Capitulo I - O Raio, A Curandeira e O Viajante do Tempo

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Harold é um rapaz que nunca se importou com nada do que seu pai havia conquistado. Nunca entendeu as questões sobre liderar o mundo, e nem mesmo quis entender. Para ele as pessoas não precisavam de lideres, elas precisavam de umas as outras, apenas isso já bastava para que elas encontrassem a "Luz", como seu pai dizia.
Com o exílio passou a viver como um andarilho e carregava consigo uma pequena mochila, sempre com o minimo possível de coisas, para o caso de ladrões assaltarem-o, ele não perderia muita coisa. Mas ladrões jamais tentaram assaltar ele, ainda mais hoje em dia, com 32 anos e seus poderes mais afiados que nunca.
Diferente de seu pai e sua mãe, que controlavam a água, Harold era capaz de gerar eletricidade, e também havia aprendido a voar com as correntes de ar, com isso ele viajava, mas nunca sabia onde ia parar, volta e meia isso fazia com que ele caísse na grande cidade central, mas com a mesma velocidade que chegara, ia embora, para evitar problemas com guardas. Bastava-lhe apenas subir em um prédio alto, esperar alguns instantes, e ao sentir a primeira brisa de vento ele já sabia o que tinha que fazer. Para que lado teria que virar o corpo, se teria que dar um grande rasante, para depois subir aos céus e ver as pessoas como pequenas formigas, ou se pegaria uma corrente de ar quente, que lhe faria subir rapidamente. Mas para ele a melhor sensação que havia era a sensação desta primeira brisa batendo em seu rosto. Para ele nenhuma sensação era melhor que está, nem mesmo o calor de uma mulher era melhor que isto.

Muitas mudanças ocorreram desde que os Zings foram embora, muitos locais que um dia já foram cidades não passavam de ruínas. Ruínas que Harold, adorava visitar. Lá ele encontrava os mais diferentes dispositivos. Quando queria se aventurar um pouco mais ousava visitar as milenares cidades subterrâneas, algumas poucas ainda eram habitadas por famílias Zings, outras por famílias Malings, e todos os outros que não concordaram com o que havia ocorrido a praticamente 5 seculos atrás. Mas ele não procurava por estes lugares. Ele procurava por pelas cidades desertas, as que realmente foram esquecidas e abandonadas. Largadas para traz como uma roupa que não lhe serve mais. Os artefatos que achava quando visitava esse lugares, eram coisa incríveis! Foi em uma dessas cidades que encontrou artefato mais importante. Um pequeno dispositivo, que era capaz de reproduzir música. Mas não as músicas chatas de seu tempo, músicas dos mais variados tipos. Mas a que mais lhe agradava era uma que se chamava "Rock". Ele gostava por dois motivos, um porque era engraçado um estilo musical com o nome de pedra e outro por causa do ritimo das músicas, que variavam de tons mais melódicos para tons mais pesados. Normalmente Harold não entendia nada que estava sendo cantado, pois era de um dialeto muito antigo, já esquecido pelos habitantes da terra. Graças aos Zings, a terra possuía uma única língua, que foi algo que ajudou a unificar os povos.

Em dia de Sol, Harold estava voando quando sentiu a alteração no ar. Sentiu a tempestade se aproximando, e sabia que isso não era bom, pois por mais que ele absorvesse os raios que o acertassem, as correntes de ar iriam arremessá-lo para longe, mas também, estava alto de mais para tentar descer gradualmente ao chão. Sem opções, entrou no meio do turbilhão de correntes que o arremessavam de um lado para o outro. A água era tanta que os poucos momentos que conseguia abrir os olhos, não enxergava nada. Ate que quando estava no meio da tempestade, uma pedra de gelo do tamanho de uma bola de golf, o acertou em cheio na cabeça. Ele desmaiou e caiu em queda livre, com a mesma velocidade que a bola de gelo havia se espatifado em sua cabeça. No meio do processo da queda recobrou parcialmente sua consciência, sabia o que estava acontecendo, mas não conseguia se movimentar. Pode ver que já estava próximo ao solo, e que ira cair em uma cidade em ruínas. O estrago nas ruínas foi grande, mas não foi tão grande quanto a dor que Harold sentiu. Naquele momento ele desejou ser um Maling com poderes de cura, ou que ao menos uma Maling com poderes de cura o encontrasse, pois no estado que ele estava mesmo com assistência medica talvez nunca se recuperasse.

Enquanto ainda estava no chão tentou se movimentar, e sentiu a dor vinda de suas costelas. Era certo que algumas estavam quebradas. Mais uma tentativa, dessa vez sentiu uma nova dor, algo em sua perna, conseguiu virar um pouco o pescoço para ver um enorme pedaço de metal que transpassava sua coxa. O fato de ter visto o ferimento da perna o fez sentir mais dor ainda. Naquele exato momento percebeu que não conseguiria sair dessas ruínas tão cedo. Procurou um lugar para que pudesse escorar suas costas e ver se carregava algum medicamento em sua mochila. Ainda chovia muito, e com suas roupas encharcadas, sentia muito frio. Precisava de alguma maneira, fazer fogo. Achou um velho livro, que havia pegado em uma das ruínas que havia visitado outro dia. Agora era hora de torcer para que as faiscas de seu estalar de dedos, conseguissem incendiar aquele papel seco. Depois de dez minutos de varias dolorosas tentativas, enfim o livro virara uma pequena fogueira mas que não iria durar muito. Em menos de uma hora, aquele livro viraria cinzas, e ele não tinha nenhum outro combustível para manter aquele fogo aceso. E enquanto olhava para aquela chama que tremulava, pensou em tudo que ele já havia feito, e um vazio muito grande bateu em sua alma, pois percebeu que não havia feito nada ao longo de sua vida. Não passava de uma sombra no mundo, e que nem mesmo seus pais se importavam com ele, pois sabiam o filho que haviam colocado no mundo e sabiam que ele não faria nada alem de trazer vergonha, decepção e tristeza para eles. Seu coração que batia rápido por causa da dor e da adrenalina da queda, começou a bater lentamente. Numa batida quase que fúnebre, como se ele soubesse que não havia saída, como se ele soubessem que aquele era seu fim. Que ali pereceria, e que ali ficaria. Que ninguém notaria sua falta, nem mesmo as pessoas que deveriam ser as mais importantes na vida de qualquer um, os pais.
Depois de horas de chuva incessante, a chuva passou. E quando ela passou Harold exausto, não consegui manter seus olhos abertos, precisava descansar. E então como uma criança que havia brincado o dia inteiro, ele dormiu. Sentado. Talvez até mesmo esperando que a morte o convidasse para um chá no outro mundo. Em seus últimos momentos, antes de desmaiar, virou sua cabeça para a direita e viu algo refletido no sol, parecia algo metálico, mas ele não tinha como descobrir ou confabular o que era aqui, e se aquilo era algo do passado ou algo atual, ou se era algo apenas da sua cabeça devido aos ferimentos. Fechou seus olhos lentamente e uma pequena e única lagrima escorreu de seu rosto, e pensou que nunca pediu perdão a seu pai e sua mãe. E então dormiu.

O Raiar da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora