Capítulo 02 - De Braços Bem Abertos

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02 - DE BRAÇOS BEM ABERTOS

Bom, eu não sei se estou preparado para ser o homem que tenho de ser. Vou respirar fundo, trazê-la pro meu lado. Ficamos maravilhados, acabamos de criar vida.” With Arms Wide Open - Creed

      Dormir se tornou uma palavra estranha naquela noite, após o Brian ir embora. Por mais que eu tentasse, não conseguia parar de pensar em suas palavras bonitas, e no carinho que ele demonstrou ter com o meu bebê. Ou talvez nosso bebê! Tanto o Ric quanto o Cadú, minha mãe e o Gabbe me ligaram naquela noite para saber qual tinha sido a reação dele, e nenhum deles ficou surpreso quando contei tudo que aconteceu. Minha mãe havia pegado o gosto em cantar para mim, a cada ligação, o trecho da música Ligeiramente Grávida, da banda O Espírito da Coisa: “Mamãe eu acho que estou ligeiramente grávida. Mamãe não fique pálida, a coisa não é ruim. Se lembre, um dia você já ficou assim”. Enquanto ela ficava se divertindo com o status de futura avó, eu ficava pensando em como deveria estar desejando que esse filho fosse do Brian, pela forma que eu sei que ele o trataria, cheio de carinho, cuidado, amor... O problema é que meu coração se recusava a desejar isso. Por mais egoísta que parecesse, intimamente eu torcia para que o filho fosse do Tim, para que eu pudesse me regozijar em ter um pedacinho dele crescendo dentro de mim. Eu ainda tinha esperança de que ele caísse na real sobre o quanto ele estava sendo imbecil, e pedisse para que eu o deixasse fazer parte da nossa vida (minha e do bebê). Claro que eu não o deixaria chegar perto do pequeno Tim até que ele estivesse literalmente arrasado, na pior, depressivo e com os joelhos arregaçados de tanto ajoelhar para implorar por misericórdia. Meu filho vinha em primeiro lugar, é claro! Engraçado que minha cabeça ria desse desejo do meu coração e dizia: “Sua trouxa! Ele não merece seu perdão. Ele não nos ama, porque se amasse não teria nos abandonado. Não teria ficado tão aliviado quando nos viu com o Brian, não teria nos expulsado do apartamento dele na noite que contei sobre a gravidez. Não teria deixado de ir jantar conosco, nem nos ignorado todos esses dias. Ele não vai voltar atrás, entenda isso e siga em frente!”. Tudo que meu coração pôde responder à minha mente foi: “É muito fácil falar, o problema é agir. Como posso me livrar dele se você fica relembrando tudo que já passamos juntos? Facilite minha vida, por favor!”.

         O Brian tinha se hospedado no hotel onde estávamos, e disse que só voltaria para casa quando saíssem os resultados. Fiquei lembrando da cara de criança quando ganha um brinquedo que ele fez quando eu deixei ele passar a mão em minha barriga, ainda que eu o tenha avisado de que era cedo demais para sentir qualquer coisa. Eu tinha certeza de que ele ficaria na minha cola onde quer que eu fosse, querendo saber se me alimentei, se eu estava com calor, se estava com frio, se eu queria que ele fizesse massagem e esse tipo de coisas. Ele era muito previsível, nesse sentido! Não que eu esteja reclamando! Afinal, qual mulher que não gosta de ser mimada? O problema é ele se empolgar demais e o resultado do exame não ser o que ele tanto deseja. E esse era o meu maior medo e o causador dessa minha insônia. 

           Assim que amanheceu, eu desisti de tentar dormir e fui tomar um banho longo e cheio de espumas na hidro que o quarto oferecia. Fiquei deitada lá por mais de uma hora, até minha pele ficar completamente enrugada. Coloquei um vestido creme com detalhes pretos e uma sandália baixinha e desci para tomar café. Eu peguei meu tradicional café preto, meu copo de suco de laranja, um pão integral, pedaços de queijo branco e duas fatias de mamão e me acomodei em uma mesa no canto do salão. Claro que nenhum canto evitaria os pares de olhos curiosos sobre mim, nem que eventuais hóspedes fossem me pedir autógrafos, os quais dei com toda boa vontade, mas fazia com que eu me sentisse um pouco protegida. Bobeira minha, eu sei! Eu estava dando um grande gole no meu suco quando ele entrou e começou a se servir. Meu coração deu pulos, rolou, dançou e rastejou de nervoso. “Calma, Vivi! Não fique ansiosa, ele não vai falar com você”, dizia minha mente. Já meu coração dizia “Ai meu Deus. Arrume esse cabelo, bote um sorriso no rosto e sorria quando ele te olhar. Quem sabe ele não tome coragem e venha conversar com você?”. E então aconteceu! Ele estava pegando linguiças fritas quando elevou a cabeça e nossos olhares se encontraram. Eu fiquei paralisada. Ele também. Comecei a contar os segundos. Um. Dois, Três. Meu Deus, meu coração não vai aguentar isso. Dê um sorriso, um aceno, qualquer coisa! Quatro. Cinco. Tim, larga a mão de ser orgulhoso e venha até aqui! Fale comigo! Diga o que pensa. Diga que ainda me ama! Seis. Ele voltou a olhar para as linguiças. Não acredito! Linguiças são mais interessantes que eu? Linguiças? Senti meu rosto arder de ódio. Meu coração que antes pulava agora se retraía como se estivesse com cólicas. E doía, como doía! Um bolo se formou em minha garganta e eu perdi completamente a fome. Empurrei o prato para frente e me virei para pegar minha bolsa quando o prato é novamente empurrado na minha direção.

Rock & Pie 2 - O Tempo Não Para (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora