a porta Rylia está de pé a minha frente, olho para cima em direção ao seus olhos e me arrependo imediatamente, seus olhos me encaram com desdém, para ela lidar comigo é como lidar com um inseto, direciono meu olho ao chão na esperança de fugir da sua reprovação.
— Traga suas coisas e venha comigo eu explico no caminho. — ela diz, irritada.
Volto ao quarto, todas me encaram em busca de respostas, dou de ombros, não sei o que está acontecendo, então só obedeço Rylia e vou com alguns uniformes até a porta.
Rylia mal espera eu sair da porta e segue em frente com seus passos compridos, mesmo sendo alta tenho que apressar meus passos para acompanha-lá.
—Não sei se já está informada, mas temos uma visitante no castelo, do reino de Ikonphi do Norte.—ela não espera minha resposta para prosseguir— Ela é a princesa, e não fomos avisados de seus costumes com antecedência.
Saímos do corredor principal da área de serviço e seguimos ao coração que se encontra vazio, a essa hora todos os serviços do castelo estão encerrados e as criadas, que não sejam as criadas pessoais que ficam a disposição da familia real qualquer momento do dia, estão em seus dormitórios.
— Em Ikonphi do Norte não é apropriado ter como seu servo um igual seu, ou seja, um ikoniano, eles só usam estrangeiros tiorino para servi-los.—Ela finalmente se vira para mim. Antes de falar com desdém.—Finalmente seus olhos azuis de inseto serviram de alguma coisa.
Subimos as escadas que levam ao que levam ao andar dos aposentos enquanto ela me explica os protocolos, como, chama-lá apenas de alteza, não fazer perguntas pessoais e tentar se mostrar o mais agradável possível.
Paramos em frente a uma porta de madeira escura, desenhada com entalhes de flores e uma maçaneta dourada. Rylia bate na porta e uma linda moça nos recebe, pela roupa percebo que não é uma criada, grossos cachos caem até um pouco acima da cintura, pretos comos seus olhos, contrastando com uma pele clara suas bochechas estavam coradas, e me pergunto se em ikonphi do Norte era verão, ou ela estava usando alguma espécie de maquiagem. Ela usava um robe vermelho e me encarava de modo curioso.
— Princesa Helerys_—Rylia diz e faz uma breve reverência, na qual eu a acompanho. _ Essa é sua nova criada pessoal.
—Ótimo, uma verdadeira tiorina.— ela diz, sua voz é firme como de uma rainha dando ordens aos seus súditos. — Peço perdão pelo inconveniente, mas realmente não me sentiria confortável.
—Sem problemas.—Rylia diz e depois de outra reverência vai embora.
Me sinto humilhada, sinto meu rosto ficar quente, provavelmente de raiva, e agradeço pela cor da minha pele esconder o rubor, naquela situação eu estou sendo vista como inferior, apenas uma tiorina, sinto um gosto amargo na minha garganta e respiro fundo. Helerys olha para mim parada na porta e para o monte de roupas dobradas que pressiono contra o peito.
—Entre— Ela sai da porta e se senta em sua cama. O quarto é grande, com uma porta que dá para uma sacada e um banheiro privado. Sua cama deve ser maior do as duas beliches dos dormitório juntas, no canto do quarto tem uma mesa de madeira, que já está com papéis e livros e um grande espelho com uma moldura dourada. Fico impressionada, nunca estive em um quarto de visitas antes, na verdade quase nunca subo nesse andar, sempre fico entre a cozinha e o andar tereo.
Mesmo sem olhar diretamente para ela sinto que ela me estuda com o olhar e por mais deslumbrada que eu esteja, tento parecer profissional, no treinamento aprendemos que em cada quarto tem um painel que dá a um alojamento. Procuro ao redor do quarto tentando não demonstrar minha inexperiência.
— Ali — ela aponta para uma parede em que não parece ter nada.— Você está procurando o quarto extra, não? Vi a outra criada entrar nele mais cedo.
Concordo com a cabeça e caminho até a parede, ao chegar mais perto vejo um pequeno sulco na parede que eu não tinha visto de longe, encaixo minha mão, ou que cabe dela, e puxo, vejo a parede começar a se abrir e respiro aliviada, puxo o painel até o final revelando o alojamento.
Tateio até achar o interruptor e me surpreendo com o que encontro, o alojamento deve ser do tamanho do meu dormitório, com uma única cama, uma cômoda de madeira, com quatro gavetas compridas, parecida com a do dormitório e um espelho, com tamanho suficiente para mostrar todo meu corpo com uma moldura simples preta ao redor, não me lembro da última vez que olhei meu corpo no espelho, nos dormitórios não tem espelho,e os do vestiário só mostram a parte de cima. A pessoa que me olha no espelho é alta, eu sabia que era alta por me comparar com outras meninas, mas acho que desde a adolescência eu não me olho meu corpo inteiro, e ele mudou bastante, meu corpo curvilíneo, com o quadril largo e uma cintura mais fina, olho para cima e percebo minha postura horrível com meus largos ombros curvados e os ajeito num movimento rápido, desvio o olhar para o espelho e apresso em por a pilha de roupa na cama, saio do quarto e fecho o painel. Quando me viro vejo que Helerys ainda está me encarando e fico envergonhada.
— Você nunca viu um espelho?— ela me pergunta. Seus olhos são inocentes e não percebo nenhuma ironia em sua voz, pelo contrário, ela parece curiosa.—Ficou bastante tempo olhando para ele.
—Perdão Alteza.— é a unica coisa que digo. Não sei como agir frente a alguém importante, ao contrário de Ann que já serviu a visitantes e até mesmo a rainha durante um tempo, ela é gentil e carismática sem nem se esforçar para isso, eu costumo apenas ficar escondida em algum lugar do castelo, sem que ninguém me veja.
Ela ri, uma risada rápida, quase um suspiro.
—Não precisa me pedir desculpas, não por isso.
— Perdão, Alteza.
— Não me peça desculpas de novo_ ela parece levemente irritada, me seguro para não me desculpar novamente então apenas concordo com a cabeça. — Vou dormir agora, deixei em cima da minha mesa um cronograma com meus horários, antes de ir para seu quarto apague a luz.
Ando rapidamente até a mesa e pego uma folha de papel com os horários, apago a luz e vou de volta ao meu alojamento o mais rápido possível. No momento que fecho a porta, sua invadida por uma série de sentimentos e nenhum deles me agrada, me sinto envergonhada, inútil, com raiva e mais o monte de sentimentos que não sei se é possível nomear, quero quebrar alguma coisa. O pensamento que vem a minha mente em seguida me faz rir, penso em Ann, ela se daria melhor aqui, ela já fez isso, até serviu a rainha um tempo, ela é encantadora naturalmente, não estou acostumada. Queria que ela estivesse aqui, ela riria de como sou desengonçada, ouviria eu reclamar de Helerys e provavelmente viria com um daqueles conselhos que a fazem parecer mais sábia do que realmente é.
Pensando em Ann lembro, aquela mulher é noiva de Klaus, namorado de Ann, aquela mulher me assusta e por um momento fico com pena dele, Klaus ama muito Ann e sempre deixa isso bem transparente, e é difícil ver ele fazer algo assim, mas logo em seguida sinto raiva, se ele amava tanto devia ter feito algo mais.
Tento afastar esses pensamentos, se eu me distrair só vou piorar minha situação, eu tenho que me concentrar em sei lá, não ofender ela com a minha presença.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Olhos Azuis
ФэнтезиMelanie se acostumou, se acostumou com os olhares estranhos quando pensavam que ela não estava olhando, ou como nunca a encaravam nos olhos, como preferiam falar com suas colegas, ou sua irmã a falar com ela. Ela era vista como estranha, seus olhos...