Capítulo V - Carta de um romance falhado

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Meu querido,

Hoje, escrevo-te esta carta, da qual nunca te mandarei.

Não estamos em tempos antigos, mas sempre achei que uma carta é o elo de conexão e, por consequência, o elo de desvinculação - olha, rimou! E nem fiz de propósito! -. Chama-me antiquado, se assim quiseres, irei permitir tal adjetivo.

Não serei como todos os outros, que cospem no prato em que comeram e/ou que se orgulham "daquilo e do outro" que fizeram, que se colocam com clichés para descrever uma relação claramente fatalista e sem futuro. Para isso, lerei Nietzsche, que é bem mais interessante. Também não irei recorrer a palavras de baixo calão, visto ser uma Lady, com princípios - autodidata, mas uma Lady com princípios nevertheless -.
Não, hoje serei objetivo, duro e frio, tal equivalente às tuas ações nos tempos que correm.

Vejo, antes digo, observo, que finalmente conseguiste encontrar a tua paz - ou um namorado novo, se assim quiseres -. É apenas uma teoria minha, suportada por factos que posso ou não referir na presente carta.

Permitindo-me recuar um pouco atrás no tempo, faz quase 1 (um) ano que terminámos a nossa relação. Não direi que durante esse tempo fui uma pessoa infeliz, porque, na realidade, fui feliz, ainda que, essa mesma felicidade de que agora falo, mas que depressa se dissolve - mais uma vez, à luz das tuas recentes ações -, tenha sido a felicidade a que o universo nos expôs, sendo ela breve ou não.
Se bem me lembro - e é claro que me lembro -, a ideia foi minha, mas o consentimento foi de ambos. Promessas foram trocadas, lágrimas foram derramadas - rimei, outra vez! - , blá, blá, blá...
Há, contudo, uma promessa da qual irei relembrar-te: a promessa de uma amizade - ainda que fosse doloroso para ti mantê-la -.

Tempo e tempo passou... Sei que, cada vez que passavas por mim, que te lembravas da dor que sentiste naquela fatídica noite e de dia para dia, a mesma promessa que acima referi, foi-se tornando uma dais quais não poderias continuar a manter - repara que eu não disse poderíamos, mas sim poderias -.

Não estou à procura de desculpas e muitos menos as vais ter, pelo menos da minha parte. Já faz um bom tempo que deixei de acreditar nos romances desenfreados que os contos de fadas teimam em publicitar às gerações mais novas - nada contra, atenção -. Ainda que hoje acredite no ato romântico e o que todo ele envolve, rapidamente te digo que o amor é efémero e que dificilmente é compreendido. Com isto não quero dizer que todas as relações estão predispostas a falhar, porque não estão. São sim as variantes - claramente humanas, de foro emocional e psicológico, pelo menos no meu caso - que podem colocar as relações em xeque e/ou em xeque-mate.

Durante muito, muito tempo, senti-me culpado pelo término na nossa relação. Posso dizer-te que me consumiu de forma desgastante, levando-me ainda mais baixo do que atualmente estava - digo, referente à minha depressão -. Sim, eu sei que não tens culpa. Mas é claro que não! A única culpa que te posso atribuir será a quebra da promessa que, mais uma vez, foi formada naquela fatídica noite, quando muitas outra promessas foram trocadas e blá, blá, blá...

Não sei o que se terá passado para que a promessa tenha sido rompida e, de agora para a frente, deixarei de me referir a ela enquanto promessa, isto porque, segundo o dicionário:

Promessa, nome feminino;
1- ato ou efeito de prometer = prometimento, promissão;
2- declaração em que se anuncia a outrem ou a si mesmo uma ação futura ou intenção de dar, cumprir fazer ou dizer algo;
3- [figurado] esperança fundada em aparências;
4- acordo, oral ou escrito, em que as partes se obrigam a cumprir o estabelecido;
5- [religião] oferta ou obrigação a que alguém se compromete perante uma divindade ou um santo para obtenção de uma graça = voto. Ex.: casamentos.

Repara, não sou eu que o estou a dizer, mas sim o dicionário.

Como é óbvio, não irei obrigar ninguém a manter promessas das quais não querem cumprir, todos nós somos livres e, ainda que me lembre, vivemos numa democracia - mais livre para uns, do que para outros, mas isso é tópico de conversa para outra altura -.

Só quero que saibas que fiquei aborrecido, por diversas razões, digo, ações - rimei, mais uma vez! -. Não sei o que fiz para merecer block e muito menos para não merecer uma resposta. Lá terás as tuas razões e eu lá terei as minhas, para quando, passares por mim na rua - porque sejamos honestos, vai acontecer -, não seres merecedor de um cumprimento meu, ou até mesmo de qualquer palavra que possa não proferir ou querer proferir - ainda que eu seja uma Lady, ser educado, por educação, é ser mais mal educado do que não o ser, de todo -. Se me tornei um outcast na tua vida, já está na altura de eu fazer o mesmo contigo.

A isto não se chama ressentimento, infantilidade, pagamento na mesma moeda ou qualquer outra coisa de conotação negativa, mas sim finalmente poder fazer as pazes comigo próprio e libertar-me desta culpa, da qual me tem consumido infinitamente.

Ainda que nunca me esqueça, mas, já sem qualquer amor,

Antigamente teu.

P.S: Estava mesmo a falar a sério quando disse que não te iria mais cumprimentar na rua, ou até mesmo noutro sítio qualquer.

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