Capítulo 2

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— Está ocupada essa noite? — Diana pergunta quando deixamos o auditório. — Pensei em pedir pizza, a gente podia beber algumas cervejas e falar mal de todos os homens da face da Terra. O que acha?

— Infelizmente hoje é aniversário da Sargento Susan. — Reviro os olhos, pensando minha mãe. — Se eu não for vê-la, a próxima guerra mundial estará declarada. Deus sabe que eu preferia mil vezes beber com você a enfrentar aquela fera.

— Oh... droga. Eu sinto muito... quero dizer...

— Eu também sinto, Di, fique tranquila. — Apresso-me em acalmá-la. — E, sinceramente, estou pensando na possibilidade de tomar algumas cervejas antes de ir até a casa dela. Para poder suportar essa visita.

— Você sabe que tia Susan é quase como um cão farejador. Notaria seu hálito alterado em dois tempos.

— Sim, infelizmente tem isso. — Torno a revirar os olhos.

— Comprou um presente para ela? Titia não é fácil de agradar...

— E acha que eu não sei? E sim, comprei algo que sei que ela não vai gostar, mas... ao menos tentei. E é algo bem caro, então... Consciência limpa aqui — concluo, enquanto levanto uma mão.

— Já pensou em dar dinheiro? Aí ela vai e compra o que quiser.

— Sim, eu já tive essa brilhante ideia. Ela olhou para mim como se eu tivesse cometido um crime e perguntou o que de tão importante eu andava fazendo para não ter tempo de comprar um presente decente.

Diana não consegue evitar o riso:

— Meu Deus, isso é muito a cara dela. Acho que mamãe não se lembrou que é aniversário da titia. Ela não disse nada.

— Bom, ela faz bem em não lembrar. Eu mesma gostaria muito de esquecer.

Enquanto caminho para minha sala, penso no porquê de minha mãe exigir minha presença nesse dia. Susan não faz muita questão de me ver em outras ocasiões. Aliás, ela não faz questão de me ver em nenhuma ocasião. Suspiro, acomodando-me na minha mesa e ligando o computador. Só de lembrar a dor de cabeça que é ficar procurando um presente que que possa agradá-la minimamente... Pensar que ela, com certeza, falara de meu casamento desfeito...

A relação com minha mãe é das mais complicadas. Temos gênios totalmente diferentes. Sou do tipo moderno, que gosta de liberdade. Já Susan, é uma religiosa fervorosa e extremamente retrógrada. Não tenho nada contra religiões, sou uma mulher que acredita em Deus, mas... a religião de minha mãe mais parece uma seita... Tudo o que é fora de sua igreja, é do "mundo", sujo e sem valor para Deus. Ser adolescente e viver na mesma casa que ela foi muito complicado. Furos em minhas orelhas só pude ter depois dos dezoito e, ainda assim, quando já morava sozinha. Apesar de ser muito sensível à dor, sonho em fazer algumas tatuagens. Tenho o desenho de cada uma delas guardadas para o dia em que realmente tiver coragem. Ainda assim, tenho certeza de que as terei de esconder de minha mãe, senão... O inferno descerá sobre a Terra. Quantas não foram as brigas por conta disso quando eu era mais jovem. Assim como as vezes em que fui me refugiar na casa de minha tia Evie, mãe de Diana. Se não fossem essas duas e o pai dela, que foi praticamente meu pai também, não sei como teria sobrevivido à puberdade.

Pensar que terei de passar algumas horas na companhia de minha mãe... acaba com meu dia.

Chego, pontualmente às oito da noite, na casa enorme que Susan insiste em manter. Ela mora sozinha.

Tomo três longas respirações antes de bater à porta e entrar. Como sempre, minha mãe está impecável, cabelos presos num coque perfeito, um vestido sóbrio e sapatos de salto moderado. É como me recordo dela. Sempre dessa maneira. Sempre bem arrumada, como se à espera de visitas. Que, além do pessoal da igreja, não há outras.

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