Michael.

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            Um feixe de luz iluminou meus olhos ao que eu os forçava, tentando despertar. 07h30min da manhã. Hora de fazer pão.

            Deparei-me com um pequeno rosto deitado em minhas pernas e sorri com a cena. O gatinho era extremamente fofo dormindo, suas orelhinhas ficavam para trás e ele ronronava baixinho. Tirei sua cabeça com cuidado de minhas pernas e a aconcheguei em uma almofada no sofá. Ele não acordou, para o bem de todos.

            Eu me levantei e fui escovar os dentes enquanto sentia algumas dores nas costas pela má posição que dormi. Eu nunca tinha dormido no sofá antes, seja enquanto eu via um filme ou descansava do trabalho, eu sempre volto pra cama. Mas quando eu percebi que o garoto havia dormido eu não tive coragem de acordá-lo.

            Quando passei pela sala o gatinho ainda estava deitado, logo deduzi que ainda dormia. Após chegar à cozinha, peguei os ingredientes para fazer o pão. Afinal, nada melhor do que pães fresquinhos e quentinhos para comer de manhã.

            Após eu ter preparado toda a massa e a colocado no forno, ouvi um estalo vindo da sala.

— Gatinho? — eu chamei, recebendo um miado medroso em resposta.

 Em segundos, um garoto de orelhinhas peludas estava agarrado às minhas pernas, tremendo de medo.

— O que aconteceu?  — eu perguntei mesmo sabendo que ele não ia me responder. Aproximei-me um pouco mais da sala e deparei com uma barata gigante correndo sobre meus pisos. — VOCÊ VAI MORRER SUA DESGRAÇADA, VEM CÁ! — eu corria atrás dela com um chinelo na tentativa de mata-la — NINGUÉM MANDOU VOCÊ ENCOSTAR NO GATINHO — bati o chinelo contra a barata. — Mortinha, bebê! — exclamei para o garoto assustado em cima do meu sofá.

            A reação do menor não foi muito boa. Ao ver a barata toda ensanguentada e esmagada no chão, correu para fora. Resolvi seguir o bichano e percebi que estava chovendo, e para ajudar o gatinho havia capotado em uma poça de lama.

            Eu me aproximei do pequeno e ele havia se sujado todo. Ele miava alto, seus miados saindo desafinados e desesperados. Sua camiseta – a qual não tirara desde que entrara na casa – também estava toda lambuzada.

— Você vai precisar de um banho, pequeno. — eu disse ao que o gato congelou ao ouvir a palavra ‘’banho’’.

            Eu tentei pegá-lo no colo para leva-lo ao banheiro, mas ele tentou arranhar meu braço.

— Por favor, gatinho. Você precisa tomar um banho. — eu comecei — Eu juro de dedinho que te dou algo em recompensa, mas, por favor, deixa eu te dar um banho ou você irá feder para sempre! — eu estendi a mão e ele esticou seus dois braços para mim, igual a uma criança pedindo colo.

            Eu suspirei e o peguei em meus braços, pouco ligando se me sujaria inteiro. Ele enterrou seu rosto em meu pescoço e agarrou a minha blusa, soltando um miado tremido. Bem, ele devia estar com frio.

Eu o levei até o banheiro e o sentei sobre a pia. Reparei que o garoto estava falhando na tentativa de tirar sua camiseta e então eu o ofereci ajuda.

— Você precisa de ajuda? Sabe... Eu estou aqui para isso. — eu coloquei a mão na borda da camisa do garoto. Ele sibilou friamente para mim, mas não recusou meu ato. E quando eu finalmente tirei sua camiseta deparei com um nome escrito perto de seu umbigo. Michael.

— Quem é Michael? — eu indaguei — Você é Michael? — olhei nas esmeraldas do gatinho e eu sei que ele quis dizer ‘’sim’’. O olhar dele falava tudo. E então, apenas balançou a cabeça afirmando minha pergunta. — Bonito o nome.

            Liguei as torneiras da banheira e percebi Michael estremecer com o barulho da água. Era evidente que ele odiava tomar banho, mas, se for para morar na minha casa, ele terá que fazer isso frequentemente.

            Enquanto ele tirava a roupa, tentei não olhar para as suas intimidades, isso o deixaria muito furioso e constrangido. Eu o entendo. Então, só o ajudei a entrar na banheira ao que ele se desequilibrou e me levou junto. Percebi que Michael não estava com seu nariz para fora da água e estava esmagado com o meu peso. Ele se debatia para sair dali, então eu pulei para fora da banheira e ajudei-o a se recompor.

— Você está bem? Por favor, não se assuste... Foi só a primeira vez. — o cabelo dele pingava as gotas disparadamente e ele tossia para tirar a água de seu pulmão. Eu olhei em seus olhos e vi que ele estava aterrorizado. Realmente, deve ter sido um trauma quase se afogar no primeiro banho. — Diga-me que não te machuquei. Desculpe-me, sou um desastrado. — ele espirrava enquanto eu falava. Acho que ele não gosta que molhem o nariz dele.

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— Está pronto para passar shampoo? — eu disse colocando um pouco da essência em minha mão. Ele miou e começou a arranhar a banheira. — Isso é um não. Mas espero que se transforme em sim, porque eu vou passar shampoo.

            Enquanto eu massageava seu cabelo percebi o garoto um pouco sonolento então, logo parei de massagear para ele não dormir na banheira. Peguei um pouco de condicionador. Apenas um pouco. Pois ele não precisava de muito porque seu cabelo era extremamente liso. Massageei novamente seu cabelo e apreciei seu sorriso de prazer.

— Está boa a massagem? — ele olhou raivoso para mim e sibilou. Eu fiquei abismado com a mudança de temperamento do gatinho.

            Depois do banho nós dois fomos até meu quarto. Ele estava enrolado na toalha e eu precisei emprestá-lo algumas roupas.

— Gostou da blusa? — perguntei enquanto olhava o gatinho brincar com o cordão do moletom branco. — Venha cá. — bati na cama, o incentivando a se sentar ali.

            Ele se sentou entre minhas pernas e eu comecei a secar seus fios de cabelo.

            O contraste do frio do tempo e o quente do secador de cabelo eram perfeitos. Michael tinha sua pele toda arrepiada e ele sorria com a sensação. Eu massageava suas orelhinhas e seu cabelo enquanto os secava e isso o fazia fechar os olhos de prazer.

            Michael começou a tombar sua cabeça pra trás, como se quisesse que eu parasse. Eu desliguei o secador e baixei minhas mãos, e em num instante ele se jogou contra meu peito.

            O gatinho esfregou sua cabeça em meu pescoço, pedindo carinho. Comecei a acariciar sua nuca e me apoiei na cabeceira da cama, apenas esperando que Michael terminasse de se aconchegar em mim, virando, literalmente, uma bola.

 Eu já estava me preparando para chama-lo para irmos comer quando ele começou a ronronar baixinho, agarrando minha blusa com uma de suas mãos enquanto dormia.

            Suas orelhinhas quentes e macias estavam pressionadas contra meu rosto e eu estava me sentindo abraçando um brinquedo de pelúcia.

            Os meus olhos começaram a pesar e logo a ideia de passar a manhã toda na cama não me pareceu tão má.

bipolar ➳ muke Onde histórias criam vida. Descubra agora