nada machucou mais que o desprezo inconsciente de yizhuo por você, além do fatídico ocorrido que se sucedeu na mesma data.
em um compilado de mensagens de texto entregues sob uma digitação desesperadora - era perceptível tantos erros ortográficos, - evidenciando sua pressa em explanar tudo agilmente. seus pais eram um tópico que ressurgira em decorrência da discussão macabra que houve após pisar no chão composto por pisos de madeira, na sala de estar.
num cabo de guerra, sua família continuava a contrariando. era como correr numa corda bamba para que ela arrebentasse em suas pernas e as deixasse marcas pelo roxo repugnante dos hematomas.
lia nosso chat com um pesar no peito. meus caracteres não influenciariam na sua tristeza já corroída. amarrando-se na corda e forjando a própria desgraça, eu novamente me tornava uma mera espectadora de um show consecutivo de desgraças.
sua mãe a abordara no sofá para te repreender por longos minutos que maltratavam o relógio azulado, onde o monólogo instaurava e você prosseguia petrificada. seu irmão mais novo, passava pelo cômodo distraído com o jogo no telemóvel. e seu pai estava desparecido como um bom alcoólatra que joga suas frustrações na bebida ao invés de assumir as respectivas responsabilidades. todos estavam em constante fuga dos seus próprios papéis.
não tinha pai, mãe ou irmão. eram todos seres orgulhosos desonestos com o que ultrapassava o próprio umbigo.
a acusação da vez foi que você teria mentido coisas acerca da mulher que lhe concebeu. não haviam mentiras, porém, a insistência para te colocar como uma vilã cruel era extremamente maior. e não é como se a coação fosse novidade; acontecia desde criança, quando ela passou a te assustar no escuro para que fosse manipulável diante do poder de um adulto infantil que não está preparado para assumir outro ser vivo.
jogando as cinzas do cigarro no carpete antiquado, ela desejava escapar de qualquer culpa. até porque, não queria ser associada como uma fissurada em dinheiro que conseguiu atingir uma dívida horrenda na conta bancária do marido, que nem estava sóbrio para compreender a situação e colocar um basta nisso. uma aniquilação certeira da própria imagem perfeita construída encima de tantos defeitos.
quando a confusão tomou uma conclusão, você implorou por desculpas desnecessárias repetidamente e correu para sua fortaleza, afim de escapar assim como o restante. todavia, você não tinha tal oportunidade como eles. estava fadada a conviver dessa forma, pois ninguém iria te resgatar desse inferno nas mãos do diabo.
pela primeira vez, tomei uma atitude que encurralou minha covardia espinhosa. busquei pelo telefone vermelho no balcão da cozinha, discando a série de números para lhe contatar. você atendeu, com uma entonação vocal trêmula e inconsistente. chamei-lhe para dormir em casa e pude ser agraciada por um "sim" demasiado alto ecoando em meus ouvidos.
apesar de ser mais uma noite a qual insônia te amaldiçoou. seus traumas não poderiam ser apagados numa ventania repentina.
deveria ter feito isso mais vezes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
contagem regressiva ✧ kariselle
Fanficenumerei coisas que guardo especialmente pelo tilintar em harmonia do meu coração quando contemplava você. [SHORTFIC - letras minúsculas; karina + giselle]. @mitskw, 2021.