O Vale da Angústia

A Chegada ao Vale

Aconselho que lêem, ouvindo essa música:

Sinto sua falta, mas continuo andando sozinha, nesse vale repleto de sombras.
Não consigo mais sair daqui. Tenho medo.. aqui é tenebroso e frio..
Sinto que meus pés se atolaram numa espécie de lama/gosma. É gelada, e fica me puxando cada vez mais para baixo.
Parece ser fundo.. não consigo sair daqui ...
Não importa o quanto eu grite e peça por socorro, eu continuo afundando, cada vez mais.

Não consigo sair daqui!!

Está frio e continua sendo escuro, vou afundando lentamente.
Eu não aguento mais essa tortura, já estou sem voz de tanto gritar, mas meu instinto de sobrevivência me mantém viva.
Eu não aguento mais!!
Talvez se eu desistir e aceitar minha morte, isso acabe mais rápido, mas por algum motivo me mantenho viva e lutando.
Sinto algo muito pesado como pesos de ferro caindo sobre mim, enquanto me afundo, está doendo muito, mas isso me faz afundar mais rápido.
Por que ninguém me ajuda? Por que ninguém vem me resgatar? Já estou exausta de tanto lutar e gritar.
Sinto o meu corpo se deixando cair lentamente.
Acho que é o fim.
Sinto muito por ainda estar aqui.

Enquanto afundava eu ouvia gritos..
Mas não eram gritos comuns, eram gritos de raiva, de sofrimento/angústia. Esses gritos me davam arrepios.
Conforme eu ouvia reparei que os tão famosos gritos vinham das sombras.
E olhando bem acabei por reparar, que as sombras não eram apenas isto, mas também pareciam ser pessoas, das quais eu conhecia. As que gritavam de raiva nomeie de "Maman" "Sorella" "Patrigno " "Nonno" e "Nonna". Todas pareciam gritar comigo, mas uma delas me era bem interessante, pois ela não gritava só comigo mas também com a "Maman". Eles pareciam discutir e da "boca" deles só saia "discursos de ódio". Aquilo por algum motivo me deixava bem mal, a ponto de me fazer chorar.
Eles só gritavam e gritavam, discursando ódio, um para o outro.
Resolvi prestar atenção no contexto da "conversa", e percebi que o motivo da briga, era justo eu..

-Por que ela está aqui em? - Perguntou a "mulher" já sem paciência.
-Como é que eu vou saber? - Respondeu Patrigno.
- Ela não deveria estar aqui. Isso é sua culpa, olha como ela está, olha estado dela, foi você que trouxe ela aqui né? - Exclamou a "mulher", já alterada.
-Isso é culpa minha? Culpa sua, ela deveria ser sua responsabilidade. Eu não trouxe ninguém aqui! - Bravejou o "homem" fora de si.
-Não é possível, você só faz essas coisas pra me irritar!!

- Isso tudo está me enlouquecendo..   AAAAAAAAAAAAAAAAHHH

Era muito coisa pra minha mente, e isso só me deixava mais tensa e agitada. E quanto mais agitada mais eu afundava. Enquanto isso os outros gritos só pioravam..
- O que você está fazendo aqui?? Era pra você estar estudando, pra ser alguém na vida. Como você quer ser alguém assim?? Só vive largada fazendo nada. VAI ESTUDAR.
VAI FAZER SEU DEVER, ASSISTIR SUA AULA, SEI LÁ. - Disse Nonna, sumindo em meio às trevas sem dar a mínima.

- E você continua aqui?? Por que você não está estudando? Deixa eu te perguntar você está estudando inglês? Não né? Sabia, VOCÊ NÃO FAZ NADA. NÃO É ATOA QUE LARGOU O CURSO, NÃO CONSEGUIU FAZER, NADA QUE VOCÊ COMEÇA, TERMINA. VOCÊ NÃO CONSEGUE FAZER NADA DIREITO. EU DIGO PRA ESTUDAR, MAS NÃO ME OUVE. Continua assim pra ver o que você irá se tornar. - Termina Nonno, com uma cara de desgosto, logo em seguida desaparece também em meio a escuridão.

Doía tanto saber que eles estavam certos, suas palavras me acertavam como facas bem afiadas. E enquanto isso mais coisas pesadas caiam sobre mim.
Havia outro grito de raiva lá, e era a "Sorella".
E o motivo dela estar furiosa também era eu..
Mas.. Eu estava fazendo algo para irritá-la? Eu acho que não..
- O que eu te fiz, pra estar tão brava comigo?
- Você nasceu criatura, sua existência me irrita!! Sua respiração me irrita!! VOCÊ me irrita!! O simples fato de você estar respirando me irrita!!
Aí ó que é isso que você está vestindo? Meu Deus que roupa feia, fala sério você não sabe nem se vestir. Que desgosto. - Fala me olhando com uma cara totalmente desgostosa.

-Por favor não fala assim, isso dói. Me ajude a sair daqui por favor, eu te imploro. - falo em meio a total desespero.

- Só te ajudo quando você morrer e nascer de novo, com uma cara e uma roupa bonita, hahaha. - diz ela em meio a gargalhadas. Aos poucos vejo-a se distanciando, até que a perco de vista.

Novamente a cada palavra sentia como se estivesse alguém me esfaqueado. Nossa como isso doí!!
Tinha uma sombra que gritava de dor/sofrimento, ela gritava por ajuda, por socorro também, isso me deixava mal. Eu não podia fazer nada por ela, eu não conseguia nem me ajudar. Ela parecia estar com dor, e também parecia fraca, não importa o que faça, eu não consigo ajudá-la, não consigo parar sua dor, seu sofrimento.
ESTOU AFUNDANDO MAIS RÁPIDO!!
Me sinto mal, me sinto culpada, por não conseguir ajudar. Não importa o quanto eu reze, o quanto eu ore, o quanto eu peça pros deuses, para que ela se recupere, nada adianta.
A sombra que gritava por dor e sofrimento, a nomeei de "Zia".
Após um tempo, tentando me estabilizar, e recuperar meu fôlego, ouço alguém, tentando falar algo. Procuro rapidamente com o olhar tentando identificar, de onde vinha aquela voz. Até que meus olhos se encontram com o de Zia, e percebi que é ela que está tentando falar algo. Ela parecia estar desesperada, acho que ela estava tentando pedir ajuda, mesmo que eu não consiga entender o que ela tentava dizer, dava pra ver em seus olhos, que demonstravam sofrimento e angústia, e que de uma certa forma, me clamavam por socorro.
Sinto sua voz ficar cada vez mais baixa. Até que não ouço mais ela. Arrepios percorrem pela minha espinha, e sinto um vazio enorme dentro de mim. De sua sombra se fez luz, e subindo aos "céus"  desapareceu... Era como se uma parte de mim, tivesse sido arrancada.
E por um momento o local voltou a ser um completo silêncio. Me sinto tão pesada...
Começo a sentir que aos poucos vou ficando sem ar, lágrimas derramavam de meus olhos me sufocando cada vez mais.
Com o pouco ar que me sobrava, juntei minhas forças e simplesmente falei o mais alto que pude :

-Sinto muito por não ter conseguido te ajudar. Por não ter conseguido aliviar pelo menos um pouco da sua dor. Sou fraca demais!! Fui incapaz de te ajudar, por favor me perdoe..

E por fim, antes de cair de vez já quase sem ar, susurrei :

-Me desculpe...

Já desacordada, acabo por me afundar completamente naquela gosma.
É parece que esse é o fim, me desculpem realmente por tudo. Aqueles que me consideravam um fardo/peso, me desculpem por ter simplesmente existido. E aqueles que por algum motivo gostavam de mim..
me desculpem por partir.

Continua??