dia 10

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Marco havia acordado com uma enorme dor de cabeça e tornou a fechar o olho, esperando que voltasse a pegar no sono e ao menos aquela dor quase insuportável fosse embora ou ao menos diminuisse com um pouco mais de descanso.

Infelizmente, a dor latente não o permitiu voltar a dormir, o obrigando a se levantar e buscar por algum comprimido para dor. Logo seguiu para o banheiro onde fez suas necessidades e higiene básicas, encarando-se no espelho, suspirando baixo ao notar o estado de sua barba.

Um pouco a contragosto decidiu por fazê-la, mesmo que odiasse a sensação um tanto aflitiva da lâmina passando em sua pele, também lhe incomodava a forma como os pêlos pinicavam sua mão quando tocava.

Em seguida foi para a cozinha, optando por fazer um chá para ver se ao menos ajudava a potencializar o efeito do remédio.

Com a xícara fumegante em mãos, o loiro se encaminhou para a janela, a abrindo e deixando a brisa da manhã entrar junto ao calor reconfortante do Sol.

Apesar de quente, o calor não estava tão forte assim, havia dado uma sutil amenizada em comparação aos dias anteriores.

Após um pequeno gole em seu chá, o loiro voltou seu olhar para a rua, onde ouviu uma sequência de buzinas que quase o fizera derramar o líquido pelo susto.

Ao perceber que não ocorrera nada demais na rua, Marco ergueu seu olhar, aquela vozinha curiosa em seu inconsciente implorando para que desse uma pequena olhada para a varanda a frente.

Logo um suspiro deixou seus lábios ao notar o rapaz novamente sem camisa com a posse de alguns produtos de limpeza. As mãos segurando firme na vassoura enquanto varia a varanda e balançava suavemente o corpo, ao mesmo tempo em que os fones residiam tranquilamente em suas orelhas.

O loiro inconscientemente deu um pequeno sorriso ao vê-lo aparentemente mais alegre. Tentou se refrear e desviar a atenção, mas logo voltava a observá-lo, apreciando a forma como o moreno parecia mais desenvolto enquanto fazia sua faxina.

Era engraçado acompanhá-lo puxar a vassoura para si como se fosse uma pessoa e em seguida girar algumas vezes antes de retornar a varrer.

O loiro quase deixou uma risada alta escapar quando o rapaz, por descuido, acertou o borrifador de água com o cabo da vassoura e olhou assustado o objeto cair os quatro andares até a calçada, espatifando com tudo no chão.

Em seguida ouviu a voz do rapaz gritar algo para as pessoas lá embaixo, o que imaginou se tratar de um pedido de desculpas pelo acidente.

Foram longos minutos até que o moreno sumisse de vista com os objetos, o que causou um muxoxo contrariado em Marco que logo tratou de voltar sua atenção para o chá em suas mãos que por pouco não havia esfriado completamente.

Nekomamushi se aproximou do loiro, pulando em seu colo e deitando ali. Marco deu um baixo suspiro antes de beber o resto do conteúdo.

Logo apoiava a xícara na mesinha de cabeceira e voltava seu olhar para fora, deixando-se entreter por qualquer coisa que acontecesse do lado de fora.

Estava no completo tédio naquele dia, principalmente após Ace ter saído da varanda e com isso ter perdido aquele que ao menos fazia o tédio se esvair.

O loiro apoiou a cabeça contra a parede, dando um suspiro baixo e em seguida dando uma baixa risada de sua situação.

— Agora eu realmente pareço uma adolescente apaixonada — falou em voz alta para si mesmo, levando suas mãos até seu rosto, esfregando suavemente a pele e olhando em direção a sua cama, sentindo o remédio aos poucos fazer efeito.

Logo se encaminhou para a cama, disposto a tirar um cochilo para que melhorasse de sua dor de cabeça. Nekomamushi o acompanhou e em poucos minutos os dois caiam em um sono profundo.

Marco só voltou a acordar quando o felino miou repetidas vezes ao lado de seu ouvido, passando a pata em seu braço e lambendo sua cara com a língua áspera.

O loiro piscou lentamente até recobrar totalmente sua consciência e se sentou no colchão, logo se adiantou para alimentar Nekomamushi e fazer algo para comer.

Depois decidiu tomar um banho para refrescar e ler um pouco apreciando a brisa suave que adentrava pela janela.

Entretanto, antes de retomar sua leitura, o loiro resolveu dar uma última olhada para a varanda de Ace, notando que o rapaz havia retornado e estava acompanhado de outro alguém de altura aproximada a sua, os fios ondulados e dourados emoldurando seu rosto.

Marco deixou o livro um pouco de lado e se manteve atento a movimentação da varanda. As teorias logo se produziam em sua mente, as suposições lentamente criando vida.

Seus olhos acompanharam o moreno levar uma lata amarelada para seus lábios, entornando seu conteúdo, em seguida direcionou um sorriso ao rapaz ao seu lado, oferecendo a lata para ele.

Marco observou a cena por longos segundos, se questionando se o loiro na varanda era um amigo do moreno, mas pela proximidade que os via ter parecia pouco provável. Contudo, não era nenhuma hipótese descartada.

A segunda suposição era de que o loiro talvez fosse algum pretendente ou alguém em quem o moreno estava interessado. Essa suposição era a que parecia dominar a mente de Marco, ainda mais quando notou os sorrisos que trocavam e os breves abraços que se sucediam.

A terceira era a de que o rapaz fosse algum parente próximo, talvez um irmão ou primo. Também lhe parecia plausível, apesar de sua mente insistir na segunda.

Um leve bico surgiu nos lábios de Marco que se debruçou com os braços no beiral da janela, deixando o queixo repousar sobre eles e seus olhos permanecerem atentos aos dois rapazes.

Se comparado aos dias anteriores, o moreno parecia bem mais alegre e vívido, até mesmo daquela distância era possível perceber que os sorrisos que direcionava para o outro eram verdadeiros e radiantes.

Mas ainda havia aquela vozinha curiosa em seu encalço que ansiava por descobrir os pormenores e detalhes do que se passara com o moreno. Além do fato de seu coração falhar uma batida a cada sorriso que via florescer no rosto do rapaz.

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