O felino não teve uma reação boa ao meu ato. Ele arranhou a minha bochecha com suas unhas gigantescas e sibilou para mim.
Confesso que estava com muito medo do garoto, ele agia como um gato e parecia ser muito agressivo. Além disso, ele pode me passar algum tipo de vírus ou doença. Afinal, ninguém sabe de onde ele veio.
Eu levantei-me devagar, tentando não aterrorizá-lo ainda mais. Então, quando eu já estava longe o bastante do menino, saí correndo em disparada para casa.
Eu realmente queria ajuda-lo, mas ele me arranhou, e eu não faço ideia de onde ele tenha vindo. Ele pode ter raiva, ou uma doença específica de gatos. Eu só queria ficar seguro.
Um remorso começou a tomar meu coração. Eu olhei para trás e vi o pequenino com os olhos cobertos de lágrimas e sua face avermelhada. Demorei alguns segundos antes de correr de volta para o gatinho.
Eu o estendi a mão em forma de ajuda, ele não a pegou. Eu segurei seu corpo forçando-o a levantar e ir comigo, ele negou. Depois de tentar levantá-lo pela décima vez, ele cedeu.
Quando chegamos à minha casa, a primeira coisa que o garoto fez foi afiar suas unhas em meu sofá. Eu gritei com ele e então ele pareceu ficar chateado, fazendo eu me arrastar pelo chão para lhe pedir desculpas.
Mas daquilo nada adiantou, porque dez minutos mais tarde a cadeira da cozinha virara o alvo de suas garras.
Não me sobraram opções a não ser trancá-lo na lavanderia. Eu tentei lhe fazer trocar de roupa, mas ele se recusou incessantemente a tirar seu moletom. A única coisa que pude fazer foi lhe dar um par de meias de pinguins e uma calça para se esquentar.
Ele tentou me arranhar novamente e eu entendi o recado de que ele queria privacidade.
O corte em minha bochecha estava ardendo até demais, e eu corri até o banheiro para então olhá-lo no espelho. Estava realmente feio. Mas a única coisa que fiz foi limpar com álcool (o que me rendeu algumas lágrimas) e então fazer um curativo pequeno.
Já eram quase nove da noite e eu decidi que seria bom preparar o jantar. Eu saí do banheiro e tomei rumo à lavanderia.
— O que você quer comer? — eu perguntei ao gatinho, não obtendo uma resposta. Porém, se fez presente um miado longo e feroz vindo do lado de dentro da lavanderia. — Okay, eu acho que isso significa... — tentei pensar em qualquer coisa gostosa que eu soubesse fazer. — Macarrão com queijo! — então peguei os ingredientes e comecei a cozinhar.
Depois de mais ou menos vinte minutos ouvindo miados ferozes e arranhões na porta, a comida estava pronta.
— Ok gatinho, eu vou te soltar e você não vai me arranhar e muito menos destruir as minhas coisas! — eu o alertei, abrindo a porta lentamente ao que ele pulou em mim fazendo-me cair no chão. — N-não me a-arranhe! — botei as mãos em seu rosto, tentando evitar alguma agressão. Ele miou e mordeu a minha mão esquerda. — AI! GATINHO FEIO! NÃO PODE FAZER ISSO! AI! ISSO DÓI, CARAMBA. — eu empurrei seu corpo de cima do meu fazendo o menor cair no chão. — Você deveria ficar sem comida depois dessa. — ele miou em resposta, não demorando a sair correndo.
Peguei dois pratos, quatro talheres, dois copos e os coloquei na mesa, esperando que o garoto se sentasse em uma das cadeiras e comesse a comida. Mas não foi isso que aconteceu. Ele apenas se sentou no chão, escorado na parede, para então, ficar me encarando.
Eu coloquei um pouco da comida em seu prato para oferecê-lo de perto. Ele me encarou e deu de ombros.
— Tudo bem, o que você quer? Eu estou te dando um abrigo, um lar para morar, uma cama para dormir, comida para comer e você me agradece sendo agressivo desse jeito? Que tipo de coisa é você? De onde veio? Por que tão agressivo? — eu pausei esperando uma resposta, mas eu só consegui um garoto bufando em minha frente — O que eu poderia esperar de uma aberração, não é mesmo? — eu arregalei meus olhos ao que percebi o que havia falado.
As orelhas do gatinho ficaram achatadas e ele engatinhou para longe, soltando um miado baixo de surpresa.
Droga, eu não queria dizer que ele era uma aberração, pelo contrário, ele é uma das coisas mais bonitas que eu já vi.
— Desculpe-me, eu não quis dizer que você é uma aberração, tá? Você é só... Anormal e agressivo. — ele sibilou em resposta e então eu desisti. Talvez ele não houvesse ficado tão chateado.
Eu me sentei novamente à mesa e saboreei minha comida. Durante quase quarenta minutos eu e o gatinho ficamos nos encarando. Na verdade, eu fiquei o encarando. Ele parecia estar mais interessado em suas unhas ou em puxar um dos fios soltos do tapete.
Os meus olhos começaram a piscar ocasionalmente em sinal de sono, e então eu decidi que devia desistir. Se ele quiser comer alguma coisa, ele que vá, pegue e come. Eu vou ir dormir.
Deixei o prato de macarrão em cima da mesa da sala e fui para o meu quarto.
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Fungos, soluços... Por que isso está atrapalhando o meu sono?
O garoto.
Massageei meus olhos e olhei no relógio. Exatas 04h21min da madrugada. Eu me levantei, e então os soluços e fungos começaram a ficar mais altos ao que eu me deparei com o gatinho deitado no sofá.
— Hey? — eu chamei. Ele não moveu um músculo. Logo me sentei ao seu lado. — Por que está chorando? — ele sentou no sofá ficando lado a lado comigo sem responder nada. — Não vai me arranhar né? — eu olhei dentro de suas esmeraldas e então ele balançou a cabeça em sinal de negação. — Você não está muito feliz, não é? O que aconteceu? Você pode falar? — ele balançou a cabeça novamente.
— Ah... Que pena. Espero que você fique bem! Só... Não chore. Eu estarei aqui se precisar. — senti os braços do menor rodearem meu corpo. Ele estava me abraçando. Deus!
Depois de alguns segundos, ele se afastou. Senti seus dedos tocarem o curativo em minha bochecha, e ele resmungou alguma coisa que concluí ser um pedido de desculpas. Eu afaguei seu braço como se dissesse que estava tudo bem.
Depois de alguns minutos de silêncio ele deitou no meu colo. Talvez ele estivesse carente já que estava totalmente o oposto de mais cedo.
Eu acariciei suas madeixas hesitantemente, e alguns minutos depois ele começou a ronronar. Isso é... Bom. Significa que ele está dormindo.
O gatinho esticou mais suas pernas cobertas por uma de minhas calças de moletom e pareceu relaxar mais os ombros quando eu passei uma de minhas mãos lentamente por suas costas.
Eu acabei adormecendo ali, e também, eu não me atreveria a acordar o pequeno gatinho dos olhos verdes-esmeraldas que era extremamente bipolar. Afinal, tudo isso era estranho. Muito estranho.
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bipolar ➳ muke
FanfictionNós nunca sabemos o que a vida guarda para nós, ela é como uma caixinha de surpresas, não é mesmo? Podemos ser presenteados com coisas boas ou ruins. O presente de Luke foi um tanto ruim quanto bom, talvez um tanto bipolar.