Luz e escuridão

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Este capítulo possui música e aconselho a verem a experiência de estar dentro do lugar que usei de referência para o túmulo de Cleópatra ANTES DE LEREM.

A música do CAPÍTULO TODO é Fahrenheit – Azee

Playlist: https://open.spotify.com/playlist/6RzN1WiEym9solX1Ek03NN?si=OM823PjqTAC959QG8EwaHQ&utm_source=copy-link&dl_branch=1

Regina Mills

Minhas costas escoravam na pedra atrás de mim, enquanto a areia revolvia tudo que havia pela frente, cobrindo o novo e descobrindo o antigo abaixo de seus movimentos repetitivos e incertos, como ondas. Os picos de luzes da cidade do Cairo a certa distância brilhavam como as estrelas no céu noturno que percorria acima da minha cabeça. O suspiro cansado e admirado que cruzava meus lábios era o maior indício de como eu estava, uma bagunça interna que matava aos poucos, tão letal que o único caminho certeiro era sem saídas. Não havia compreensão, apenas o sentir latente comprimindo meu coração em apertos dolorosos e contínuos.

Entretanto a calma serpenteou por sob minha pele como uma cobra silenciosa ao sentir os dedos gelados se entrelaçando em minha mão, pressionando levemente para chamar minha atenção até a loira que se encontrava do meu lado, encarando meus olhos com um brilho que poderia se equiparar a uma imensidão esmeralda. Brilhavam como joia e sua pele se destacava dentro do vestido branco que esvoaçava por conta do vento forte, me dando a noção pela primeira vez da onde eu estava.

Em cima da maior pirâmide do complexo de Gizé; Quéops.

Apreensão me abateu por um instante, mas Swan, tão perceptiva com seus olhos perscrutadores captou a mudança de expressão em minha face confusa. O que estávamos fazendo ali fugia da minha compreensão e era tão errado... Mas a visão era de tomar o fôlego de qualquer um, dos mais ignorantes ou não. Era como se sentir único e no topo do mundo, abraçado apenas pelo silêncio e pela mão da jornalista que apertava a minha.

— Olhe... — A loira sussurrou, se aproximando com calma até estar quase grudada a mim, virando meu corpo para o lado direito ao deixar seu queixo apoiado em meu ombro — A dança mortal que eles fazem...

Meus olhos se arregalaram pelo susto, juntando minhas costas ao tronco da loira que riu baixo em meu ouvindo, causando um arrepio graças ao contato próximo. Levei um segundo para relaxar, segura entre as mãos tranquilas de Emma, observando os dois escorpiões a frente que travavam uma disputa com suas caldas, tentando matar ou esperando morrer por uma guerra de dominância.

— A luta entre eles é tão imprevisível — Emma sussurrou distraída, deixando seu cheiro chegar ao meu nariz, fazendo-me respirar fundo, inalando até decorar cada cadência — Um mínimo deslize de atenção e acabou, é o fim.

— Por que estamos aqui? — Sussurrei cortando o assunto sem querer, vidrada nos escorpiões que se digladiavam, tão focados em sua disputa que não percebiam nossa presença ali, pairando acima como deuses. Deusas.

— E por que não estaríamos? — Riu se inclinando o suficiente para me encarar, tão próxima que poderia ser desconcertante para alguns, mas para mim era um desafio a ser aceito.

Seus dedos esguios desprovidos de anéis retiraram uma mecha do meu cabelo que voava a frente do meu rosto, realocando no local certo com cuidado antes de voltar a falar.

— Apenas aproveite, Regina, nem tudo precisa de explicação — O sorriso travesso estava aportado nos lábios claros e finos, caçoando da minha incredulidade.

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