Conversa -Parte II

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Narradora ON:

Infelizmente a garota estava certa, havia algo de errado com Mário...

Se o problema fosse a madrasta dele, que o maltratava constantemente nos últimos anos, talvez ele soubesse reagir melhor, afinal já estava acostumado com o comportamento da mulher...
Mas o problema era outro... Já fazia alguns meses que Nátalia tentava, com muito esforço, ser uma madrasta melhor para o garoto. Essa decisão foi influenciada principalmente pelo fato do Mário ter salvo a pequena Diana, no dia em que ela tomou desinfetante, o que deixou a mulher extremamente envergonhada por não cuidar direito da filha e por tratar tão mal o enteado...

Desde então ela tentava ao máximo ser alguém melhor, por mais que o santo dos dois não batesse. Conversava com o garoto e se empenhava em lhe dar sempre apoio quando ele precisasse. Mas o garoto não conseguia entender essa mudança repentina... O porquê da madrasta estar sendo tão atenciosa e carinhosa com ele... E isso o fazia mal, porque ele ainda guardava muita raiva e ressentimento dela...

Quebra de tempo ------------------------------

Depois de algumas horas o sinal tocou, e Clara finalmente achou sua deixa para falar com o garoto. Por mas que negasse, a idéia de se aproximar dele a deixava com um verdadeiro panapaná de borboletas no estômago. Sem contar a sensação que sentia toda vez que estava perto do Mário... Era um sentimento de conforto, como se pudesse confiar nele de olhos fechados...

Mas antes de falar com ele, a garota decidiu lanchar com suas amigas, afinal tantos cálculos na aula de matemática a tinham deixado morta de fome. No entanto, não demorou muito para que a conversa fosse  direcionada a um assunto específico: garotos!...

- Gente, e o que vocês acham dos garotos da nossa turma? - Valéria perguntou.

- São todos um bando de selvagens! - Maria Joaquina disparou - Menos o Daniel, ele até é legal...

Carmem olhou assutada para a garota, mas logo desviou o olhar. Ela estava apaixonada pelo garoto a alguns anos, mas não encontrará  coragem suficiente para lhe contar isso. O que a consolava era o fato dele não demonstrar nenhum sentimento por nenhuma menina, ou pelo menos era o que ela achava...

- Ei Carmem! - Marcelina perguntou para a amiga que estava distraída em  seus pensamentos - No que você está pensando? No Daniel?!

- Quê?! Não eu estava pensando na prova que a gente fez e... - Carmem respondeu assustada.

- Uma prova que te deixa vermelha e te faz suspirar apaixonada? - Alicia respondeu com seu jeito desconfiado - Aham, sei...

- Você e o Daniel fazem um casal tão bonitinho- Clara cochichou para a  amiga, colocando a mão em seu ombro.

Carmem sorriu com a possibilidade, e logo falou para as colegas em tom de deboche:

- E a Clara e o Mário?! Eu também acho um casal tão lindo...

- É mesmo, eles são tão românticos!- Laura respondeu.

- É Clara, porque você não dá uma chance pro nosso amigo? - Valéria falou colocando mais lenha na fogueira. - Você tinha que ver o jeito que ele te olha...

- Ahh para de viajar, hein Val... - Clara respondeu indignada - Ele me olha do mesmo jeito que olha para qualquer pessoa, ué....

- Aham, sei - A garota respondeu.

- E falando no Ayala - Bibi começou - Vocês viram que ele tá todo quietão hoje?

- Ele deve tá com problemas com a madrasta - Marcelina respondeu, e logo deu um suspiro - Vocês sabem que eles não se dão bem...

- É mesmo... - as garotas cochicharam e permaneceram quietas por alguns segundos, talvez com pena do colega.

Clara levantou rapidamente da roda, disposta a falar com ele, o que deixou as outras colegas extremamente curiosas:

- Ei, onde você vai?

- Vou falar com ele! - Clara respondeu.

- Ahh que bom, finalmente alguém aqui tomou coragem pra falar pro crush que gosta dele... Antes tarde do que nunca, não é Clara? -Valéria disparou, pronunciando a frase num tom mais alto, o que fez alguns alunos olharem curiosos.

- Ahhh vá... né Valéria - Clara disparou, fingindo estar brava.

- Isso é tão, tão romântico! - Laura afirmou suspirando.

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Nota da autora: não sei porque enquanto eu estava escrevendo, essa música me veio na cabeça, como se fosse a "trilha sonora" da cena dos dois.

Mário estava sentado no último degrau da arquibancada, isolado do resto dos colegas. Estava tão perdido em seus pensamentos que nem notou a garota que se aproximava, balançando levemente a saia amarela do uniforme.

A garota se aproximava lentamente, como se cada passo fosse um sinal para ela desistir da idéia. Mas ela estava determinada a ajudar o amigo, ou pelo menos aliviar um pouco a sua tristeza, afinal ela se considerava uma boa ouvinte...

- Oi Mário! - A garota finalmente tomou coragem para falar.

O garoto rapidamente enxugou as lágrimas, e com uma leve umidade debaixo dos olhos, respondeu:

- Oi Clara...- os dois ficaram quietos por um tempo...

- Eh, eu q-queria te perguntar uma coisa... - A menina começou a falar, gaguejando e tropeçando nas palavras.

- Pode perguntar sim... - Mário respondeu lhe dando permissão. Ele estava tentando ser o mais educado possível com a garota, por mais que não estivesse muito bem naquele momento...

- Tá tudo... bem? - Clara perguntou tentando ser o mais direta possível.

[Continua...]

Meu Primeiro AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora