Prólogo

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Fim dos anos 90...

Meu coração retumbava no peito, ao som da minha canção da vida, "Se não for amor, é paixão", cantada por minha banda favorita, Los Feromônios!

"Se não for amor... é paixão, então não me deixe sozinho na escuridão... sem você não sou ninguém, venha acabar com meu sofrimento, meu bem..."

Eles são simplesmente a banda pop rock mais badalada do país e sou louquinha por eles, principalmente o vocalista, Roger Di Ferroni, ai ele é tão lindo, tem uma voz tão maravilhosa que fico derretida só de ouvir, seus cabelos cacheados, negros, caem sobre seus ombros e seus olhos castanhos são tão sedutores que sonho acordada com eles.

Estamos no maior estádio da cidade, com nossas camisas da banda, bandanas e rostos pintados por batom! 

O show está lotado, mas pegamos um lugar privilegiado, graças a mim, a mais apaixonada do trio de amigas. Dormi por três dias na fila e entramos entre os cinquenta primeiros e isso significa que ainda vamos participar do sorteio que permite uma fã, visitar o camarim de um dos quatro integrantes da banda.

Foi uma luta convencer minha mãe a dormir na fila, eu já sou maior de idade, porém somos parceiras e para estar aqui no melhor dia da minha vida, vai me custar um ano inteiro ajudando-a na lanchonete da família, o Lilia's Burguer, depois das aulas na faculdade.

— Amiga, nem acredito que estamos aqui e tão pertinho! — gritou minha amiga Jane, ela estava vermelha de tanto gritar ao som da música.

— É, eu muito menos, vocês não estão com calor não? — Cláudia em seu tom sério, ela gostava da banda também, no entanto, era meio chata com aglomerações e sons altos.

— Eu só estou sentindo o amor! — declarei e voltei a cantarolar junto com Roger e o estádio inteiro.

Quando terminou a música, Roger anunciou o sorteio.

— E aí, vocês estão preparadas? — gritou e o estádio praticamente veio abaixo — eu não ouvi direito, vocês estão preparadas? — provocou a multidão novamente e gritamos com todo nosso fôlego — então, vou contar a surpresa que meus companheiros e eu preparamos para vocês — quando ele terminou mais gritos histéricos e animados ecoaram — vamos sortear quatro de vocês, cada uma vai a um camarim e a primeira vai para o camarim do nosso guitarrista, Andrezinho Tostão! — segurei firme meu número dezessete, eu amava todos os integrantes, mas queria o Roger — e o número é... quarenta e nove! — ele gritou animado e ouviu-se uma histeria ao longe e assim foi até chegar sua vez — segure seu número, agora é para o meu camarim... — falou de maneira sedutora e mais gritaria do público — e o número é... dezessete! — falou finalmente, levei meio segundo para compreender que eu segurava o bendito número.

— Aqui! É meu, eu ganhei! — comecei a saltar e gritar com os meus pulmões explodindo. Minhas amigas me abraçaram.

— As sorteadas, por favor, venham até a coxia e você sortuda, — ele olhou em minha direção, não podia me ver, pois mesmo em lugar privilegiado, estava longe do palco, mas ele nos localizou na multidão — claro, saltando como eu estava, até minha mãe me veria de casa, — nos veremos em dez minutos! Muito obrigado galera, vocês são as melhores do mundo, amamos vocês!

O estádio veio abaixo novamente, minhas amigas me acompanharam. Fui até a coxia e um cara imenso veio até nós.

— Número dezessete? — perguntou com uma voz grave e séria.

— Sim! Sou eu — respondi emocionada.

— Vem comigo, suas amigas podem esperar aqui — nos encaminhou pela multidão, várias meninas morrendo de inveja nos cercaram, porém o senhor músculos as impediu de se aproximar.

— Amiga, que emoção, agarre ele por mim, hein! — Jane me sacudiu.

— Tome, tire uma foto ao menos, não é sempre que essas coisas acontecem — até Claudinha ficou animada — só não perde essa câmera, Drica, é da minha irmã e temos que revelar esse filme.

— Pode deixar! — acompanhei o grandão, eu e as outras três meninas. Cada uma foi direcionada ao respectivo camarim, quando cheguei na porta que estava identificada como Lar do Roger, tirei uma foto e bati.

— Pode entrar — aquela voz grave soou lá dentro, eu tremia, minhas mãos suavam e meu coração saltava. 

Entrei e me deparei com aquele deus grego da música sentado com seu violão nas mãos e sorrindo de um jeito que derrete qualquer pessoa — oi linda! — ele me chamou de linda?! Ai meu Deus! Ele levantou e me joguei em seus braços, Roger era forte na medida certa, seu perfume fresco, lembrava o oceano — Como se chama?

— Adriana — respondi entre lágrimas.

— Ah, que isso, não chore! Sou apenas eu, o Roger. Um cara comum que curte música. Vem, sente-se, Adriana, vamos cantar sua canção favorita primeiro.

Fiz o que pediu e começamos a cantar "Se não for amor, é paixão". Estar aqui, cara a cara com meu ídolo foi a melhor experiência da minha vida, depois de cantar, tirei fotos com ele, o abracei mais, conversamos um pouco, ele me contou que perdeu os pais cedo e tem um irmão mais novo, Rodrigo, ambos moram com os avós paternos, fiquei mais apaixonada ao ver o quanto ele amava sua família. Roger também perguntou como era a minha, contei que moro com minha mãe, meu pai sumiu no mundo assim que descobriu que ela estava grávida, também falei sobre o negócio da família e ele disse que qualquer dia comeria em nossa lanchonete. Depois de quase uma hora bateram à porta.

— Roger, temos que ir... cinco minutos! — disse a voz masculina do outro lado, levantei assustada, não queria atrasá-lo, embora não quisesse sair dali nunca mais.

— Ah que pena, estava divertido conversar com você, Adriana, gostei muito de te conhecer, geralmente nesses encontros com as fãs, elas só gritam — ele sorriu.

— Olha, eu confesso que gritei bastante internamente e ainda estou em surto, mas decidi que era melhor aproveitar o momento da maneira correta — respondi sentindo tantas coisas que mal podia respirar.

Roger se aproximou e me encarou de maneira intensa.

— Você é uma gata, sabia?

— Err... obrigada! — corei com o elogio, a proximidade de seu corpo me deixou tensa.

— Te deixo nervosa? — sussurrou, seu hálito quente dançava em meu rosto.

— Muito... — murmurei debilmente.

— Não fique, eu não mordo. Contudo, farei algo com você que não costumo fazer com fã nenhuma — levantou meu queixo me fazendo encarar aqueles olhos castanhos intensos — você é linda, sua boca é perfeita e eu quero muito te beijar — se aproximou devagar colando seus lábios nos meus.

E esse foi o meu momento fênix, o momento em que morri em chamas e nasci novamente, ou desmaiei e voltei, ou sei lá o que, me belisquei mil vezes e doeu bastante, então não, não era um sonho. Roger Di Ferroni, músico gato, com uma das vozes mais incríveis que já ouvi e dono das letras mais românticas e maravilhosas, estava aqui, me dando um beijo de tirar todo o fôlego. Suas mãos passeavam por minha cintura e me puxavam para mais perto, o envolvi com meus braços, recebendo tudo o que acompanhava o beijo. Logo senti sua mão quente subir por baixo da camiseta da banda e estremeci quando ele chegou perto demais do meu sutiã, não por nada, mas eu não era muito "favorecida", no aspecto, seios!

Batidas persistentes à porta estouraram nossa bolha mágica.

— Roger, vamos logo cara!

— O melhor beijo da minha vida, que lábios, meu Deus! Você é perfeita — ele se afastou devagar e ofegante — Foi um prazer te conhecer, linda.

Assenti ainda em choque, mas uma dorzinha atingiu meu peito e meus olhos encheram de lágrimas.

— Ei, isso não é uma despedida, eu sei o nome da lanchonete da sua mãe, eu vou achar você e vamos continuar o que começamos! — pegou seu violão, me beijou mais uma vez e saiu dando uma piscadinha ao passar pela porta.

E eu? Bem eu estava literalmente nas nuvens com aquela promessa.

Se não é amor, é paixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora