Feitiço de Amor
A noite amena, de brisa fresca, era o tempero necessário para aliviar o cansaço da mudança e o dia de calor escaldante. Lue, Kóra e Eivi já tinham seus pertences devidamente instalados, após acordados os quartos que cada um moraria. Aquele dia, no entanto, foi uma aventura! Cinco carretos de mudanças diferentes chegaram na mesma tarde. O entra e sai da casa adiou as terapias de Eivi para a semana seguinte. O almoço de Lue que seria também janta, acabou sendo devorado por moradores e ajudantes de mudança famintos. A meditação de Kóra ficaria para depois: não por barulho, no entanto, já que seu quarto era o mais afastado; apenas a curiosidade de ver como aqueles cinco peculiares rapazes se entrosariam naquela moradia tão transviada.
Kóra morria de medo da Casa Gala perder sua essência transgressora ao receber LGBTs mais masculinizados. Kóra gostava da casa bixa, bem maricona, bixocona, travestizona! Lue, otimista, acreditava que o local era mágico, tinha certeza das possíveis descobertas dos novos moradores, incluindo seu instrutor de Kung Fu, completamente travado no Black Moon. Eivi, a temperança entre os polos da descrença (Kóra) e da fantasia (Lue), acreditava que com o tempo, tudo poderia se ajustar bem. Sua principal preocupação era a mais bixa dos cinco novos moradores: Victorio. De família rica, aparentemente mimado, o garoto pagou muitas pessoas para realizarem sua mudança, onde ele apenas dava pitaco. Não levantou uma caixa, nada. Eivi pôde perceber, também, a essência de bixa ácida que morava no jovem rapaz ruivo.
A divisão dos quartos gerou menos conflitos do que imaginou o trio de bixas amigas, já que os garotos com mais dinheiro estavam dispostos a pagar pelos maiores quartos: Kyle e Victorio. O primeiro ficou com a grande suíte localizada no segundo andar, o outro ficou com o lindo quarto avarandado, no piso térreo. A antiga sala de televisão próxima a entrada da casa foi ocupada por Micah, o menos acumulador dos rapazes. Sua cama de solteiro e sua rede couberam facilmente em seu novo habitat, e todas as suas roupas couberam em uma simples cômoda. No primeiro andar, além dos quartos de Michel e Victorio, encontravam-se também a pequena recepção, a ser transformada no consultório de Eivi, dois banheiros — sendo um lavabo — a grande cozinha com copa, e uma linda sala com piso de madeira e portas de vidro para a varanda e o quintal: esta seria a sala de práticas corporais, já que não possuía sequer um móvel, e Michel, Lue, Eivi, Leo e Jared praticavam exercícios com frequência.
No segundo andar, além da suíte de Kyle, encontrava-se um amplo banheiro e um quarto de tamanho considerável a ser dividido por Leo e Jared. A antiga biblioteca do segundo andar, humilde em tamanho, porém com grandes mesas ainda disponíveis, viraria a sala de estudos/leitura dos moradores. Já o terceiro andar, menor e improvisado, era o abrigo de um imenso quarto com mezanino. Na parte de baixo, Lue e Eivi dividiriam espaço, e o pseudo-quarto andar ficaria com Kóra, que desejava estar perto de Lue, mas não ao ponto de estar a uma cama de distância. A neozelandesa, portanto, deciciu pelo mezanino: poderia observá-lo dormindo de longe, mas também teria sua privacidade quando quisesse se autocentrar.
A decisão do trio de amigues pelos cinco rapazes não foi imediata. Lue tinha certeza de que queria morar com seu primo, e sua certeza também por Kyle afligiu o coração apaixonado de Kóra. Sobre Micah e Leo, estavam receosos, mas o tarô mostrou que ambos se integrariam bem a casa. Por último, Victorio, a aposta mais arriscada: sua visita na casa, na sexta-feira anterior, foi controversa. Sua sinceridade quase agressiva por vezes constrangeu as três amigues, mas seu desejo de fazer do grande quarto seu ateliê, construir arte na casa e seu desejo em ajudar na organização financeira e organizacional comoveram o coração fraco para burocracias de Lue. E por fim, no oráculo, Victorio também foi favorecido.
Seria o octeto mais aleatório possível. Kóra deixou de temer o que poderia ser, e seu único incômodo era pensar em ver Lue e seu irmão se relacionando: mas sabia que este medo era irracional e um desejo de controle não somente sobre outros corpos, mas sobre o tempo. Eivi estava relativamente tenso pelo fato de alguns garotos serem tão cisgêneros, como Michel, Kyle e Leo... E Lue estava completamente feliz por poder morar com tanta gente. Individualmente, podia-se notar que Lue estava tranquilo, Kóra ciumenta e Eivi temeroso. Equilibrados em trio, estavam ok. A alegria do brasileiro contaminava mais que os receios do congolês.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Bixas
RomansaLue vive de amores efêmeros: beijos espontâneos em bares e baladas que se transformam em sexo casual pela madrugada. Kóra costuma atravessar as noites acordada, migrando de festa em festa, visitando afters e brunchs, buscando consolidar sua carreira...