Pequenos Passos

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Sempre gostei de andar. Depois que tudo terminou e Steve se foi, andar a noite se tornou uma rotina. 

Não há muitas opções. É andar ou encarar os malditos pesadelos. 

O frio da noite é reconfortante de certa forma. Observo atento cada comércio ainda aberto, tentando reconhecer um lugar que me foi familiar a vida inteira. 

As ruas agora são bem iluminadas, quebrando o ar mágico e nostálgico dos anos quarenta. Memórias da antiga sala de cinema e da loja de discos, agora substituídas por lojas de departamentos, me fazem encolher por dentro. Eram meus lugares favoritos depois do pub local. 

Um suspiro deixa a minha boca de forma inesperada, e me vejo caminhando para o antigo bar do escocês, ainda incerto do porquê estou fazendo isso. Depois de uma caminhada curta me vejo diante do que me pareceu ser o local correto.

Há diferenças na fachada. Nitidamente houve algumas modificações, mas de alguma forma o clima do lugar me pareceu o mesmo. Me senti atraído a olhar mais de perto, e vi que ainda mantinham as antigas fotos e a mesa de sinuca. 

Pequenos passos James - o mantra incansável da doutora buscava lugar nos meus pensamentos - voce deve procurar algo familiar e partir daí.

Não é uma briga justa. 

Propositalmente omiti o fato de que, ainda que ela fosse incansável e repetitiva, nada vencia a compulsão do intruso dentro de mim, me obrigando a avaliar ameaças, saídas rápidas e todo armamento disponível em um lugar. Uma lembrança constante e dolorosa de que não sou dono de mim mesmo, ainda que agora mantenha o controle dos meus atos. 

Num ato de rebeldia contra a frustração, entro no espaço lutando contra o instinto de avaliar cada canto do lugar, falhando miseravelmente mais uma vez. Havia 4 homens e três mulheres bonitas no lugar. Uma vestida em roupas de couro. Duas saídas. Certamente ao menos duas armas de calibre grosso escondidas no balcão antigo de madeira.

Me vi caminhando em direção ao balcão de madeira, que reconheci ser o mesmo de tanto tempo atrás, onde eu e Steve um dia bebemos muito além da conta comemorando que finalmente ele poderia beber. Um sorriso involuntário se forma no meu rosto.

Me dou conta que estou sendo observado, e vejo o semblante pouco amistoso do barman olhando para mim.

Merda.

Pequenos passos - me repeti.

- Um whiskey por favor - disse tentando conter o sotaque russo.

Me forcei a sentar no balcão, de costas para as pessoas, lutando contra os instintos do soldado em mais um ato silencioso de rebeldia. 

Uma música tocava vindo de nenhum lugar aparente, e depois de alguns segundos percebi que conhecia a letra. In the Mood - Glenn Miller. 

Corro meus olhos pela madeira rústica buscando traços do meu passado quando ouço passos no vindos do fundo do bar vindo em direção ao balcão. Os instintos do soldado se misturaram com as minhas memórias de uma forma que nunca havia acontecido antes. 

O som se aproxima, cadenciado e firme. A cada passo havia menos dúvidas. Mulher, saltos finos. Altura 1,65, aproximadamente 70 quilos. 

A mulher em roupa de couro. 

Nenhuma outra usava saltos capazes de produzir esse som. - Concluo franzindo as sobrancelhas me dando conta de que isso não é algo que o Soldado Invernal saberia. O perfume adocicado amadeirado me atinge antes do som da sua voz.

- James Barnes...- a voz aveludada era de alguma forma familiar.

Me viro em direção a ela e vejo a expressão delicada do seu rosto, em um lindo contraste com o calor dos olhos castanhos e os cachos amendoados solto na altura dos ombros. A pele clara visivelmente bronzeada. O corpo torneado em roupas de couro muito justas.

BARNES 1917Onde histórias criam vida. Descubra agora