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Kendrick
Antes...

VOCÊ SABE QUE O DIA NÃO VAI SER BOM quando o galo de Alessa Miranda Jones canta mais cedo que o habitual.

Posso sentir a luz amarelada e nevoenta da manhã invadir meu quarto pela janela dando a impressão que o céu está nublado. Deve ser umas seis, e eu deveria acordar apenas daqui uma hora.

Ponho o travesseiro contra o rosto, abafando o maldito "cocoricó". Como é possível um animal gritar tão alto?

Depois do quinto clarinar daquele demônio, ando em passos pesados até a janela e a abro.

O dia, o céu, as nuvens estão do jeito que imaginei, a imagem da minha janela continua sendo a mesma. O mesmo gramado verde de fim de verão, a mesma cerca de tábuas retangulares de madeira pintadas em tinta branca, o caminho de pedras largo que levava da porta da minha casa até a porta da casa vizinha.

- ALGUÉM MATA A PORRA DESSE ANIMAL! — exclamo para os Jones.

Segundos depois, Kristian aparece na janela ao lado, em seu próprio quarto. Seu cabelo preto está arrepiado, apontando pra todos os lados e pela pressa em se levantar, colocou os óculos de graus de cabeça pra baixo.

- JÁ BASTA O GALO, ENTÃO CALA A PORRA DA BOCA! - esbraveja para mim, voltando para dentro, fechando a janela com força.

O galo grita mais uma vez.
Seu maldito...

- EU VOU MATAR SEU GALO, ALESSA JONES. - exclamo, sabendo que minha ameaça chegaria até a uns cem metros da casa vizinha.

Sorri de canto quando a janela do quarto dela se abriu. De longe, pude ver seu cabelo bagunçado e volumoso como uma juba castanha linda e selvagem. Um pijama azul estranho de patinhos amarelos cobria seu corpo.

- E EU MATO VOCÊ, KENDRICK EVANS.

Bateu forte a janela, fechando-a.

- Linda. - digo, sabendo que ninguém iria ouvir.

Agora eu sei que o dia pode melhorar. Já tive meu primeiro espetáculo odioso com Alessa Jones, e ainda nem são oito da manhã.

Ponho minha cabeça de volta para dentro, arrumando minhas cobertas, pegando uma toalha de banho, pronto pra começar o dia. Nossas rotinas por aqui começam bem cedo, mais quando o galo canta pra ser exato, que acorda metade da fazenda. Se for duvidar, metade da cidade.

- Você roubou o meu gel? - Kristian, invade o cômodo, o cabelo ainda uma zona, mesmo que usando os óculos corretamente, dessa vez.

Não precisei responder sua pergunta já fui pego no flagra com o que ele procura, nas mãos, penteando meu cabelo para trás.

É perceptível que todos os homens da família Evans puxaram o cabelo preto dos avós paternos, e mais felizmente, os olhos claros e acinzentados da nossa mãe. Eu fui o único sorteado de ter um raro par de olhos cinzas. Nem azul claro, nem branco, olhos cinzas mesmo. O que não faltam são elogios quanto a isso, e garotas, muitas garotas.

Roubo mais uma quantidade considerável de gel antes dele tomar da minha mão e sair do quarto tão rápido quanto entrou.

Visto a camisa, arqueando as mangas longas e pego a mochila para a escola. É nosso segundo ano no ensino médio, e às férias foram um saco.

Passei parte dele viajando com meu pai, o ajudando no novo teste de agrotóxicos para vendas em fazendas vizinhas, e não tive muito tempo pra descansar ou ter algum contato com os Jones ou meu melhor amigo, que provavelmente deve estar procurando uma nova maneira — assim como todo ano — para me encher com sua lista de loucuras antes da faculdade.

Os Namorados Fictícios De Alessa Jones (COMPLETO NA AMAZON)Onde histórias criam vida. Descubra agora