Capítulo Seis

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ESTRELA

- Você não precisa sair hoje, Rafael - Brenda disse já pronta para fazer o ultrassom - Hoje será apenas o ultra e acredito que não haja problema, certo, Estrela?

Concordei com um aceno, deitada na maca com a blusa erguida e observando Brenda espalhar o gel por meu ventre. Meu corpo todo tremia com a sensação, principalmente pela ansiedade. A dualidade de sentimentos dentro de mim me fazia revirar em expectativa.

- Isso é ótimo! - Rafael sorria parado ao meu lado, as mãos nos bolsos e um sorriso animado nos lábios. Eu olhei para seu rosto buscando resquícios daquele homem insuportável que conheci um dia no café. Não encontrei nada - É importante, não é, Estrela? Saber o sexo do bebê - Concordei - Você bem sabe, Brenda, que para mim ter filhos é algo impensado - Coçou a barba por fazer levemente e ela adotou uma expressão engraçada, não acreditando nele - Mas me emociono com o bebê alheio.

- Sei, Rafael. Sei!

Meu corpo descansava na maca levemente inclinada para que Brenda pudesse ter acesso fácil ao meu ventre. Rafael sentou-se no banquinho ao meu lado, ficando ainda mais próximo de mim. O encarei surpresa, perdida em seus olhos verdes, e sequer me dei conta de que Brenda começava a deslizar o aparelho em minha barriga, procurando os batimentos do bebê.

- Caramba! - Um som alto e forte invadiu a sala. Rafael sorria para Brenda, olhando a tela com emoção - O coração está perfeito! Está tudo bem?

- Ai Rafael... Nem parece que também é obstetra! - Brenda ironizou - Você sabe tanto quanto eu sobre o exame, meu caro.

- Mas é que... - Sorria sem graça - Você sabe!

- Quando é com a gente tudo muda, não é?

Rafael me encarou rapidamente, desviando o olhar do meu com certo receio.

- É barulho do coração do bebê. Está ouvindo? - Sussurrou ao meu ouvido, abaixando o rosto próximo do meu. Concordei, olhando para o vídeo em busca de compreender algo.

Como um ato tão repugnante como o que aquele monstro fez comigo poderia resultar em uma vida, em um coraçãozinho tão forte e vigoroso? Controlei as minhas lágrimas, mas logo notei Rafael as secando.

Ignorei a dor e as lembranças. Aquele desgraçado não era nada para mim, muito menos seria para o bebê! Rafael, ao contrário, nada tinha a ver com tudo aquilo, mas sentia a emoção como se fosse o verdadeiro pai.

Eu não estava sozinha. Ele estava comigo. Ao meu lado.

Brenda apontou as partes do pequeno corpo do bebê, mas nada compreendi. Apenas deixava as lágrimas caírem enquanto observava a tela borrada. Meu coração se enchia de dor e amor. De sentimentos dúbios e inevitáveis.

- É um menino, Estrela! - Rafael beijou minha mão ao dizer, segurando-a na sua - É um menino como você suspeitava!

- Um completo garotão! Meus parabéns, Estrela!

Travei diante da noticia, apertando a mão de Rafael na minha pelo impacto da mesma. Fechei os olhos e o vi perfeito em minha mente. O vi como sempre o imaginei... Tão lindo, indefeso e inocente. Não conseguia atrelar meu filho a imagem catastrófica do verdadeiro pai... Não mais, quando Rafael apareceu em minha vida.

Rafael.

Era o nome que eu queria dar a ele e sequer imaginei outra possibilidade.

- -

Rafael me levou para a casa de sua família. Parecia mais empolgado do que eu mesma para revelar de uma vez a grande noticia a seus pais.

Marine e João agradeceram a visita e se animaram com a notícia, mas eu via nos olhos de João a preocupação. Ele seguia esperando minha resposta sobre o bebê. Resposta essa que sequer eu tinha!

Atada a Ele: Sob sua ProteçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora