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Pela primeira vez em algum tempo, Misato e Ritsuko tiveram a sorte de ter uma semana de folga em conjunto. Por conta disso, o casal havia alugado um pequeno apartamento na praia, com apenas um quarto com uma larga cama e um banheiro apertado, uma varanda, cozinha e sala.

Era manhã, cerca de seis horas, e Ritsuko já estava acordada. Seu corpo confortavelmente vestido em uma calça alfaiataria preta e uma blusa branca e justa, as mangas compridas da roupa encolhidas até seus cotovelos.

Na pequena varanda (telada por causa do gato), sentada em uma das três banquetas de madeira ao redor da mesa bistrô, a médica encarava distraidamente as ondas do mar, o vento trazendo o cheiro salgado até seu rosto.

O sol nascente aparecia timidamente por trás da espuma branca, tingindo o céu com tons de laranja e rosa.

Uma caneca verde sentava solitariamente na madeira polida da mesa, resíduos do café amargo e preto matinal de Ritsuko pintando o fundo.

Enquanto Akagi já estava prontamente preparada para encarar o dia, Misato estava no quarto, nua, revirada na cama e soltando um leve ronco pelo nariz; Sair do lado da major naquela manhã havia sido um sacrifício, mas depois de trinta minutos apenas observando sua namorada se mexer de um lado para o outro, o corpo de Ritsuko começou a implorar que a mulher levantasse e começasse o dia.

Um miadinho tirou a médica de seus devaneios e, olhando pra baixo, a bolinha de pelos carinhosamente chama Meow estava sentada e encarando Ritsuko com seu unico e grande olho verde, a outra cavidade previamente custurada e cicatrizada dando um ar engraçado ao animalzinho.

"O que foi, pequena?", esticando o braço para baixo, Ritsuko fez carinho entre as orelhinhas do gato, que ronronou alto e esticou as costas em direção à dona.

"Hmm, Rits...", de canto de olho, a médica conseguia ver o corpo esguio e menor do que o seu próprio encostado na porta de entrada da varanda. Sua pele estava coberta por nada a não ser um casaco de moletom preto de zíper que cobria apenas parte de seus seios e deixava a grande cicatriz em sua barriga à mostra, assim como os curtos pelos pubianos que desciam até o vale no meio de suas pernas. "Por que você 'tá de pé tão cedo?"

"Não conseguia mais ficar deitada", o gato se afastou de Ritsuko quando notou a presença de Misato, se aproximando da outra dona com passos preguiçosos para se esfregar em suas pernas. A mulher com cabelos tingidos de roxo abaixou levemente o tronco para conversar com Meowy, sua voz alguns oitavos acima do normal.

Depois de se virar e rolar no chão dengosamente, o animalzinho se cansou e, com uma última olhada para as donas, entrou em casa e sumiu dentro do corredor.

"Esse gato parece saber alguma coisa que ninguém mais sabe", brincou Misato, chegando mais perto da banqueta em que Ritsuko sentava.

"E você, o que está fazendo acordada tão cedo?", quando já estavam perto o suficiente, Akagi passou seu braço direito por baixo do casaco da namorada, rodeando sua cintura e puxando seu corpo. "Achei que só acordasse depois das onze em finais de semana?"

"Mas eu quero ficar com você...", suspirou Misato, escondendo o rosto no pescoço de Ritsuko.

"Desculpa por te acordar, Misato", virando o rosto, a médica deixou um beijinho delicado na têmpora morna da namorada.

"Só me deixa...", com um gritinho, sua fala foi interrompida por um forte bocejo que carregou um arrepio por todo seu corpo. "Me deixa ficar aqui com você um pouco e 'tá tudo bem."

"Não precisa pedir pra ficar do meu lado," outro beijo na têmpora, desta vez com um beijo no pescoço de retribuição. "você é sempre bem vinda."

Os dedos de Ritsuko, da mão que não rodeava a cintura da namorada, subiram delicadamente por sua barriga, sentindo a textura das extremidades das cicatrizes. Elas eram grosseira e grandes, mas Akagi achava que aquilo só adicionava mais ao poder da mulher.

"Misato?", com seu nariz pontudo escondido numa bagunça de fios de cabelos roxos, Ritsuko chamou, seus olhos verdes se fechando delicadamente.

"Hm?"

"Está tudo bem?"

Bingo.

Ritsuko soube que havia achado a ferida no momento em que os ombros da namorada tensionaram e sua respiração travou em seu pulmão.

"Não consigo mentir para você...", suspirou Misato, tirando seu rosto do ombro alheio para observar seus próprios dedos no curto espaço entre seus corpos; os de Ritsuko, tentando confortar a tensão, subiram pela barriga e seios da namorada até alcançar sua orelha, onde enganchou uma madeixa roxa atrás da cartilagem. "É só que... Sinto que não consigo relaxar. Mesmo de férias e com essa vista incrível, eu fico preocupada. Com tudo. Com eles."

Não era justo chamar Ritsuko Akagi de burra ou desadenta - a mulher havia sim notado que Misato estava preocupada com algo, os olhinhos castanhos e brilhantes sempre buscando prontamente seu celular pelos cômodos quando ouvia qualquer notificação de mensagem; Mas, mesmo notando, não achava que havia sido o suficiente para tensionar e criar nós nos músculos das costas da namorada.

"Querida, entendo que está preocupada. Você é provavelmente a mulher mais importante daquele lugar, de qualquer jeito.", Ritsuko apertou levemente o nariz de Misato entre seu indicador e polegar, descontraindo um pouco as tensões. "Mas vai ficar tudo bem, e eu não me importaria de pegar o primeiro voo de volta para casa com você se algo acontecesse."

O braço direito de Akagi, ainda rodeando a cintura fina, aumentou seu aperto.

As mãos incertas de Misato encostaram nos cabelos curtos e loiros de Ritsuko, as pontas pinicando carinhosamente sua palma.

"Obrigada, Rits."

Ritsuko não era muito boa com palavras de conforto - até por ser considerada uma mulher fria e que vai direto ao ponto, sem se importar muito se machucaria alguém - mas valia a pena mudar pequenos detalhes de si para ver aquele sorriso com caninos tortinhos no rosto de Misato.

"Eu que agradeço."

nome genérico de fanfic nao seiOnde histórias criam vida. Descubra agora