Capítulo I

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ETTORE

Havia sangue. Havia sangue por todo o lugar...

Era como se eu estivesse andando por poças de lama, mas aquilo era sangue, havia um odor de ocre e ferrugem. Olhei para as minhas mãos, tinha uma faca e uma arma, a pistola estava quente, minha mão esquerda com a faca estava tomada por sangue fresco.

— Você fez de novo? — Alguém perguntou.

— O quê? Quem está aí? — perguntei, passei os olhos ao redor, não tinha ninguém além daquela escuridão manchada de sangue e morte.

— Você fez de novo! — A voz afirmou, olhei mais uma vez ao redor, não tinha nada.

— Quem está aí?

Levantei a pistola, não me importava em usá-la novamente, esperei...

Ouvi passos se aproximar, esperei o momento exato, então de repente vários rostos surgiram à minha frente, rostos que a princípio eram estranhos, até notar que cada um deles possuía tiros no meio da testa ou gargantas cortadas, na frente dessa fila estava o pai da Anna.

— Assassino... — Domênico disse, ele sorriu.

...

Acordei sobressaltado. Mais uma noite, mais uma maldita noite aquele mesmo sonho. Suspirei saindo da cama, indo em direção à mesa de bebidas, aquele era um caminho normal em todas as minhas noites. As coisas não estavam melhorando, pelo contrário, todos os dias, era como se mais uma pedra fosse amarrada ao meu pescoço.

Eu me servi de um uísque puro, tomei a primeira dose de uma vez apreciando a forma como desceu queimando minha garganta, servi-me mais uma vez e então me sentei na poltrona perto da porta.

O relógio ao lado da cama marcava três da manhã, as cortinas do quarto estavam abertas revelando uma leve garoa sobre a paisagem de campo verde escurecido pela noite.

Matteo havia restabelecido a nova sede da mansão Bianchini, próximo à zona rural, um pouco longe da metrópole, mais exatamente a uma hora de distância, uma opção consideravelmente mais reservada e acima de tudo mais segura.

Desse modo, ninguém questionaria o motivo de tantos homens vigiando aos arredores da propriedade e nem o motivo de lá parecer um forte.

Aquela ação tinha sido somente a primeira do Matteo como chefe maior dos Bianchini, toda a máfia teve e estava passando por uma grande estruturação, assim como o banco, havíamos perdido mercado depois de todo o escândalo da explosão da casa, do sequestro da Anna.

Tudo aquilo de alguma forma foi parar nos jornais, a polícia esteve sobre nosso encalço... Enfim, demandas demais, dinheiro demais envolvido, sendo que não tínhamos o fluxo de caixa normal das transações que ocorriam quando tudo estava "normal".

Definitivamente as coisas não iam bem com os nossos cofres. Salvatore cuidou para conseguir o que pôde, fez seu máximo para estabilizar as coisas, mas ele não iria tirar um centavo seu que pudesse afetar o estilo de vida que ele queria para Anna e o bebê que ia chegar, e claro, que obviamente não estava errado.

Se alguém tinha que dar um jeito naquela bagunça era Matteo, e no caso eu, que tinha assumido a posição do segundo no comando.

Estranho como a vida dava voltas até chegar novamente ao ponto central, no meu caso, a máfia. Tudo que eu sempre mais desprezei, hoje fazia parte de mim, cada pedaço, de cima a baixo, tudo.

Eu me tornei o homem que sempre disse que não iria ser, fiz coisas que afirmei aos quatro ventos que não faria, mas de nada adiantou, ali estava eu assumindo todas aquelas coisas e sendo assombrado por isso.

Eu me arrependi? Pergunta de ouro... Eu já tinha ouvido ela algumas vezes, de pessoas diferentes, mas ainda assim a mesma pergunta, e assim, considerando tudo, todos os resultados e consequências, descobrir que não, não me arrependia.

Eu havia finalmente renascido na máfia, pela minha família, aquele garoto de sonhos tolos e infantis ficou para trás, porque não havia espaço para ele naquele novo mundo, e eu não me importava, não se meus irmãos e seus entes queridos estivessem bem.

Meu papel agora era proteger a máfia, para proteger os meus, e não importava a que custo ou com quais assombrações eu devia lidar depois, só importava a tríade que eram os Bianchini, nós éramos como nunca fomos uma união indissolúvel.

O Irmão Mais CruelOnde histórias criam vida. Descubra agora