Enquanto Yago e o padrinho de Ella cuidavam dos trâmites legais para o velório e enterro, Alex fazia o possível para ajudar sua namorada a lidar com a situação. E como se já não fosse difícil o bastante lidar com a culpa, a morte do avô e as novas descobertas a respeito do seu passado, ainda tinham as provocações de Gero.
— Qual deles é o seu macho guarázinha? Como você sabe quem está pegando se os dois são tão parecidos? — provocou cercando Ella na cozinha — Não tenha medo, priminha, eu só quero terminar o que a gente começou no celeiro, ou você acreditou que eu iria deixar barato aquele tiro?
— Vá se foder Gero, sai da minha frente ou eu juro...
— E vai fazer o quê? Chamar os seus cães para te proteger? — Gero se aproximou forçando toda a sua altura sobre ela até estar a um centímetro de seu rosto, então tomou o copo de suco da mão dela e tomou até a última gota e saiu rindo debochado.
Ella se deixou cair sobre os seus joelhos, ela tremia enquanto um nó se formava em sua garganta. Ela queria poder gritar, bater nele, ou quem sabe atirar novamente mirando um pouco mais abaixo.
— Daniella, o que houve? O que aquele filho da puta te fez? — Yago a pegou pela mão e a abraçou forte — amor, você está gelada! Diga o que ele fez, Daniella, eu arrancarei os olhos desse bastardo.
Yago tentou tirá-la do seu abraço, ele estava furioso e Daniella se o prendeu mais forte que pode.
— Esquece Yago, Gero só está tentando chamar atenção, em breve iremos embora. Eu só quero enterrar o meu avô e sair desse lugar.
— Querida, eu não posso ficar calado enquanto essas pessoas te ferem, não pode me pedir para assistir você sendo massacrada e não te defender. — protestou Yago encarando seus tristes olhos amendoados — estou tentando por você, mas está difícil, então faça um favor para todos nós, mantenha-se o mais longe possível, pois se qualquer um deles te machucar, eles terão a mim e ao Alex sobre eles.
Ella os entendia, sabia que não estava sendo fácil para eles, principalmente para o Alex que sempre fora mais explosivo, por isso ela tinha esperança de que pudessem ir embora logo após o enterro.
No entanto, Daniella não esperava ser surpreendida por Sofia. E a sua volta seria adiada por mais tempo do que qualquer um deles desejava.
— Como assim você se casou? Sofia por que não me contou? E, por que esse casamento tão repentino? Pensei ter ouvido você dizer que iria ficar aqui com o vovô. — Ella perguntou surpresa.
— Não foi repentino prima, eu estou comprometida com o Anderson há dois anos, ele trabalha em outro estado e só vem nos finais de semana. A gente se casou há três meses, mas com a doença do vovô decidimos que eu ficaria aqui pelo tempo que ele precisasse, mas como vovô não está mais aqui, não há mais nada que me prenda a esta cidade. — Sofia respondeu soando tão madura que a surpreendeu tanto ou mais do que o anúncio bombástico do casório.
— Você é tão jovem, Sofia, não entendo! — Ella tentou assimilar tudo o que tinha ouvido da prima e Sofia sorriu para ela.
— Dani, eu não estou fugindo de nada. Eu amo o Anderson e quero construir uma vida com ele. Lembra que a vovó sempre dizia que eu iria me casar cedo e me tornar uma dona-casa feliz? Ela estava certa, eu quero isso para mim, uma casa, marido, filhos.
Ella pensou que não havia como argumentar, tudo o que podia fazer era desejar felicidades a prima. Ella se lembrava de Anderson, ela o conhecia desde a infância, sua prima estaria em boas mãos.
Enquanto Alex e Yago cuidavam dos últimos detalhes após o sepultamento do avô, Daniella aproveitou para rever a documentação da propriedade. Seu padrinho havia dito haver impostos e outras dívidas em atraso que poderiam comprometer a herança dela. Sofia estava decidida a deixar tudo para trás, até pensou em deixar tudo para Sofia, mas a prima recusou. Ela não queria levar nada do seu passado. Seu padrinho aconselhou-a a vender tudo e investir o dinheiro em seu futuro, mas ela não queria pôr os tios na rua, ainda que eles tenham feito exatamente isso com ela.
A noite já estava chegando, Sofia estava visitando a sogra com o marido, e os gêmeos estavam tardando a chegar com o padrinho. Eles não entenderam a necessidade de o homem ter chamado aos dois, visto que apenas um deles poderia resolver qualquer problema, no entanto, se seu padrinho achava que era necessária a presença dos dois, eles preferiram não discutir.
Ella preparou o jantar como fazia antes, escolheu verduras da horta que não era nem sombra do que fora um dia, fez suco natural e carne porco frita do jeito que a sua avó gostava. Ela ficou triste pelo estado da chácara de sua família, não havia mais funcionários para ajudar na conservação, as vacas foram vendidas exceto por uma que ainda era mantida para o sustento da família. O galinheiro que antes possuíam tantas cabeças, agora, se tivesse uma dúzia, ainda seria muito. Nem mesmo o velho Figueiredo havia sobrevivido, embora essa parte fosse logica, afinal o cão era muito velho.
Ella foi ao barracão onde um dia a avó e às duas netas fabricavam doce e compotas, e no dia de feira elas iam juntas na velha caminhonete da família fazer as entregas. Ela estava tão perdida em pensamentos que não percebeu ter companhia.
— Gero? O que você está fazendo aqui? — perguntou se afastando, seu primo tinha um brilho lascivo nos olhos e Daniella temeu por sua vida.
— Desta vez você não está armada, não é guarázinha? — ele perguntou roçando a mão pelo próprio corpo como se quisesse exibir o físico fabricado por drogas.
— Saia daqui Gero, me deixa em paz ou vou gritar! — avisou tentando se afastar ainda mais.
— E quem vai te ouvir? Seus cães de guarda? Aquele velhote puxa saco? Nós temos uma velha dívida priminha e quero a minha parte agora. — Gero se lançou sobre ela tão rápido que Ella não conseguiu escapar e se viu presa entre as tábuas do galpão e corpo fedorento dele. Ella tentou gritar, mas ele a girou tão rápido que ela caiu de cara no chão, e Gero riu da vantagem que havia ganhado sobre ela.
— Você está muito mais gostosa agora, Daniella, faz ideia de quanto tempo eu desejo comer você assim? — ele estava sobre ela, seu rosto preso ao chão pela mão forte dele enquanto a outra rasgava o vestido dela.
Ella se debateu como pôde e conseguiu virar o corpo, então, usou cada grama de força para arranhar, chutar e morder, mas foi subjugada e espancada novamente. Gero bateu nela tão forte com as costas da mão que a visão dela escureceu. Ela pensou que seria estuprada por seu primo ali no chão do galpão.
Seus gritos não seriam ouvidos e ela não teria quem a salvasse das garras de Gero. E quando pensou que tinha chegado às portas do inferno, ela percebeu que dava para afundar mais um pouco.
— Anda logo Gero, eles já estão vindo. Fode essa vagabunda e ensina ela como se dar ao respeito — Ella ouviu a voz do tio gritando do lado fora.
Um grito de ódio saiu de sua garganta e uma força que ela não sabia que tinha brotou de seu interior. A voz do tio, gritando do lado de fora, foi oportuna e suficiente distração e Ella aproveitou para girar o corpo e desferir um golpe com seu joelho que acertou em cheio as bolas do desgraçado, fazendo o porco rolar de dor com a surpresa do ataque. Ella sabia que não poderia com os dois, então ela correu, correu para salvar a própria vida, correu como se cães do inferno ladrassem atrás dela, e estava.
Sem poder enxergar direito pelos ferimentos no rosto e pelo entardecer, ela correu as cegas, e só parou quando deu de encontro com uma parede de músculos. Sua adrenalina era tanta que ela esperneava tentando fugir do seu algoz, mas ele dizia coisas, coisas que ela não conseguia discernir. Ela tinha que fugir, precisava escapar, mas aquelas pessoas diziam coisas.
— Daniella pare meu amor, se acalme! Sou eu, Yago! Eu tenho você agora pequena, ele não vai mais te machucar. Você está segura, pare de lutar!
Daniella tentava ouvir a voz, mas o cheiro de Gero ainda estava impregnado nela, o sangue pulsava em suas orelhas como se fosse um rufar de tambores.
— Não lute comigo querida, eu tenho você agora, acabou meu amor! Você está segura, abra os olhos querida! Faça isso agora, olha para mim, meu amor.
Daniella o viu, e então parou de lutar e tudo se apagou.
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TRÊS- Porque Ella Ama Eles (completo na Amazom)
RomansaDois irmãos, gêmeos idênticos, que dividem tudo, inclusive o amor de uma mulher. Uma garota do interior que só conhece o amor descrito nas letras de suas canções preferidas. Agora ela descobrirá que os pecados dos quais sua avó sempre disse a ela pa...