As nossas coisas estão chegando e mamãe está em uma ligação com o Fabiano, dono da frete.
Enquanto ela levantava os braços, um ainda segurando o celular próximo ao ouvido, na beira da rua, eu apenas observei o condomínio Carioca e como ele parecia. Era bonito, de longe parecia ter um aluguel caro e sua cobertura custar alguns zeros a mais na direita.
— Mãe, a senhora pode parar de gritar, já. — eu sorri amarelo para ela, indicando o porteiro com o olhar.
— O.k. Ele está chegando, anda, me ajuda. – ela se virou para o caminhão-baú que se aproximava.
O homen barbudo e de camisa Polo, junto ao seu ajudante que parecia ter 21 anos, desceram do automóvel e minha tia Elaine apareceu com seus cabelos cor de fogo. Usava uma camiseta escrito ROCK 90's e uma guitarra de vermelho de fundo – minha favorita. Fui correndo dar um abraço apertado e sentir de novo o cheiro dos sete gatos que ela tinha.
— Fala, Lulu! Como cê tá, cara? Já foi pra escola? – perguntou com aquela voz meio tonta.
— Ainda não, tia. As aulas iniciam apenas na quarta-feira. – eu respirei fundo. – Estou muito, muito ansiosa. Apesar de não gostar tanto da ideia...
— Qual é, não pode ser tão ruim. Aposto que eles devem ser legais.
— Devem ser um bando de filhinhos do papai, isso sim. – revirei os olhos e ela me avistou com reprovação.
— Parou, hein? Dê ao menos uma chance para a escola. – agora mexia no meu cabelo e voltou sua atenção à minha mãe.
Depois de terminar com todas as coisas, me tranquei no quarto com as caixas e a minha cama – enfim montada com a ajuda do Fabiano. Era incrível como parecia ser tanta coisa assim, empacotada, mas depois tudo fica compacto dentro dos armários.
Tudo que eu mais amava e mais tinha importância ficava dentro da caixinha da bailarina. Lá tinha uma foto minha e com o meu pai, cartas que eu escrevia para pessoas que eu já gostei, cartas do Vovô e dezenas de fotos com a mamãe. Eram importantes pra mim. Na mesma caixa de papelão também estava o Burn Book que fiz com a Anna e a Carol. Lá estavam as piores professoras, as donas das piores fofocas e as garotas mais... falsas e talaricas. Era péssimo pensar que fizemos isso de verdade e escrevíamos coisas reais ali, mas não era de má ideia. Só achamos a ideia legal.
— Vocês eram péssimas nessa época... – ri para a foto onde estava eu, a Anna e a Carol com dez a onze anos. Inacreditável que já estamos tão crescidas. Eu e a Anna ainda estamos no terceiro ano e a Carol está tentando entrar para a faculdade que tanto queria.
Muito estranho saber que eu preciso... Tomar decisões de "adultos" e decidir as coisas por eu mesma.
Só queria poder voltar no tempo, quando as coisas eram mais fácies e atrasar um trabalho não fizesse tanto efeito e ninguém te proibia de entrar na sala de aula porque se atrasou cinco minutos, afinal, você ainda estava no quinto ano.
— Filha, vem, vamos sair para lanchar! – a dona Rosa chamou lá da cozinha e eu rapidamente prendi o cabelo em um coque frouxo e troquei de camiseta.
— Onde vamos? – perguntei quando encontrei as garotas.
— Decidimos ir em um karaokê que tem aqui perto, no Reis. – a ruiva me puxou pelo braço e corremos até o elevador. – Anda logo, Rosa!
— Estou indo, estou indo! – ela se apressou com a bolsa cruzada no corpo e trancou a porta.
— O que vamos cantar? – perguntei. – Não é nem falando nada, mas... Quem sabe eu ainda sou uma garotinha...
— Esperando o ônibus da escola! – Elaine completou a letra da música e eu ri animada. – Noite das garotas! Noite das garotas! Noite das garotas!
Finalmente, depois de meses, eu vou poder passar um tempo com as minhas mulheres favoritas. Nunca pensei o quanto eu precisava disso até perceber o quanto pode me fazer bem.
Quando chegamos lá, tinha um pequeno palco de frente para algumas mesas e um bar. Era escuro e tinha luzes que ficavam piscando em vermelho e verde, uma pequena TV e um garoto que parecia mexer com aquelas coisas.
Rapidamente fomos até o rapaz e pedimos Malandragem da Cássia Eller. Cada uma pegou um microfone e a melodia começou. Mesmo não sabendo cantar, eu gosto da companhia das duas então fiz de tudo para minha quase timidez não estragar tudo.
— Quem sabe ainda sou uma garotinha! Esperando o ônibus da escola. – começamos juntas, desafinadas. – Cansada das minhas meias três quartos, rezando baixo pelos cantos.
Nós três nos encaramos e começamos a cantar com mais vontade:
— Por ser uma menina má! Quem sabe o príncipe não virou um chato, que vive dando no meu saco! Quem sabe a vida não é sonhar!
Nem lembro a música que cantamos da última vez que fizemos isso e, sério, a última e mais fresca sempre parece a melhor. E eu amo isso.
— Ok, mãe! Pega uma batida sem álcool pra mim, por favor! – gritei para a mulher que estava no bar, vulgo minha mãe. Enquanto esperava, resolvi abrir as mensagens do grupo Meninas quase Malvadas.
vagaba responde a gente.
pse não responde mais as amigas
os de vdd eu sei quem são.Revirei os olhos e ri.
— Garotas, garotas! – iniciei o áudio. – Sério, tô em um karaokê muito legal e cantamos umas três músicas, já. Gente, vocês vão adorar!
Encerrei e enviei o áudio, desligando o aparelho logo depois.
— Falando com as meninas? – tia Elaine perguntou quando chegou mais perto, com um copo de cerveja na mão. – Como elas estão com essa mudança? Espero que bem, vocês são tão amigas...
— Elas estão bem, talvez um pouco ciumentas porque não falei com elas direito desde a quinta-feira, quando eu me despedi. – dei um gole grande na bebida, rindo logo depois. – Elas são tudo, espero que saibam que eu jamais as abandonaria.
— Puff, óbvio que elas sabem, meu bem. Fica relaxada. – Elaine me lançou uma piscadela e eu sorri aliviava.
É verdade. Se são de fato minhas amigas não ficariam tristes por uma conquista minha.
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Filhinhos do Papai e Onde Habitam.
RomanceLouíse era uma garota de 16 anos quando descobriu, de repente, que sua mãe recebeu uma oferta de emprego e que iriam se mudar em uma semana. Enquanto lidava com conflitos familiares, ela também teve que sair da comunidade e ir morar no Recreio, onde...