cap 9

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Se passaram semanas, semanas que deixei o Elio jogado naquela piscina. Não falei com ele, e nem ele comigo. Eu queria falar com ele, passei pela casa dele tantas vezes mas não entrei, ou falei com ele. E ele, não fala comigo, eu fui clara e seca com ele. Dei a entender que estava zangada, e que não o queria mais .Ele me ignora, eu fui má com ele.

Vi ele com a Marzia, eles andavam de mãos dadas. Já vi eles dando beijos nos cantos escuros de Lombardia. Os encontros são coincidência, quando eu saio com a bicicleta acabo encontrando com ele e Marzia. Eles não me veem, não veem eu revirando os olhos ou ficando sem graça.

Eu me arrependo de quando sai andando para fora da casa de Elio, eu me assustei e sai de perto dele. Eu não posso mudar como fui seca com ele, só tenho que dar espaço. Fui embora porque queria ele, queria tanto.

E eu fui bem, não falei com ele nessas semanas, mas minha família sim. Eles foram muito na casa dos Perlman, ficaram amigos.

Eu não fui sempre que iam, mas tinha que ir de vez em quanto, meus pais me obrigavam. Annella e Sr.Perlman perguntavam de mim, "Fala para Zara vir da próxima vez" ou "Ela não veio?". Eu já dei de cara com o Elio, mas ele não disse nada e nem eu. Só ficávamos nos olhando. Mas já aconteceu de eu ir e ele não estava lá. Ficar do lado dele e não conversar, não me desculpar.

E hoje, vamos para lá, minha bisavó fez a janta. Ela passou a tarde com Mafalda cozinhando. Temos que ir, e eu rezo para não ve-lo lá.

Chegamos na fachada da casa dos Perlman. E eu pensei em sair do carro e correr para a floresta perto da casa ou não sair do carro. Eu não queria estar aqui, eu e Elio não nos falamos, ele ficava do meu lado e eu não falava com ele. E se ele estivesse aqui? Eu converso com ele? Mas a verdade é que eu sabia, que, por educação, tinha que falar com ele. Cumprimentar.

Meu pai estacionou o carro, e eu parei por um tempo. Hesitei em sair , todos saíram e eu olhava a casa pela janela "Vou sair do carro?", pensei. Sai do carro. Eu olhava para os lados loucamente. De um lado para o outro. Procurava quem eu não queria ver, o que é irônico. Eu não via Elio, não na entrada da casa.
-Oi Zara!-Annella me atendeu com um abraço
-Oi! -retribui o abraço
Cumprimentei Annella e Sr. Perlman, que nos convidou para entrar.

Quando mais andava para a mesa do jantar, eu escutava risadas, de pessoas diferentes. A risada, essa risada eu conhecia, conhecia a risada que sempre terminava com um sorriso torto. Quem estava com Elio?
Eu ignorei que tinha deixado ele largado na piscina e que nós não nos falamos mais depois, eu queria saber: Quem estava com Elio?

Quando chegamos na mesa que sempre íamos vi Elio e Marzia. Elio e Marzia. Eu não pisquei os olhos. E meu estava ouvido abafado, eu só via as bocas de todos mexendo. Via de lateral Annella falando com os meus pais e Marzia vindo cumprimentar eles junto de Elio. E eu não me mechia. Marzia veio para perto de mim, só via sua boca se mexer, não escutava, não queria escutar, por mais que meu transe tinha acabado. Eu só sorri. Não sei o que ela falou. E ele veio até mim, eu olhei para Elio com uma cara de saudade. "Tinha deixado ele largado na piscina". Ele olhou para mim e me cumprimentou com um "Oi" frio.

Todos sentaram nas cadeiras de madeiras e matal coloridas, azul e amarelo. Marzia sorria sem os dentes para Annella que falava, e Elio me olhava com cara fechada. Eu vim hoje. Eu vim quando a Marzia estava aqui.
-Marzia, você é amiga do Elio, nunca tinha te visto aqui. Muito prazer! -Meu pai puxou assunto com quem eu não queria falar
-Eu venho muito aqui, mas não de noite -ela explicou sorrindo
-Ah! Então você não conhecia a Zara?
-Não, mas eu sabia da Zara. Queria conhecer ela!
Meu pai olhou para mim e sorriu, esperando que eu falasse com Marzia. Eu não falava. Não disse nada.
-É, eu já te vi aqui Marzia, mas não falei com você, que bom que estamos conversando- sorri, um sorriso falso.

O resto do jantar, Marzia conversava com todos, respondia Annella, falava com meu pai. E Elio, quando não me encarava, olhava para todos e sorria sem os dentes, ele conversou um pouco com todos, mas não era sempre.
-Eu vou no banheiro. -avisei, mas ninguém escutou, eles conversaram, era boa a conversa e alta.

Me levantei da mesa e fui caminhando, eu não queria ir ao banheiro. Eu não queria ficar mais lá, e eu fui andando até a sala. E fiquei lá. Olhando para a sala. Para todo canto dela.
-Zara
Escutei meu nome, não prestei atenção e não reconheci a voz. Voltei meus olhos para quem me chamou. Elio. Ele sentou no sofá, não falou nada. Sentou do meu lado e ficamos em silêncio olhando para frente. Eu virei minha cabeça para ele, mas ele continuou olhando para frente.
-A Marzia é -dei uma pausa porque não formulei a frase, eu só falei.- legal
-Ela é.
-Estão juntos? -perguntei
Ele olhou para mim.
-Estamos juntos.
Eu e ele nos encarávamos sem conversar mais. O silêncio entre nós permaneceu, por minutos, até Elio perguntar.
-Porque me largou na psicina?
-Porque quero você.
-Me quer?- ele franziu as sobrancelhas virando-se para mim.
-Eu quero você, Elio.
-Eu quero a Marzia.
Ele virou a cabeça, e olhou para frente. E eu continuei olhando para ele. Ia ser isso? Ele não ia falar mais nada?
Ele quer a Marzia e não a mim, eu não quis aceitar isso, mas, também, não podia fazer nada.
-Eu vou voltar. -Elio levantou do sofá e foi para a mesa, não disse mais nada.
E agora quem tinha virado as costas para mim era ele.

Me Chame Pelo Seu NomeOnde histórias criam vida. Descubra agora