CAPÍTULO TRÊS

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Esther gostava de sair e pedalar um pouco, de modo a refrescar a mente. Era uma espécie de meditação sobre rodas.

Naquele dia ela pedalou para longe. Foi em direção ao bairro onde Fernando Rebouças morava com seus pais, e coincidentemente encontrou o pai dele.

Denis Rebouças naquele exato momento, estava sendo expulso de um bar de esquina por dois homens grandalhões. Suas roupas surradas e sujas pareciam dizer que ele bebia há dias. Ele estava aparentemente embriagado naquele momento.

Esther não pensou duas vezes e foi ao encontro do homem, que trocava as pernas ao caminhar.

— Senhor Rebouças. — Ela disse, enquanto se aproximava do homem. O cheiro poderia ser sentido de longe. Ele havia realmente bebido.

Denis olhou rapidamente para trás, assustado.

— Eu não tenho dinheiro para pagar. Vá embora! — Ele resmungou com uma voz rouca e com sinais de embriaguez. Ele continuou a andar, cambaleando para fora da calçada e entrando no meio da rua que estava vazia e sem movimento de carros. Por sorte!

— Sou eu. Esther Ferreira.

Ele parou de caminhar e ficou quieto. Devagar olhou para trás de novo, com curiosidade.

— Está tudo acabado, menina. Eu os perdi. — Ele parecia desgostoso com tudo, retornando a olhar para a frente. Ele caminhou mais alguns passos.

Esther sabia intimamente que ele ainda estava arrasado devido à morte das pessoas mais importantes para ele, mas desconhecia da informação de que ele estivesse bebendo, e em um estado tão desumano.

— Eu sinto tanto... Deixe-me lhe ajudar a chegar até sua casa. — A garota se ofereceu, descendo da bicicleta e acompanhando seus lentos e dessincronizados passos.

— Eu o amo. Não entendo como meu filho teve coragem de me deixar. — Seus olhos marejados demonstravam o sentimento e a aparente mágoa que ele guardava no peito. Denis era sentimentalista.

Esther quase que se adaptou a tristeza dele e não demoraria muito para ela começar a chorar, mas ainda que ela estivesse em ruínas por dentro, por conta de todas as lembranças que vinham em sua mente, sabia que deveria demonstrar segurança primeiro.

— Ele é uma ótima pessoa, e sei que ele deve estar bem, e quer lhe ver feliz novamente. — Ela sussurrou, lançando-lhe um sorriso, mas foi um esboço simples e automático. No fundo, ela nem tinha certeza que ele estava realmente bem. Os olhos de Esther já estavam cheios de lágrimas e uma dor no centro do peito se instalou rapidamente, devido sua mania de segurar o choro e o ar em seus pulmões em momentos de estresse.

— Então você é uma das poucas pessoas que acredita que ele está vivo? — Ele indagou em lamento, apressando o passo. Denis tinha a estranha sensação de que algo de ruim acontecera com o filho, mas era mais suportável acreditar que ele o abandonou, ainda que doesse.

Foi preciso andar por cerca de quatro quarteirões, até chegar a casa onde tudo aconteceu.

— Eu sei que alguém que foge de casa não larga seus sapatos na rua. — Ela continuou, após minutos em silêncio. — O que quero dizer é que o caso não foi investigado a fundo e pode se tratar de um sequestro.

Esther ainda conseguia se recordar como se fosse ontem. Viaturas da polícia espalhadas por toda cidade, equipes de buscas atrás de evidências sobre o suposto desaparecimento de Fernando.

Na noite seguinte ao desaparecimento, lá estava Denis, jogado às escadas, se perguntando onde estaria seu único companheiro.

Foi há exatos oito meses. Em uma passagem de ano que para ela, a partir de hoje, sempre será o dia em que ele sumiu.

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