Um desabafo que não saiu como o esperado

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O garoto olhou constrangido para Clara, por causa da situação. Ele não queria que ninguém, e muito menos ela percebesse o quão triste ele estava.

- Não, é... Tá tudo bem sim... - Ele respondeu com a cabeça baixa, para que ela não notasse a umidade em seu rosto.

A menina se inclinou mas para perto dele, e com os olhos fixos em seu rosto, lhe respondeu com um sorriso:

- Mário, você não precisa ser forte perto de mim... Me conta o que tá acontecendo pra que eu possa te ajudar!

Mário olhou para a garota, já que não adiantava esconder nada dela... Talvez não fosse tão ruim desabafar com alguém que realmente parecia preocupado com ele...

- É que eu tô com alguns problemas em casa, com a minha madrasta...

Clara olhou para ele com ternura, mas estava realmente perdida com as feições do garoto. Aqueles olhos castanhos e o cabelo moreno emoldurando seu rosto... Sem falar do sorriso, que era o ponto fraco da garota. Aquele sorriso de canto de boca, acompanhado com o seu olhar sedutor... fazia com que os compassos de seu coração disparassem. "Peraí Clara, volta pra realidade... Mas que ele é bonito..."- A garota pensou consigo mesma.

Nota da autora: eu sei Clara, eu te entendo rsrs...

- Eu sei bem o que é ter problemas em casa... - Clara respondeu com desânimo, se lembrando dos próprios problemas. - Mas o que foi, a sua madrasta continua te tratando mal?

- Antes fosse isso... - Mário lhe respondeu enxugando as lágrimas. - Mas agora as coisas estão tão diferentes, sabe... É tão estranho ver que alguém que te odiava e te tratava mal, de um dia pro outro mudar e começar a te tratar bem... Ou até mesmo, ocupar o lugar que é da sua mãe... - O garoto apertava as mãos contra o peito, como se pudesse canalizar toda a sua raiva naquele gesto.

Os dois ficaram quietos por algum tempo; ele se lembrando da sua dor, e ela procurando palavras para confortar o amigo.

- É Mário, é uma situação realmente complicada... - A garota finalmente respondeu, colocando mão no ombro do colega em sinal de solidariedade.

Mário olhou para a colega com tristeza, mas o toque fez com que um sentimento até então adormecido "acordasse"...

"Para de viajar Mário, não é que a garota tá preocupada com você que você tem que gostar dela... afinal um menino e uma menina também podem ser bons amigos, não é?"- O garoto pensou.

- Mas sabe Mário... você não pode... - Clara fez uma pausa, como se procurasse as palavras certas para expressar o que queria dizer. - Se culpar pelo o que outras pessoas fizeram e... na maioria das vezes o único caminho para se libertar dessa dor é o perdão...

- Ahh não Clara, essa história de perdão de novo não... - Mário respondeu bravo.

- Calma, deixa eu terminar de falar... - A garota lhe respondeu com calma.- Mário, Deus coloca as pessoas na nossa vida por algum motivo... As vezes é pra nos trazer alegria, nos trazer momentos bons... Mas às vezes, elas estão aqui para que nós possamos evoluir, aprender com os erros delas pra que a gente possa se tornar uma pessoa melhor...

De todas as respostas possíveis, essa era, para o garoto, a mais absurda que ele já havia ouvido.

- Quê? Quer dizer que eu tenho que aprender com a Natália a ser a alguém melhor, sendo que o problema é ela?! - Mário disparou cruzando os braços.

- Mário, não foi isso que eu quis dizer! - O tom de voz da garota agora era firme e indignado, e ela estava agora com a paciência por um triz - Eu tô te falando que não dá pra passar a vida inteira assim, sofrendo por causa de alguém que tem magoou, porque ficar relembrando o passado só te faz mal... Vai chegar uma hora que você vai ter que olhar pra frente, e perdoar... Você vai ter que entender que a Natália tá na sua vida por algum motivo, quer você queira ou não... E não adianta ficar aí triste, porque nada vai mudar isso... Mário, pensa na sua mãe... O amor que ela tem por você é infinito, e de onde ela está, ela tá te protegendo e desejando a cada momento que você seja feliz, que você consiga aceitar a sua realidade e que pare de sofrer com a partida dela!...

- Clara, você realmente não sabe nada sobre o que é sofrer ou sobre ser rejeitado!- Mário respondeu furioso.
- Você é só mais uma garota com uma vida perfeita que se vê no direito de julgar os outros. - O garoto completou revirando os olhos, mas mal ele sabia das dores que o pobre coração a sua frente guardava.

A garota olhou enfurecida para o moleque a sua frente, se levantou e lhe respondeu com raiva:

- Mário Ayala, como você se acha no direito de falar assim comigo! Você nem ao menos me conhece... Quer saber, eu não vou mais me desgastar ou me importar com alguém tão primitivo e tão estúpido como você! - A garota saiu esbravejando do local, mas mesmo sendo alguém com a personalidade tão forte, não pode evitar que a situação e o seu acesso de raiva a fizessem derramar algumas lágrimas...

O garoto continuou sentado, sem entender nada. E ele, que sempre tinha a resposta na ponta da língua, não achou um argumento para se defender da colega. Ele pudia a xingar, mas como ela era tão diferente e tão intensa, não pode achar palavras para a magoar da mesma forma que ela o magoou...

"Primitivo e estúpido" - Mário relembrava com raiva a fala da garota em sua mente.
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Enquanto isso, a menina enfurecida já havia chegado a rodinha onde suas colegas estavam. Curiosas, as garotas que haviam acompanhado toda a cena de longe, logo lhe perguntaram o que havia sido aquilo:

- Eu nunca mais vou me importar com alguém tão estúpido como o Mário Ayala!- A garota respondeu secando as lágrimas com as mãos.

Continua [...]


Meu Primeiro AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora