Capítulo 3: Amizade adolescente

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Amizade adolescente

Lue e Kyle se olhavam hipnotizados. O neozelandês ofereceu o cigarro de maconha a Lue, que o aceitou em silêncio. Pareciam se medir, olhavam-se sem constrangimento, exibindo sorrisos nada sutis. Kóra observava a cena com o coração dolorido, e Eivi discretamente apertava sua mão, em apoio. Então o relato de Lue era sobre seu irmão? O loiro do quarto de hotel onde Lue acordou era Kyle? Cortando o flerte escancarado de forma abrupta, Jared abraçou o primo tirando-o do chão. Lue gargalhava com a efusividade do primo que o levantava sem grandes dificuldades. Kóra se lembrou que Jared também atraía Lue sexualmente, e foi se afundando em pensamentos autodepreciativos. Kóra e Eivi assistiram a felicidade de Lue em silêncio. A DJ sabia que nunca seria um cara: tentou por tempo demais assumir o lugar de homem, tentou por tempo demais pertencer ao gênero masculino, imposto, desde sua adolescência. Ver o amigo tão confortável entre aqueles "homens machos" ativava gatilhos quase ancestrais em seu corpo transviado. Enquanto tomava coragem para sair e tomar um ar, Leo e Micah voltaram do banheiro, quase no mesmo instante, e vieram parabenizar o ruivo pelo show.

Lue, geminiano que era, foi se enturmando entre os novos rapazes, sentando-se junto deles na mesa, tomando alguns goles da vodka com energético do primo e perguntando um pouco mais sobre todos os meninos. No interesse constante de conhecer novas pessoas, sequer deu atenção para Eivi e Kóra. A dupla aproveitou o momento e saíram discretos, caminhando em direção ao bar.

— Achei que você quisesse ir lá fora — Eivi comentou com a amiga assim que esta se colocou diante do balcão.

— Eu só queria sair de perto, Eivi. Ir lá fora talvez desse muita pala... Por que sairíamos do bar se as pessoas fumam aqui dentro?

— Como você tá? — Eivi seguia carinhoso.

— Como você acha que eu tô? — a amiga mostrou um pouco de raiva na voz.

— Ei, ei! — Eivi censurou-a na brincadeira. — Que que é isso? Para de espiralar pra baixo. Aqui sou eu, seu amigo. Você é linda, vamos, você sabe que eu sei ou pelo menos imagino o que você tá sentindo.

— Tsc... Às vezes esqueço que o Lue é cis, e que tudo a volta dele é cis.

— Kóra, linda... Entendo que você tá chateada, mas não é bem assim...

— Eivi, você veio me consolar ou me questionar? — Com a mão chamava atenção de um barman.

— Você não é criança, Kóra. Vim ficar do seu lado porque é foda se sentir preterida em relação a homens cis, eu sei muito bem como é isso. Mas também não vou te deixar falar coisas sem sentido que vão te machucar ainda mais. Eu, você e o Lue decidimos morar juntos, também não vou permitir que você distorça a imagem dele pra uma yag privilegiada que só pega boy padrão. — Embora as palavras duras, Eivi falava com a voz macia e o olhar brilhante, quase chorando ao ver a tristeza da amiga.

— Ok, eu sei... Lue é uma bixa preta e afeminada, eu sei... Eu só tô puta, Eivi. Porra, logo meu irmão? — Finalmente o barman deu atenção a Kóra. — Me vê uma dose de tequila, por favor?

— Limão e sal? — o barman perguntou.

— Sim, e são duas doses de tequila. — Eivi sorriu.

— Você vai beber? — Kóra perguntou enquanto Tony pegava a garrafa de José Cuervo e cortava os limões.

— Não posso deixar minha amiga na fossa sozinha. — Eivi finalmente viu o rosto da amiga suavizar. — Eu imagino o baque que deve ser ter esse irmão super padrão, e descobrir que um dos seus melhores amigos, por quem você tem uma queda, transou com ele e tá super na dele...

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