Os Namorados Fictícios De Alessa Jones (COMPLETO NA AMAZON)

PRÓLOGO

Kendrick
Agora...

Uma das coisas que morar na cidade grande me proporcionou foi o prazer de amar a chuva. 

A chuva é boa pra caramba, cara. 

Ela é fria, arrepiante, e deixa o céu sombrio. E apesar destas razões meio mórbidas, sempre descubro um sentimento de felicidade diferente vendo o caos que uma tempestade pode causar. Sempre gostei do caos. 

Sempre gostei da sensação quase torturante e assustadora. Da sensação de que o céu pode despencar a qualquer momento sobre mim, de que as nuvens carregadas me envolveriam e que a terra molhada enterraria meus pés para o solo.

— A vida no campo vai ser ótimo para as crianças, amor. Não existe nada melhor que o ar fresco, a calmaria, muito diferente da poluída cidade grande.

— Vamos ter ao menos televisão? — Kristian, soltou, se encaixando entre os dois bancos da frente.

— Sim, Kristian, vai ter televisão. E logo, resolveremos o problema do wi-fi. — mamãe bagunçou seu cabelo preto antes de empurrar sua cabeca de volta ao seu assento o fazendo rir — E você, querido, vai amar os animais.

— Eu posso ter um cavalo? — peço, brincando ansiosamente, com meus dedos.

— Você já não tem seu irmão? — papai, zombou.

— Muito boa, pai, o senhor é um piadista. — Kristian, reclamou. As risadas no carro aumentaram.

— Chegamos! Chegamos! Chegamos! — colo meu nariz no vidro da janela, sorrindo para o campo esverdeado e depressivo no limite da cerca.

Há uma casa. Uma casa azul como céu nublado, um pouco acinzentada. Dois andares, uma varanda grande, várias janelas, uma chaminé.

— Cavalos! Cavalos! — aponto pelo vidro — Kristian, temos cavalos! — empurro o ombro do meu irmão mais velho.

— Sim, cavalos, pirralho. — rolou os olhos — É melhor que tenha um quarto com uma janela grande.

— Por que você quer um quarto com janela grande? — inocentemente, pergunto.

Um pequeno sorriso se enlarguece na sua cara, e ele fez um gesto com os dedos para que eu me aproximasse dele. Kristian sabe que não resisto a segredos.

Aproximei minha orelha do seu rosto, ansiando por seja lá o que fosse.

— Não é da sua conta... — sussurrou, rindo da minha cara.

Pulei nele, batendo nos seus ombros. Minha raiva cresce quando suas risadas preenchem o carro.

— Querido, olhe, cachorrinhos. — minha mãe, avisa, fazendo minha raiva desaparecer. Foi questão de segundos até largar meu irmão e voltar a colar minha bochecha no vidro da janela.

— Devem ser da filha do Jones. — meu pai estaciona o carro, em frente a casa — Aquele velho pilantra chegou primeiro que nós. — riu, xingando o melhor amigo.

Sempre ouvimos falar de Will Jones e sua família. Will e meu pai frequentaram o colégio juntos, mas os Jones moraram no Kansas por muitos anos e nunca tiveram muitas oportunidades para fazer uma visita.

Até terem a ideia de comprar uma fazenda juntos.

— Merda! Vai chover.

— Olha a boca, Kristian. — mamãe lhe deu um tapinha no seu braço — É seu dia de sorte, Kendrick. Chuva e casa nova.

Chuva e casa nova. Tem coisa melhor?

Eu achava que não.

A chuva já não parecia tão interessante até aquele momento. Até ver uma garotinha do meu tamanho correndo com seu vestido florido e galochas até nós. A chuva a pegou no meio do caminho enquanto corríamos para a varanda, mas ela não se importou e ria feito idiota, toda encharcada.

De novo, uma das coisas que morar na cidade grande me proporcionou foi o prazer de amar a chuva. 

E não pensei que sentiria algo parecido com outra coisa, na minha vida. Pensava ser a porra de algo único, de um gosto estranho, de um fetiche doentio pelo chuva e pelo caos. Era pra ser. Era pra ser algo tão unicamente meu que nada, nem ninguém se igualaria a isso...

Bom, até conhecer Alessa Jones.

Até conhecer a irritante, gorducha e sorridente, Alessa Jones correndo pela chuva com seu vestido florido e suas galochas.

Malditas galochas.

E agora...

Agora...

Ela está aqui, encharcada com a chuva, sorrindo pra mim.

Alessa Jones está sorrindo pra mim. Segurando a gola da minha camisa com punhos fortes, as orbes castanhas brilhando sobre as minhas cinzas.

— Você não vai me deixar, Kendrick Evans!