Prólogo

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Verão de 1980

Theresa Anne Potter estava sentada em sua cama cor de rosa, escutando sem chegar a entender as palavras de seu irmão, que apressado, arrumava suas roupas em um malão. A menina de apenas dez anos balançava as pernas penduradas, enquanto sua cunhada, Lilian, desatava a discursar com o marido e um velho de barba comprida e grisalha, olhos azuis bondosos por trás dos óculos meia-lua.

― Ela não precisa ir! Nós podemos cuidar dela e protege-la perfeitamente bem! – Lily gritava, agitada.

― Entenda, Lily, isso é para o bem dela. – o velho respondia, sem se alterar.

― Mandá-la para longe de sua família é cuidar de seu bem?!

― Vocês estão em perigo, Voldemort quer mata-los.

― E por isso precisamos continuar juntos. – Lily se irritou, virou-se para o marido e puxou seu braço, interrompendo seus movimentos frenéticos. James olhou para a esposa com dor – James, não faça isso. O lugar da Tessa é conosco, esqueça essa bobagem.

― Como posso esquecer, Lírio? Tessa está em perigo!

― Nós todos estamos em perigo!

― Por isso eu estou dizendo...

― Ora, cale-se! – Lily olhou para o velho com rispidez, e voltou a olhar para James, segurando sua mão – Nós todos estamos em perigo, por acaso pretende mandar o Harry para longe?

― Não, é claro que não. O lugar dele é conosco!

― O da Tessa também!

Tessa apertou a barra da cama, inquieta. O que isso significava?

― Lírio, por favor – James segurou o rosto da esposa com fervor – Eu prometi aos meus pais que cuidaria dela, que a protegeria, que faria tudo por ela.

― Por isso devemos mantê-la conosco!

― Não, Lily! É o contrário! Eu deveria ter feito isso muito antes! Eu não posso arrastá-la para essa loucura! Não posso arriscá-la por minha culpa!

― Não é sua culpa...

― Eu me envolvi na Ordem, eu deixei que tudo isso continuasse, e agora eu devo fazer o que for possível para deixa-la segura.

― James... a Tessa é sua irmã... é parte de nossa família, não podemos separar nossa família.

― E quando tudo isso acabar, quando estivermos seguros, ficará tudo bem. Mas eu não posso, não posso deixa-la aqui correndo esse perigo. Eu jurei a eles, é meu dever Lily! Eu preciso que me apoie nisso.

A garota assistiu a ruiva ceder, balançando a cabeça, sem mais nada a dizer; assistiu James fechar seu malão, apanhar sua vassoura, que fora seu presente de aniversário naquele ano, e foi até ela, ajoelhando-se na sua frente. Lágrimas brilhavam por trás dos óculos redondos de James, e o irmão segurou sua mão, enquanto Lily ia para trás dela e trançava seus fios dourados.

― Escute-me Leãozinho. O prof. Dumbledore e Sirius levarão você para um lugar seguro, será por pouco tempo, até que essa guerra acabe, eu juro.

― Jay... eu não estou entendendo...

― Uma vez por semana mandará suas cartas a mim, mas pode escrever todos os dias e ir guardando, está bem?

― Porque está me mandando embora? Eu não quero ir, quero ficar aqui, com vocês, com o Harry, eu sou a madrinha dele, não é? Posso cuidar dele!

James se calou, com um soluço alto, apoiou a testa em suas mãos, apertando-as com força.

― Tessie – Lily chamou, sem terminar o trançado – você logo voltará para ficar com o Harry, mas agora precisa ser corajosa, entende? Todos estamos lutando, e você é uma leoa, você precisa ser corajosa e esperar por nós.

― É para o seu bem, andorinha. – James tornou a falar, beijando sua mão.

― Você não está me abandonando?

James sacudiu a cabeça, os fios desgrenhados e rebeldes se movendo com ele.

― Você confia em mim?

― Sim.

― Eu prometo, que no momento em que essa guerra terminar, eu irei te buscar. Confia em mim?

― Sim.

― Então seja uma menina corajosa, e obedeça ao prof. Dumbledore em tudo, está ouvindo?

Tessa acenou em concordância; ela mal sentiu seu corpo ser levantado, ela não viu o momento em que Lily cobriu seu corpo com a capa grossa. Em um piscar de olhos ela era esmagada em um abraço pelo irmão e pela cunhada, e em outro piscar os dois haviam se afastado. O casal carregou a menina ainda alheia pela escada, e ao atravessar a porta, ela se lembrou de que precisava se despedir de Harry, mas nada saiu de sua boca.

Sirius estava ali, encostado na sua moto, parecendo sentir tanta dor quando o irmão dela. Sem nada dizer, ele ajudou o melhor amigo a colocar suas bagagens no sidecar, e por fim, ajudou-a a montar nele, com todo carinho e cuidado do mundo, como se ela não passasse de uma pedra preciosa, e pudesse quebrar com o mínimo movimento brusco. Antes de subir na moto, ele beijou sua testa, os olhos cinzentos a sondando.

― Você está bem, Bela? – Tessa sacudiu a cabeça repetidamente em negação e Sirius sorriu – Você vai ficar, acredite em mim.

Tessa não respondeu, e quando o garoto rebelde montou a moto ao lado dela, o olhar da menina estava em sua família, no bebê chorão nos braços de Lilian, nas lágrimas silenciosas que escorriam pelo rosto dessa, na expressão resignada de James, enquanto esse acenava repetidamente; e por fim, ela percebeu um olhar de pena por parte do velho, um olhar de quem sabia mais do que havia dito.

Quando ela menos esperou, Sirius acelerou a moto, que subiu ao céu rapidamente.

Com um último esforço, a menina se virou e gritou para o irmão:

― Não me abandona, ta bem?

― Ta bem.

As palavras de James se perderam no ar, levadas pelo destino, como sua promessa.

James não voltou para busca-la. Nunca voltaria. 

Huntress - A História de Tessa PotterOnde histórias criam vida. Descubra agora