Capítulo Um

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ESTRELA

Permanecemos nos encarando por alguns minutos em silêncio.

Rafael parecia transtornado quando se sentou a minha frente na mesa, encarando-me como se jamais tivesse visto algo tão surreal. Seus olhos eram verdes e bonitos. Ele se vestia muito bem e era elegante, diferente dos homens que eu costumava ver na escola ou no meu bairro. Papai comentou que João Roman era rico, médico e conceituado. Eu realmente não me lembrava muito da família Roman.

— Confesso que estou em choque com tudo isso. Não consigo acreditar que meu pai tenha feito tamanha... — Deteve-se antes de dizer. Rafael passou as mãos pelo cabelo úmido e eu via nos olhos dele como estava perdido. Baixei o olhar — Você não vai dizer nada?

Suspirei. A única coisa que eu queria era chorar. As lágrimas começaram a descer em meu rosto e tratei de secá-las, mas não antes de Rafael notá-las.

— Não precisa chorar, eu... — Dizia nervoso — Droga! Vou faze uma ligação!

Rafael ligou para a mãe dele e ambos discutiram arduamente há poucos passos de distância. Eu não conseguia entender nada que dizia, apenas que ele parecia muito bravo.

Continuei sentada ali sem saber e sem ter ideia do que pensar.

— Levá-la para minha casa? — A voz soou mais alta — Onde eu vou colocar uma menina grávida em minha vida, mãe? Por favor!

Toquei meu ventre e me lembrei da gravidez eminente. Era sempre perturbador ser tratada como uma qualquer que engravidou por ser irresponsável, mesmo que as pessoas que me julgavam não soubessem o que de fato tinha me acontecido.

Coloquei-me de pé em um impulso e sai dali correndo sem que Rafael me visse de imediato. Meu destino era à frente do primeiro carro que passasse na rua. A morte.

Abri a porta da lanchonete e ouvi os sinos de anuncio tocando quando se fecharam. A chuva me ensopou em segundos, mas não tive tempo de pensar nela. Corri em direção à rua, mas antes de chegar ao meu destino um par de mãos fortes e ágeis me puxaram para a calçada novamente. Cai em braços quentes e molhados.

Rafael me salvou do suicídio e tal fato me chocou.

Jamais pensei que alguém fosse capaz de arriscar qualquer coisa por mim, muito menos um homem que parecia me odiar a primeira vista.

RAFAEL

— Você enlouqueceu menina? Quer matar a si e ao seu filho?

Olhos frios e vazios, mas que brilhavam intensamente, como jamais vi. Olhar Estrela de perto era como contemplar um céu estrelado, de fato. Era bonita e tinha o céu no olhar. Senti algo estranho... Algo no estômago quando a mesma caiu por cima de mim de maneira desajeitada. Porque ela me causava aquele efeito?

Estrela nada me disse, apenas sentia seu corpo pequeno estremecer em meus braços.

A chuva pingava em nossos corpos fazendo com que nos encharcássemos. Levantei-me quando uma mulher que passava ajudou Estrela a sair de cima de mim. Estrela parecia desnorteada e sem condições de caminhar.

— Melhor levar sua namorada no médico, moço! — A mulher disse a mim.

Namorada.

Obviamente era o que concluiriam! Uma grávida com um homem ao lado... Pensariam que éramos um casal.

— Vamos Estrela. Obrigado moça!

Sem esperar peguei a menina em meu colo colando seu corpo contra o meu de modo que não ficasse tão exposta a chuva devastadora que nos cegava. Chocada como estava pelo quase atropelamento, Estrela ficou quieta, apenas tremendo enquanto eu andava.

Atada a Ele: Sob sua ProteçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora