O Irmão Mais Cruel

Capítulo II

MATTEO

Olhar para minha mesa de trabalho nunca tinha sido um pesadelo, pelo menos não até agora, pois definitivamente tinha se tornado um terror. Uma batida na porta do escritório me distraiu, levantei o rosto dos papéis dando permissão para que entrassem, Ettore surgiu.

— Já está se desesperando tão cedo assim? — ele perguntou, apesar do tom de pergunta, Ettore já sabia a resposta, é claro.

— Houve alguma novidade do seu contato com Demétrius? — perguntei, notando ele se encaminhar para a mesa de bebidas, Ettore andava particularmente muito mais apegado as garrafas de uísque, no início tentei ignorar pensando que era apenas mais uma de suas fases, no entanto, aquilo estava durante um tempo acima da média.

Além disso, eu tinha notado, ele parecia diferente... Mas frio, silencioso. Todos tínhamos nossos monstros, mas Ettore nunca tinha deixado com que os dele falassem mais alto, isso me preocupou, não por ser apenas o chefe da máfia agora, mas também como irmão.

— Sem novidades, pelo que parece ainda estamos no conselho das cinco famílias por pura sorte, ou melhor, pela gratidão dos chefões da organização da Itália... — Ettore se serviu da bebida e tomou um grande gole antes de voltar a falar. — Estão observando a transição de poder e como você está administrando as coisas aqui, mas sem dar uma palavra...

— Estão testando-nos — protestei, dando uma batida na mesa. — Aqueles desgraçados só estão esperando o momento para nos chutar para fora!

Demétrius era um contato que ficava entre a Itália e os Estados Unidos fornecendo informações sobre como os Bianchini estavam sendo avaliados pelos chefes do conselho-geral da máfia italiana.

Todos estavam apreensivos com a saída de Salvatore e como iria refletir nos negócios, claro, tudo foi de mal a pior antes de ter alguma melhora.

A troca de comando em si não foi uma surpresa, nem a recepção entre os soldados, mas a instabilidade gerada afastou fornecedores e clientes. Mercados foram perdidos, o prestígio entre as cinco famílias da máfia andava de mal a pior e o caixa estava muito perto do vermelho.

— Precisamos de uma injeção de dinheiro! — Ettore disse, ao se sentar na cadeira à frente da minha mesa, eu mal tinha visto ele se mexer, quando o encarei vi seu semblante totalmente sério...

Ele sabia tão bem quanto eu que estávamos caminhando para perder o controle dos nossos negócios se os chefes da Itália dissessem que íamos sair, bastava uma ordem, então os soldados iriam nos tirar da linha de frente seja por bem ou por mal, porém, é claro que seria por mal.

Seríamos eliminados, para não haver chance de revolta, cada gota de sangue Bianchini seria derramado para que a linhagem se perdesse e não representasse mal algum a quem eles dissessem que iria assumir nosso lugar.

E nós nem poderíamos lutar porque não haveria recurso, nem homens, nem nada... Só Salvatore... Mas ele não daria conta sozinho.

— Não podemos pedir a Salvatore, ele é a reserva, combinamos assim...

— É claro que eu sei... — Ettore soltou um som de desgosto. — Mas precisamos agir, talvez aumentar os impostos dos nossos "protegidos", esses serviços custam alto, todos sabem.

— Não... — neguei.

— Fizemos dois aumentos, um terceiro seria um problema que não precisamos lidar agora.

— Então, o que sugere?

Olhei para a bagunça que minha mesa tinha se tornado e para uma foto de Salvatore junto de Anna, consequentemente me lembrei de Lauren, o sorriso atrevido e aquela língua venenosa...

Quase sorri, mas não tinha tempo para ela, aquela mulher devia estar bem longe de qualquer pensamento.

— Eu vou me casar!