Alphas

Recomeço

Quando ajudou Sana, Nayeon só tinha a intenção de humilhar a mãe da garota por todo o mal que ela fez a sua família, mas no fim das contas, acabou contente com as consequências de sua escolha.

Depois que a mulher foi embora, dando uma desculpa esfarrapada e deixando a filha para trás, Sana agradeceu a beta com um abraço longo e extremamente inesperado. Logo em seguida entrou correndo pelos portões da escola, provavelmente animada para contar o desfecho às amigas e à namorada.

Mas o que mais chamou a atenção de Nayeon foi a forma que Mina estava ao seu lado aquele tempo todo com  admiração estampada no rosto. Quando as duas já estavam novamente a sós, foi a vez da japonesa envolvê-la em um abraço e deixar um beijo estalado em sua bochecha.

— Estou orgulhosa de você. — A alfa comentou assim que as duas tinham contato visual novamente. — E um pouco intimidada também. Você fica mais atraente que o normal quando está com raiva.

Nayeon riu. Era estranho ter a alfa tão perto de si quando estavam em público, ainda mais se fosse por iniciativa dela mesma. Se essa fosse a recompensa por ser "prestativa", ela pensava seriamente em fazer esse tipo de coisa mais vezes.

Mina até mesmo insistiu em acompanhá-la até sua primeira aula do dia e a beta não negaria que foi para lá de satisfatório ouvir os murmúrios vindos das suas colegas de classe sobre as duas terem aparecido tão próximas de um dia para o outro. Mal elas sabiam.

A aula de física era um verdadeiro inferno na terra para Nayeon, mas seu celular estava descarregado e sua distração de sempre, Jeongyeon, parecia cem por cento focada na aula. A beta não a julgava, pois sabia que a namorada nunca foi das melhores naquela matéria e precisava acompanhar o resto da turma. O que lhe restou, foi continuar remoendo os acontecimentos daquela manhã em sua mente até que o horário acabasse.

Nayeon se sentiu útil para algo bom pelo menos uma vez na vida e a sensação era melhor do que imaginava.

Ao contrário de algumas de suas colegas, ela nunca teve nenhuma intenção de esconder ou ignorar seu privilégio; ela sabia muito bem que seus pais sempre puderam lhe dar do bom e do melhor: acesso a melhor educação, as melhores roupas, os melhores brinquedos.

Mas a única coisa que eles não conseguiam oferecer e que sempre foi aquilo que ela realmente precisava, era uma família equilibrada e feliz.

Seus pais nunca se separaram. Até onde ela sabia, eles continuavam casados, morando sob o mesmo teto e dormindo na mesma cama, mas desde o início de sua adolescência, Nayeon sabia que eles ainda só suportavam um ao outro por conta das aparências e o motivo, ela conhecia muito bem.

Minatozaki Jurina ainda nem havia completado seus 40 anos quando seu marido faleceu. A morte do homem foi notícia por toda a Ásia e, comovida pela história e pelo fato da mulher agora ter uma filha de 11 anos para cuidar sozinha, a mãe de Nayeon entrou em contato com a socialite japonesa e as duas acabaram se tornando amigas.

Até aí, tudo ainda era um conto de fadas na casa dos Im's, mas isso mudou quando receberam uma visita da nova amiga de sua mãe. Jurina era bela, encantadora até, e extremamente sorridente e Nayeon, que ainda estava com seus 12 anos recém completados, não conseguia perceber a maldade da mulher.

Depois da ida de Jurina, foi como se tudo desabasse. Seu pai passou dois meses morando em um quarto de hotel e sua mãe mal saia do quarto, chegando até mesmo a atrasar as gravações do seu novo filme. Nayeon não sabia o motivo e muito mesmo que lado escolher, isso até ela ouvir uma das discussões entre os dois.

Tudo ficou nítido. A culpa era da visita que receberam mais cedo naquele mesmo ano. Nayeon estava com ódio, mas seu sentimento não se restringia a Jurina; ela também odiava seu pai por ter cedido a mulher e culpava a si mesma, por não ter percebido o que acontecia debaixo do seu nariz.