Parte 3 - A SALA DA CALDEIRA

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Seher

Estou toda dolorida, minhas costas estão arranhadas, tenho algumas marcas no meu corpo em pontos que ele colocou a boca.
Lembrar de tudo que aconteceu me deixa quente de novo.
Estou exausta na cama, mas não consigo pregar o olho.
Há pouco, enquanto me avaliava no espelho grande do banheiro, vi ali uma mulher me encarando que se parecia comigo, mas não era eu.
Existia ali um brilho no olhar, um ar de satisfação que não estavam antes.

A noite tinha sido intensa. Eu me entreguei àquele homem sabendo que seria só uma vez e nada mais, mas o que ele me fez sentir ali....
Não sei explicar.
Eu fecho os olhos e só vejo seu olhar bravo em minha direção. O silêncio do quarto não ajuda a esquecer os sons que ele fazia enquanto me levava a loucura. Não foi um ato delicado e romântico. Foi forte, foi intenso, foi delicioso.
Só de pensar em tudo fico de novo desesperada por ele.

Repasso cada coisa que aconteceu naquela sala da caldeira até que o cansaço me vence e eu sou obrigada a fechar os olhos.
Meu último pensamento antes de dormir é "será que é isso? Será que algum dia vou estar em seus braços de novo?"

********

Yaman

- Aaahhhhhrrr
Droga de mulher. Por que diabos eu a tinha trazido para dentro da minha casa???
Estou andando de um lado para o outro no meu escritório há uma hora, tentando colocar meus pensamentos em ordem.
Se a chuva não estivesse ainda tão forte la fora eu estaria agora atirando com minhas flechas.
Quando ela pegou sua bolsa e se virou para ir embora eu agi por instinto. Não consegui deixar que fosse. Não depois do que tinha acontecido. Não depois de imaginar  como seria ter aquela boca na minha todas as noites.
Quando me dei conta já estava arrastando a mulher para dentro do quarto como um selvagem. Por muito pouco não fiquei lá com ela e terminei o que tinha começado na sala da caldeira.
Droga de mulher gostosa!!
Droga de mulher petulante!!
Como eu iria conviver com ela agora debaixo do mesmo teto sem toca-la?

Não! Não pode ser!
Eu vou lá agora expulsa-la daqui. Ela não pode ficar.

Saio em disparada para o quarto que ela está e abro a porta.
Paraliso.
A tia de Yusuf está deitada, dormindo.
Seus cabelos espalhados pelo travesseiro, o corpo totalmente nu parcialmente exposto.
Tenho vontade de correr para ela de novo, mas seguro firme no batente da porta e forço  meu corpo a dar a volta para ir embora.
Amanhã. Amanhã ela vai.
Mas no meio do caminho para meu quarto um pensamento me ocorre. "E se alguém mais entrar no quarto e a ver assim?"
Droga!
Faço o caminho de volta para ela. Meu desejo turvando minha visão, minhas mãos tremendo um pouco.
Me aproximo devagar, com medo de acorda-la, pego a ponta da coberta e deslizo para cima, cobrindo seu corpo.

Ela abre os olhos.

Aquelas duas esmeraldas me encaram assustada, mas relaxam ao perceberem
que sou eu.
- Me mande embora- eu digo em um fio de voz
- O... q..que? - ela parece sonolenta e confusa.
- Me mande embora, mulher! Diga que não me quer aqui!
- P .... ppor que?
- Porque se você não fizer isto, eu fico e termino o que comecei na sala da caldeira.
Para meu horror, minha voz saiu bastante suplicante.
Ela arregala os olhos e puxa a coberta mais para cima, cobrindo mais seu corpo.
Eu solto o ar que não sabia estar preso nos meus pulmões.
Aquela mensagem era clara. Ela não me quer ali. Me afasto da cama e vou até a porta.
- Fica...

******

Seher

- Fica...
Eu ouço minha própria voz e percebo que acabei de pedir para ele ficar. Pedi?
A voz era minha, então acho que pedi...

Ele está parado na porta de costas para mim. Se eu nao estivesse ainda sentindo em minha pele a sensação do toque dele, a maciez de seus lábios e a aspereza de sua barba, provavelmente não acreditaria que acabo de pedir para Yaman Kirimli passar a noite comigo.

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