Já passei, ao total, 3 intervalos com a Jas e cada dia mais eu me sinto conectada com ela. É incrível o jeito que ela me entende e consegue muito rapidamente perceber como eu estou e eu, de verdade, me sinto confortável.
Diferente desses momentos bons, há aqueles que eu me estresso e quero fugir da sala. Eu sou muito boa em física, sem querer me gabar, mas tem um idiota que fica querendo responder as perguntas por mim e depois fica por aí se achando.
— Tô falando, Jas, eu vou dar um soco nesse garoto. – reclamei pela última vez, nessa semana. Sexta feira era o último dia, e dois tempos seguidos de física, por isso era o meu favorito. – Ele está estragando tudo! Eu olhei o fichário dele e eu tenho certeza que ele copiou as minhas anotações... até parece que tivemos as mesmas aulas!
— Mas vocês tiveram, sua idiota! Sério, Lu, eu que vou te dar um soco. – ela batia na minha testa de forma carinhosa e eu não contive a risada. – Ali, seu ônibus. – olhamos através das janelas de vidro. Estava quase lotado. – Boa sorte para encontrar um assento aí. Eu tô indo pra casa, a gente se vê segunda.
— Até, fadinha! – sorri para ela e coloquei os fones.
Depois de passar pela catraca, segui o caminho olhando em volta para ver se eu não encontrava algum assento. Nenhum, nem sombra dele. Ao menos, a escola era perto o suficiente para ser um ônibus só. Coloquei a mochila para a frente e fiquei me apoiando nos assentos que ficavam em frente à saída de trás.
Olhei os outros alunos entrando no ônibus e, Bruno. Também de fones, nem parecia ter me notado quando parou ao meu lado. Geralmente ele vai de carro com os amigos, e para outras direção, talvez por isso ele tenha notado o quanto eu o encarava.
— Perdeu alguma coisa, tampinha? – como meu som não estava tão alto, consegui ouvir e o olhei incrédula.
— Tampinha? – ri de forma debochada. – Como se você fosse o homem mais alto. – tentei disfarçar a pergunta.
— Bem mais que você. – me olhou de forma desafiadora, e eu nunca quis tanto fazer esse nariz perfeito sangrar com um soco. – O quê foi? Tá me apreciando? Pode tirar uma foto, também.
Diz isso pra aquela sua namorada idiota. Rose, descobri recentemente seu nome, não parava de implicar comigo e me chamar de algumas coisas que, de verdade, estavam enchendo o saco. Eu comentei isso com a Jas e ela disse para eu ir falar com a diretora ou com qualquer um, mas a gordofobia e o bullying não eram assuntos que a escola gostaria de revelar (de forma alguma) então iriam abafar o caso. E eu não preciso disso.
— Provável de acabar quebrando o meu celular. – revirei os olhos e me virei para a frente.
— Sim, porque seu Nokia não aguentaria eu ser tão lindo.
— Muito menos seu ego enorme, não é? Ninguém nunca te disse que é bem irritante? – continuei virada para a frente da porta de trás.
— É, sim... Mas eu não ligo! – sorriu bem aberto. – Na real, fico feliz de saber que você é uma dessas pessoas.
— Qual é, você ao menos sabe meu nome. – ignorei o fato de estar tocando American Boy e continuei sem cantarolar ou dançar (nem mesmo mexer os dedinhos dos pés).
— Claro que eu sei... Luciara? – eu segurei o riso e vi, de relance, ele segurar o dele também. – Ah, qual é, mas eu sei seu sobrenome!
— Só porque você faz física comigo e com o seu amiguinho Lucas. – revirei os olhos.
— O que você tem contra ele? Só porque ele também é bonito e inteligente? – depois dessa frase o silêncio se instalou entre nós.
Ele me acha bonita e inteligente? Não que eu ache isso grande coisa, mas sabe... nunca é ruim receber elogios.
Sem falar uma palavra, seguimos o percurso até o ônibus parar no Edifício Carioca. A porta na minha frente se abriu e, para minha surpresa, Bruno desceu no mesmo ponto que eu. Minha mãe, toda arrumada, estava do lado de fora da portaria e parecia esperar alguém.
— Mãe? O que a senhora está fazendo aqui? – ignorando totalmente a presença do Bruno consideravelmente perto ainda, continuei conversando com a senhora, minha mãe.
— Impressão minha ou você estava subindo com um garoto para casa? – eu quis me enterrar no mesmo instante, mas a vontade de meter uma bala na minha cabeça veio assim que ouvi a risada abafada do Bruno ainda ali perto.
Eu queria tanto que eu nunca mais tivesse que olhar na cara dele – de ninguém – na minha vida, mas não foi bem assim.
— Mãe... ele não está comigo. – eu sussurrei e orei para que ela não dissesse mais nada que pudesse me afetar mais.
— Uma pena, porque ele é bonito.
Sério. Sério! Sério? Eu vou matar um.
— Mãe, eu vou subir, ok? – esquecendo totalmente da minha primeira pergunta, e de tudo a minha volta, pedi para o porteiro abrir para mim e o Bruno aproveitou o bonde.
Namoral, o que esse garoto tá fazendo?
— Você está me seguindo? – não aguentei e perguntei.
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Filhinhos do Papai e Onde Habitam.
Roman d'amourLouíse era uma garota de 16 anos quando descobriu, de repente, que sua mãe recebeu uma oferta de emprego e que iriam se mudar em uma semana. Enquanto lidava com conflitos familiares, ela também teve que sair da comunidade e ir morar no Recreio, onde...