PRÓLOGO

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RAFAEL

— Pai, eu já disse que estou chegando! Você nunca vai parar de me tratar feito uma criança? Tenho ciência de meus compromissos e horários, para sua informação!

Ajeitei o fone do celular em meu ouvido desviando da aglomeração de pessoas que se movia pela calçada movimentada da Avenida Paulista. A cidade não podia estar mais cheia naquela chuvosa tarde de sexta-feira.

— Sabe tão bem de seus compromissos e horários que está atrasado três horas! Pode não ser uma criança Rafael, mas certamente se iguala a uma em muitos quesitos, rapaz! Se não estiver aqui em meio hora vai se ver comigo, garoto!

Parei em meio ao caminho quando ele desligou e observei meu celular com profunda indignação.

— Garoto? — Sussurrei olhando o visor do celular marcando uma ligação terminada — Droga!

Rapidamente coloquei o celular no bolso interno de meu terno e corri em direção à cafeteria onde meu pai marcou nosso precioso encontro programado há duas semanas. Eu podia estar agindo como um idiota por me atrasado, mas quando o que te detém é uma festinha particular de final de expediente no consultório com a assistente, não há nada que possa me parecer mais interessante.

Abri a porta com força e me deparei com os refugiados da chuva forte se assustando com o barulho imenso que o maldito sininho de anuncio propagou no ambiente. Em meio a várias silhuetas molhadas avistei meu pai sentado sozinho em uma mesa nos fundos. Exageradamente afastado dos outros.

Sem pensar atravessei o espaço que nos separava e logo puxei uma cadeira frente a ele, que por sua vez tinha os olhos voltados para uma fumegante xícara de cappuccino. Nitidamente me ignorava com a decepção estampada na face.

— Rafael, você é terrível! — Disse quando abri a boca na intenção de me desculpar. Sorri de canto com suas palavras e levei a mão ao meu óculos, o puxando do rosto e pendurando no terno escuro — Definitivamente a palavra responsabilidade está descartada de seu vocabulário!

— Desculpe, mas não foi culpa minha! Estiver preso no consultório até mais tarde por motivos profissionais! O senhor bem sabe como é ser um médico recém-formado! Já esteve na minha pele um dia, grande Doutor João Roman!

Meu pai era um dos melhores cardiologistas da cidade, talvez do país! Além de um médico conceituado, também ministrava palestras e aulas em universidades. Sua reputação era admirável e eu — obviamente — ia contra tudo que o grande Doutor-Professor Roman pregava!

— Preso no consultório com uma enfermeira ou sua secretária? O que faziam? A enfermeira estava auxiliando você a atender a secretária? — Meu pai ergueu a sobrancelha e suspirou — Francamente, Rafael. Se existe uma pessoa no mundo que te conhece, esse com certeza sou eu!

— Tudo bem, pai! — Ergui as mãos em sinal de paz — Confesso que estava com uma mulher e perdi a hora! Desculpe-me se valorizo minha masculinidade, assim como o senhor me ensinou.

O olhar dele foi irado e mortal.

— Perdeu o juízo, rapaz? — Perguntou se erguendo um pouco da cadeira, mantendo os braços eretos sobre a mesa. Avançou sobre mim nervosamente — Fui sim um irresponsável quando jovem, mas depois que me casei com sua mãe e você nasceu, deixei tudo para trás! Nunca me viu de outra maneira que não fosse como um bom pai, Rafael! E acredite quando digo que você pode fazer tudo, menos valorizar sua masculinidade com as obscenidades que pratica! Você é um idiota, isso sim!

Não respondi, somente encarei meu pai sem a vontade de olhar os curiosos que apreciavam nosso show a parte pelo lado de fora. Ele se ajeitou na cadeira novamente e se atentou ao redor.

Atada a Ele: Sob sua ProteçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora