Fechei o livro que estava relendo mais uma vez e bufei, não aguentava mais ficar fazendo isso, toda vez a mesma história de sempre, eu relia alguns livros, observa a lua e as estrelas durante a noite, passeava pela vila e só.
Não podia sair além do muro que cercava a vila, simplesmente passei toda minha vida atrás dele sem nunca ter visto o mundo lá fora.
Mas por quê? Bom, dizem que do outro lado existem criaturas perigosas e mortais e que o muro foi construído justamente para nos proteger, alguns mantimentos sempre chegam durante a semana do lado de fora.
Não sei porque meu pai e minha mãe nunca pararam para pensar em uma coisa, se existem criaturas do lado de fora, como os mantimentos chegam aqui em segurança? Para mim, nada disso passa de um monte de fábulas criadas para calçar medo e pânico nas pessoas.
O medo pode ser uma ótima arma de controle em massa pelo que pude perceber, funciona mesmo.
Me levanto da minha cama e me espreguiço, ando até o espelho que fica na penteadeira do meu quarto, meu cabelo era crespo e um pouco volumoso, meus lábios grossos, nariz fino, olhos redondos, ambos eram de cores diferentes, um castanho e outro azul.
Amava isso em mim, dava um toque especial e um certo charme, mesmo que parte das pessoas não ache eles bonitos ou chamem o meu cabelo de ruim ou asqueroso, no fim, nada disso importa porque o importante é eu gostar, o que os outros pensam não me importa.
— Acho que é hora de sair um pouco — digo pegando um agasalho que estava pendurado na porta.
Meu quarto era do tamanho ideal, tinha minha cama, a penteadeira, uma estante com alguns livros, cujos quais já li praticamente todos, além de ter uma pequena varanda do lado de fora, costumo ficar lá de vez em quando para observar a lua.
Ando pelo corredor silencioso até chegar as escadas, a casa em que morava com meus pais tinha dois andares, assim como a maioria das casas da vila, era feita de madeira, era aconchegante, havia uma lareira no andar de baixo, duas poltronas onde meus pais se sentavam ficam lá.
Pelo silêncio ninguém devia estar aqui, com certeza meu pai devia estar andando pela vila para ver se tudo estava certo, minha mãe devia ter ido até a horta comunitária que temos para ajudar na colheita.
Quando abri a porta senti o vento frio e gélido atingir o meu rosto, nossa casa ficava justamente em frente a praça central da vila. As folhas das árvores estavam por todo chão, variavam muito de cor, de vermelho para o amarelo ou o laranja, agora nenhuma delas tinham mais folhas.
A praça tinha uma fonte no meio, nesse momento não estava tão movimentada assim, fechei a porta e sai andando, estávamos no auge do outono e em breve o inverno chegaria, a vila se preparava para ele, guardando lenha, mantimentos no galpão, os poucos homens que tem permissão para sair em missão para pegar lenha eram acompanhados por guardas armados.
Eu realmente queria muito saber o que tem além desses muros, provar pra todo mundo que não tem nada demais lá fora.
Principalmente para os meus pais.
— Jaden — Olho para o lado assim que escuto uma voz familiar chamar o meu nome.
Era meu melhor amigo Jacob, usava um colete vermelho sobre a camisa branca que usava, uma calça marrom e botas, o cabelo era ruivo, as vezes eu chamo ele de foguinho por causa disso, tinha sardas no rosto, olhos azuis da mesma cor que o céu.
— Não devia estar ajudando seu pai a cuidar das mercadorias? — pergunto assim que ele para na minha frente.
— Ele teve que fechar mais cedo — Jacob me respondeu. — Ele foi ajuda ros homens que saíram a achar lenha — fala.
— Hm, então ele saiu?
— Sim.
— Acho isso tão injusto — desabafo. — Eles podem sair quando preciso, sempre voltam intactos, por quê ainda acreditam nessas histórias? — Levo minhas mãos a cintura e olho para o chão.
— Olha, não que eu acredite nessa história — Volto a olhar para Jacob. — Mas, se os seus antepassados construiram esse muro, é porque alguma coisa tem não acha?
— Não acho, as vezes eles fizeram isso para tentar evitar conflitos ou algo do tipo — Coloco minha mão sobre o ombro do meu melhor amigo. — Mas se tem uma coisa que eu não acredito, é que eles tenham feito isso para se defender de algo sobrenatural.
— É tão difícil aceitar que nem tudo tem explicação? — Jacob da um sorriso de lado. — Nem sempre vai conseguir usar a lógica Jaden.
— Pode até ser, mas enquanto puder, ainda usarei ela — digo.
Jacob soltou uma risada.
— Por isso que te adoro — Jacob e eu éramos melhores amigos desde crianças.
Enquanto as outras simplesmente me olhavam torto e me excluíam, Jacob e sua irmã, Kira, me trataram super bem, foi aí que começamos a nossa amizade, que dura até hoje, eu, Jacob e Kira temos a mesma idade, 20 anos.
Ela costumava ficar com a mãe ajudando nos afazeres domésticos, era melhor pra ela, a realidade pode ser muito decepcionante.
— Acho que pensei em algo — Jacob faz uma careta.
— Quando você fala isso é porque vai aprontar — diz cruzando os braços.
— Acho que está na hora de sairmos daqui e mostrar pra todo mundo que não há nada a temer lá fora — digo.
Jacob bufou.
— Sabia que uma hora ou outra você ia falar isso — Jacob me conhece muito bem. — Olha, vamos esquecer isso um pouco.
— Não, não, você me conhece bem demais Jacob, sabe que não vou desistir — Cruzo os braços. — Vamos lá, não está cansado de não poder sair daqui? — indago.
— Cara, a gente vai sair lá fora sem nem ao menos saber pra onde ir — Ele estava tentando me fazer desistir da ideia. — Se a gente sair, não vamos ter reforços, ninguém para nos proteger ou nos ajudar.
— Eu sei disso, mas — suspiro. — , não quero ficar a minha vida inteira aqui cara e tenho certeza que você também não.
Jacob permaneceu em silêncio por alguns segundos, me olhou e suspirou, sorri porque sabia o que aquilo significava.
Ele havia concordado.
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Supremo (Romance Lgbt)
LobisomemJaden nunca pode passar pelos muros da vila, histórias contadas por seu pai e moradores diziam que além dos muros que cercavam a pequena vila existia criaturas ferozes e sedentas por sangue. Mas após uma fuga noturna com seus amigos as coisas mudam...