Está me perseguindo?

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Lalisa Manoban

Nesse exato momento estou escutando um sermão do professor sobre a mancha horrenda da porta. Pra minha sorte ele não crê que foi um dos seus alunos que fez isso, ele acha que algum engraçadinho entrou ao ver que a porta estava destrancada e aproveitou a oportunidade de fazer um trote sem graça. Engulo em seco e me movo desconfortavelmente na cadeira algumas vezes, sei que ninguém sabe que foi eu, mas o sentimento de culpa me consome. E piora quando decido que não vou assumir o estrago que causei, prefiro levar isso ao meu tumulo do que receber um sermão na frente da turma.

Acabo me conformando com isso, não estava tão ruim assim. Era só passar uma mão de tinta branca por cima e pronto! Problema resolvido.

— Vi que não terminou a sua pintura ainda. — Tzuyu comenta, me acompanhando enquanto saímos de sala. — O professor está de olho na minha, quem sabe ele não escolha a minha obra pra exposição de artes? — ela cruza seus dedos e sorri mordendo seu lábio inferior. Vindo de Tzuyu , aquilo foi uma sutil ameaça, pois não somos amigas. E eu sei que ela está doida com essa exposição, mas eu também estou, na realidade todo mundo está. É importante.

E se ela acha que isso me abalou, ela está... Um pouco certa. Porque eu estou desesperada, tive um bloqueio de criatividade que não sai de mim, o prazo está acabando e tudo o que eu tenho vontade de fazer é chorar, pateticamente chorar.

Aperto meu punho com força e respiro fundo, eu ainda tenho tempo. E agora, estou indo para uma cafeteria pintar uma parede, vou fazer um lindo campo de girassóis e talvez isso me de alguma inspiração, sem contar que vou receber pra isso.

Eu levo todas as minhas coisas e confesso — diferente dos outros alunos. — que eu amo usar o macacão jeans que está sempre sujo de tinta de tanto que o usei para pintar. Cada mancha, um quadro diferente, outra história e emoção.

Faço o desenho que a gerente do lugar me pediu, a chamo umas quatros vezes para conferir se estava do jeitinho que queria e quando ela confirmou pela quarta vez que sim, comecei a pintar.

Meia hora de trabalho depois as minhas mãos estão doloridas e a minha mente necessitando de uma pausa. Quando me viro, me dou de cara com Jungkook que acaba de entrar no café. Ao me ver ele arqueia a sobrancelha surpreso e um sorriso atrevido toma conta dos seus terríveis lábios carnudos.

— Veio me ver, anjo? — perguntou, com a mesma voz rouca habitual de sempre.

— Se não percebeu eu estava aqui primeiro. — respondo firmemente, forçando um sorriso doce. — Está me perseguindo? — indago cruzando meus braços e o seu sorriso acaba de aumentar. De repente ele puxa um avental debaixo da bancada e amarra em volta do corpo. O desgraçado trabalha aqui.

— Tem uma coisinha no seu rosto. — me avisou, mas eu não me importei. Sabia que tinha um pouco de tinta em cada centímetro do meu corpo, afinal eu estou pintando e isso sempre acontece. Então não movo um musculo, mantenho-me de braços cruzados não dando a mínima para o que ele disse. Até que ele aproxima a sua mão do meu rosto e passa os dedos pela minha bochecha, a tinta amarela manchou as pontas dos seus dedos. — Pronto. — Jungkook murmurou mostrando-me aquele sorriso torto e depois virou-se indo para trás da bancada.

Por um momento senti o meu corpo pegar fogo e demorei para me recuperar do seu simples toque. Definitivamente tem alguma coisa de errada acontecendo comigo. Rapidamente me viro para a parede que estava pintando, meu coração havia se acelerado e a minha respiração estava inquieta.

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