CAPÍTULO DOIS

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O que mais impressionava Esther nas pessoas em geral era o modo como acreditavam que as coisas eram tecnicamente impossíveis.

Seria nossa sociedade, impressionada com as injustiças, desforras políticas, mentiras e ilusões dos maioritários que a tornava assim?

Visto que nascemos em um lugar, ainda que este não mostre perspectiva de vida, ou nos apoiem de maneira realista e positiva, o que define nosso "possível" não é o mundo ao nosso redor, senão nossa capacidade de vê-lo em profundidade, muito além da camada grossa que criamos em nosso campo de visão.

Ainda que Esther vivesse uma vida tranquila e absolutamente normal com sua deficiência, ela não perdia as esperanças de um dia poder ver o mundo colorido. Pelo menos esse desejo caminhava ao lado dela desde quando ela era criança.

Há um ano, foi divulgado um teste experimental que poderia reverter a condição da acromatopsia, e é claro, ela apostou todas as suas crenças nesse possível tratamento.

Seus pais decidiram então buscar ajuda com um profissional, de modo a saber se ela estava apta para fazer o procedimento. Eles começaram então a se encaminhar durante alguns finais de semana até o consultório médico da Dra. Cecília, na cidade vizinha.

Era duro, mas absolutamente necessário.

A garota foi alertada antes de tudo, que precisaria de um milagre para continuar, e claro, ela fez o melhor para expressá-lo.

O que muitos talvez não soubessem era que, orar em busca de um milagre é dizer escandalosamente para o mundo que você não vê o possível, por outro lado, aciona um sentimento puro de crença no improvável, e certamente obteria respostas. Entretanto, a base lógica de cada milagre está no que você sabe sobre ele. Se você tem a consciência que as coisas são impossíveis, certamente seu milagre é só um esboço em anseio, mas quando você manifesta a consciência de que tem o impossível em suas mãos, todo milagre é manifestado. Contudo, as pessoas também deveriam saber que, se seus pulmões processam o oxigênio para seu sangue, seu magnífico coração bombeia sangue e seu sistema nervoso sente o universo a sua volta, esta é a prova mais inquietante de que milagres são possíveis.

A Dra. Cecília era uma renomada oftalmologista do país. Em uma pesquisa mais avançada da ciência, descobriu que seria possível, através de um delicado processo biogenético, que Esther voltasse a enxergar pelo menos noventa por cento de cor. As chances de sucesso eram de um em dois mil. O que não desanimou a família nem um pouquinho.

É claro que o procedimento era delicado, e qualquer erro poderia piorar ainda mais o problema, ou deixá-la totalmente na escuridão.

Quando você descobre que pode mudar um fato em sua vida, como este que Esther estava prestes a receber, involuntariamente sua consciência começa a sugerir questões do tipo; "isso realmente é necessário?", "você está pronto para isso?", "quais são as consequências." Ora, isso era apenas o medo que ela sentia. Esther precisava expeli-los para continuar com o que era preciso, se assim o sentisse como necessário.

Ainda que Esther vivesse sua vida em plena adaptação e crescendo positivamente com sua condição, um desejo ardente de poder possuir o mundo diante de si mesmo, da magnífica forma como as outras pessoas o via, se expandia dentro dela, mas tudo era muito rápido.

— Colocou tudo no carro, filha?

— Sim, pai. Já podemos ir. — Esther abriu a porta do carona do carro, jogou sua mochila no banco e entrou no automóvel, colocando seus fones de ouvido e ajustando o volume em um nível em que ela pudesse ouvir seu pai.

Viajar por duas horas para ela, poderia ser chato demais, mas se tinha uma coisa que ela adorava, era de estar na companhia do seu bom e sábio pai. O que mudava tudo, pois ele tinha um senso de humor adorável.

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