CAPÍTULO UM

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Não importa quantos livros e enciclopédias, Esther Ferreira leia, nenhum deles tem a resposta de quem de fato ela é, e qual a influência dela, neste mundo.

Uma verdadeira febre por saber por quê ela veio ao mundo da forma que viera, a consumia vorazmente, fazendo-a se afundar em um rio denso de dúvidas. Entretanto, a garota sempre se mostrou ser a mais entusiasta da família, e ainda que se sentisse receosa quanto a tudo o que acontecia consigo mesma, tinha fé, esperança e uma positividade corpulenta que a mantinha em ordem, mas mesmo assim parecia estar estreitamente a ponta de um precipício.

Sua mãe, Jéssica Ferreira, achava. — Ainda que ela não fosse psicóloga por título. — Que esta dúvida existencial era apenas um reflexo da excepcional adolescência da garotinha.

Pais... A "garotinha" estava prestes a completar dezoito anos. São dezoito primaveras bem vividas, mas peculiares aos olhos de Esther.

Desde que sua família se mudou há oito anos para Monteiro, ela começou a questionar ações, atitudes, coisas que ocorriam naturalmente na vida de todos, inclusive na sua. Contudo, a verdade é que ela tinha consciência do evolutivo mundo, e este, não a perdoava só devido a sua condição.

Ela olhava para as pessoas e elas demonstravam um padrão de comportamento que era sempre a favor do aparentemente impossível. Isto a fazia pensar: por que as pessoas desistiam?

Deixavam de levar seus projetos para frente, abandonavam os seus sonhos que chegavam nem sequer a tentar, cediam em seus romances quentes, que por um único deslize, era descartado como uma lata de refrigerante. Seria mais fácil abandonar um sonho e anseio e seguir o fluxo natural das coisas, mas esta correnteza é realmente natural?

Esther desenvolveu um medo, algo que era irracional e inevitável de sentir. Ela buscava entender o motivo pelo qual Fernando Rebouças. — Um dos seus melhores amigos e conselheiro. — Desistiu de tudo e todos, desaparecendo sem deixar rastros. Isso aconteceu no último dia do ano, quando todos estavam felizes e concentrados em suas próprias felicidades.

Ele inconscientemente, segundo alguns, talvez permitiu a passagem e instalação das indesejáveis sensações de desconforto, solidão, infelicidade e sobretudo medo, este último, que o roubou tudo, e ainda que Esther não entendesse muito bem, também a invadiu gradualmente, quase que sem alarme e se estabeleceu dentro dela, como uma bomba relógio prestes a detonar.

Talvez esta não seja a única coisa em que Esther deveria gastar seus neurônios em tentar consertar ou entender. No fundo, além de ter desenvolvido o medo de perder as pessoas que amava, ela começou a questionar seus sonhos e anseios, e sabia que cedo ou tarde aconteceria algo semelhante ao que ela vinha observando há tempos nas pessoas: a desistência.

Fernando tinha sonhos. Ela também. Ele tinha tudo o que poderia deixá-lo feliz. Ela também. Esther questionava um tanto egoísta ao se comparar, numa indagação profunda. Que diferença existia entre ambos? Será que ele já não enxergava as coisas de um modo surrealista como Esther havia aprendido a enxergar? Ou seriam verídicos os fatos e ele se perdeu no fundo, e estreito poço da depressão? Por mais que as pessoas jogassem toda a culpa sobre o admirável garoto, Esther sabia que Fernando era iluminado demais para ter planejado e executado uma fuga sem evidências.

VOLTA ÀS AULAS

A primavera começava para Esther quando o cheiro das rosas do quintal e das outras flores do grande e extenso campo logo atrás de sua casa, chegavam suavemente até ela, entrando sem permissão pelo seu nariz e acionando um pensamento instantâneo de romance, fazendo-a lembrar das grandes praças ornamentadas com belas tulipas mencionadamente¹ amarelas, que havia no centro de Monteiro.

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