- Karim Narrando -
Eu já estava correndo na esteira há 15 minutos e por estar na velocidade máxima sentia as minhas pernas queimando mas não iria parar agora. Senti o suor escorrer pelo meu rosto e o Marcelo se encostou ao meu lado.
- Sabe a Luna? - falou e eu fiquei em silêncio já que sabia que ele continuaria falando - A dona do melhor pão de queijo - completou e eu fiz sinal de positivo com a mão - Ela está internada - finalizou e eu quase caí da esteira
- Ela o quê? - perguntei alto e senti o meu pulmão pedir socorro, parei de correr aos poucos e olhei pra ele - Não é legal brincar com a saúde dos outros, bro - falei ofegante e tentei controlar a respiração
- Jamais faria isso - falou simples e peguei a toalha que estava pendurada na esteira
- E de onde você tirou isso? - perguntei sério
- Ficou dias fechados, né? - falou e eu assenti - Hoje a Clarice passou lá com as crianças e a funcionária contou
- É grave? - passei a toalha no rosto e pendurei no pescoço
- Não sei - deu uma pausa - Mandamos um buquê de flores para o hospital, Clarice disse que não seria de bom tom ir
- É, não seria - concordei - E descobriu o endereço como?
- A funcionária passou - contou - Por que?
- Queria enviar um buquê - falei olhado pra ele - Ela sempre foi muito simpática
- Te mando por mensagem - falou e chamaram ele
- Vai lá - falei e ele se afastou
A Clarice poderia até achar que não era de bom tom, e poderia não ser mesmo, mas eu resolvi visita-la no hospital, vivia conversando com a garota e não posso fazer uma visita? Não fazia sentindo para mim. Para minha sorte quando cheguei no hospital estava vazio e o boné junto com os óculos me ajudaram, passei as informações que o Marcelo me deu e a recepcionista me liberou. Fui até o quarto indicado e abri a porta com cuidado, ela estava deitada de olhos fechados e me surpreendi em quão abatida ela está.
- Oi - falei baixo e como estava um silêncio no quarto ela abriu os olhos
- Karim? - falou assustada - O que está fazendo aqui?
- Vim te visitar - falei óbvio e fechei a porta
- Por que? - perguntou confusa e apertou o botão da maca, na hora a mesma ficou em uma posição que ela ficasse sentada
- Por que sim - me sentei na poltrona - Está sozinha?
- Meu pai foi resolver algumas coisas e a minha mãe deixar o meu irmão na escola - falou baixo
- Você está inchada - observei o rosto dela e ela riu fraco - O que você tem, Luna?
- Nefrite lúpica - falou e eu realmente não entendi
- Eu não sei o que é - falei sem graça
- É uma infecção nos rins causada pelo lúpus - falou e eu fiquei surpreso, não conhecia a fundo a doença mas eu sabia que era grave
- Lúpus? - falei surpreso - Por que você tem isso?
- Fui sorteada - falou me olhando - O meu sistema imunológico achou que seria bacana me atacar
- Entendi - falei pensativo - Tem muito tempo?
- Da doença? - perguntou e eu assenti - Descobri aos 13
- Sinto muito - falei baixo e ela sorriu de lado - Agora como você está?
- Primeira crise após 3 anos - contou pensativa - E eu estou iniciando uma nova medicação
- Nada bom, né? - falei e ela passou a mão no rosto
- Nem um pouco - falou e escutamos uma batida na porta e em seguida uma enfermeira entrou
- Eu posso saber o que essa água está fazendo aqui? - perguntou de repente e quando eu olhei na bandeja que estava na cômoda ao lado da maca tinham um monte de copos de plástico cheios de água
- Eu não consegui beber - Luna falou baixo - Ela não desce
- Sabe o que acontece se não conseguir beber, né? - falou e a Luna ficou quieta - Quer parar na máquina de hemodiálise?
- Não, eu não quero - Luna suspirou
- Então bebe - falou séria - É pra beber tudo
- Ei, também não precisa falar assim - falei sério e na hora elas me olharam - Ela sabe que tem que beber e vai conseguir, mas não fale assim com ela - terminei de falar e me levantei pegando os copos
- Karim - Luna tentou falar mas eu não deixei
- A senhorita pode trazer uma água gelada? Essa não dá mais - falei olhando pra ela
- Já trago - falou e saiu do quarto, fui até o banheiro e joguei a água na pia
- Em minutos aqui você já arrumou inimigo - falou assim que eu saí do banheiro
- Ela não deveria ter falado daquela forma - falei e deixei os copos na bandeja
- Não foi por mal - falou calma
- Mesmo assim - falei e entraram no quarto, era uma outra mulher e com uma jarra
- Licença - deixou a jarra na cômoda e saiu sem falar nada m, enchi um copo e estendi a mão na direção dela
- Não vai descer - falou pegando o copo
- Cada copo que você beber eu prometo responder uma pergunta sua - sugeri e ela me olhou curiosa
- Entrevista? - brincou e eu me sentei
- Sim, uma entrevista diferente - falei e ela riu baixo
- Já sei o que perguntar - falou de repente
- Não, primeiro você bebe e só depois eu respondo a sua pergunta - falei explicando
- Tá bom - respirou fundo e bebeu um pouco
- Então você tem irmão? - falei e ela sorriu
- Pedro - falou sorrindo - Ele tem 12 anos, ao mesmo tempo que é chato é a criança mais fofa do mundo
- O menino que estava com você e a sua amiga lá no estádio? - perguntei e ela confirmou dando um gole
- Meu grude - falou e eu sorri de lado
- Gosta de crianças então - falei e ela deu de ombros
- Gosto do meu irmão - falou e eu fiquei confuso
- Ué - levantei a sobrancelha - Gosta ou não?
- Não convivo com outras além dele - tentou explicar e eu assenti - Acho que não sei nem lidar
- Você faz doces - falei e ela assentiu - Toda criança ama
- Já tem algo pra subornar as crianças por aí - falou e eu ri baixo
- Bebe vai - pedi
- Calma - falou e terminei de beber, peguei o copo e enchi novamente - O gol foi pra mim mesmo?
- Eu não falei que foi? - retruquei
- Falar é fácil - falou dando de ombros
- Foi pra você - falei sincero
- Obrigada - sorriu levantando o copo na minha direção