Capítulo 23

717 60 0
                                    


Ella não podia ter um só pensamento racional, estava tomada pelo medo da repercussão de suas ações, medo de sofrer, medo de ser consumida por eles.

— Daniella querida, eu fui casada seis vezes, cinco deles eram homens conservadores, de moral ilibada diante da sociedade, mas era só aparência. Meu primeiro marido, que o diabo o tenha era um canalha violento que traia descaradamente com sua secretária. O segundo marido me traia e era um cidadão religioso e caridoso, então eu parei de me importar e comecei a pegar só o que havia de bom neles, eu parei de tentar encontrar alguém que me desse algo que só eu poderia me dar, amor próprio. Então fiz plásticas, levantei aqui tirei lá e fui a uma festinha de swing com uma amiga. E adivinha quem eu vi lá? — perguntou gargalhando — O desgraçado do meu primeiro marido, e pai dos meus filhos.

Ella queria perguntar mais, mas sabia que havia uma moral no fim de toda essa história e ela faria bem se aprendesse.

— O filho da puta tentou me arrancar de lá a força, mas eu fui firme e resolvi que faria por mim, eu experimentaria e se não gostasse eu iria embora, mas não deixaria aquele bastardo me humilhar, então fui fodida com gosto naquela noite, e meu ex ficou lá observando tudo sem poder tocar ou impedir. Querida eu fui infeliz a maior parte da minha vida por tentar me encaixar nesses padrões, seis casamentos e nenhum orgasmo descente — ela riu — quanto mais eu tentava ser perfeita mais humilhada e traída eu era. Quando eu conheci o Fernando, em uma casa de swing na espana, eu soube que eu poderia ser feliz no sexo e no amor, desde que eu me amasse primeiro, e me permitisse ser feliz.

— Eu acho lindo a sua liberdade, mas tenho medo de não ser capaz de dar a eles o que eles precisam e acabar duplamente destruída no final.

— É exatamente disso que eu estou falando, eu fui casada de acordo com os padrões considerados dignos pela sociedade, e o que recebi em troca? Dor traições, violência abandono. E com o Fernando eu recebo o que preciso e dou o que ele precisa, mas nenhum de nós aceita menos um do outro. Se jogar nos faz feliz então a gente joga, temos os nossos limites e respeitamos eles.

— Mas esta não é a minha vida, eu não quero viver assim eu nem sei do que gosto ou não em relação ao sexo! — Ella estava irritada por não ser capaz de se fazer entender.

— Daniella, é isso! — Sonia bateu em suas palmas assustando Miah que dormia preguiçosa no sofá, mas a mulher nem se deu conta da irritação da gata — Você entendeu, esse é o meu mundo não o seu, e não é mais o deles.

— Como você pode saber? Eu os vi Sonia, eles amam estar em meio a tudo isto — Ella não pode evitar que as lágrimas caíssem por seu rosto.

— Por ser o meu mundo e eu posso te garantir que já não é o que eles querem, eles querem jogar, mas só se for com você, eles te amam tanto que aceitariam qualquer coisa que você esteja pronta para dar.

Ela não poderia ter o que ela queria, pois, para isso ela teria de fundir os dois em um só. O que ela amava em Alex, Yago não possuía. Eram como a chuva e o sol, e ela era como a natureza que precisava dos dois cada um em sua medida.

— Filha eles estão indo embora amanhã à noite, se eles forem você os perderá para sempre e vai tentar encontrar em outros, o que só eles podem dar a você.

— Eu não vou fazer nada parecido — Ella disse irritada, mas tentou não pensar na parte "deles indo, eles indo embora para sempre, e Ella sozinha sem eles".

— Acredite, vai sim! — Sonia segurou as mãos dela — Eu quero te apresentar a algumas pessoas que vivem situação parecida com a sua. Se arrume, vamos sair para beber.

— Não estou com cabeça para isso Sonia, sinto muito.

— Como se eu tivesse dado a você qualquer opção de escolha — ela olhou para trás e sorriu — anda logo, não temos o dia todo.

Sonia parou o carro em um bar bem rustico no Boqueirão, um espaço voltado para arte e muito aconchegante. Ella amou o espaço ao ar livre onde artistas pintavam ou faziam esculturas, ou apenas sentavam-se ao redor de uma mulher com seu violão tocando músicas zen. Algumas pessoas acenaram para ela em uma mesa no canto, e Sonia sorriu largo.

— Não disse a eles sobre vocês e os irmãos D'Alba, quero apenas os observe, e se precisar perguntar qualquer coisa, não importa o que seja, pode fazê-lo, eles são um trisal. Adeptos do poliamor e não tem nenhum problema de mostrar isso a ninguém.

— Poliamor? — perguntou preocupada com a resposta.

— O poliamor significa que é possível formar uma família e conviver com várias pessoas. Não é uma família no sentido tradicional, e sim um novo conceito de família diferente e mais aberto que pode trazer felicidade do mesmo jeito. — disse um homem muito bonito com os cabelos mais escuros que ela já vira e os olhos que pareciam uma pintura de tão azuis. — Olá, eu sou o Jonas e você?

— Jonas querido, esta é min há sobrinha Ella, é uma artista como vocês, só que da música clássica.

— Sim, eu a vi na inauguração do Bucanero's, você foi magnífica.

Ella conheceu também a Alice e o Lucas, eles eram um trisal que se mostravam muito apaixonados. Jonas era bissexual e os três estavam juntos há 16 anos.

— Sem conflitos? Você não tem ciúmes um do outro? — perguntou ela.

— Lucas é muito ciumento — Jonas riu ao se referir ao companheiro. — então sim temos ciúmes e todas as outras neuroses comuns em quaisquer relacionamentos amorosos

— Não sou ciumento, sou protetor, apenas isso. — resmungou e todos riram muito.

— Se é consensual não há conflitos meu amor. — respondeu Alice, mas temos problemas é claro, se um relacionamento a dois já é difícil imagina há três.

Alice já tinha sido casada com Jonas, e se separaram após ele assumir a bissexualidade dele, mas o amor falou mais forte e ela o aceitou de volta, então conheceram o Lucas e se apaixonaram.

— Somos como quaisquer outros casais, discutimos, fazemos as pazes às vezes ela está com dor de cabeça, às vezes eu estou. — disse Lucas;

Lucas era uruguaio e também um conceituado diretor de teatro, Alice medica, e Jonas era funcionário público. Ou seja, pessoas diferentes como todo mundo, mas que encontraram um no outro algo em comum e fizeram dar certo. O trisal tem uma filha, Rebeca de oito anos, confessaram que enfrentaram muitos problemas principalmente com a família. Mas se deram conta de que quando chegavam em casa e fechavam a porta atrás deles, que a sociedade ficava lá fora. Então decidiram mantê-los fora e o amor dentro.

— Não tive nenhuma intenção de tentar te influenciar, eu apenas quero que você tome uma decisão baseada no que você quer, nos seus sentimentos. Você está sofrendo Daniella e eu não gosto de te ver assim. — Sonia a abraçou e Ella se permitiu chorar, as duas ali no carro e nada mais no mundo pareceu ter importância. Sonia não disse mais nada, deixou Ella em casa e foi embora.

Naquela noite, ela não pregou os olhos, eles estavam indo embora, e ela os perderia para sempre.

TRÊS- Porque Ella Ama Eles  (completo na Amazom)Onde histórias criam vida. Descubra agora