Capítulo 1

505 16 2
                                    

Há algumas semanas, Bora e Ada confessaram seu amor em frente ao mar, quase como em um sonho. Para ela, não parecia real. Quando aquele beijo aconteceu, veio com ele todas as expectativas de viver um amor de verdade, sem superstições. Pouco tempo depois, naquele jantar tão bonito que ele preparou, Ada teve uma percepção mais fria e crua do que o normal quando finalmente soube o porquê de Bora ter perdido a fé no amor por tanto tempo.

Ela simplesmente não poderia carregar aquele peso olhando nos olhos dele.

Não poderia continuar olhando nos olhos daquele homem depois de tantas mentiras.

Ada não conseguiria suportar vê-lo tão machucado por algo que ela mesma causou.

Por isso, decidiu cortar o mal pela raiz enquanto dava tempo. Bom, pelo menos ela pensou que dava tempo; mas a verdade é que o amor bateu na porta daqueles dois corações devagar. Fez muito barulho por fora, mas foi silencioso e sorrateiro por dentro. Ele alimentou o desejo que ele já conhecia e que ela não entendia muito bem (só pela sua imaginação). O amor plantou a intriga na mente cética do Bora e no coração ingênuo de Ada. Ambos demoraram para entender e admitir algo que todos já enxergavam, menos eles.

Depois que Ada terminou com Bora naquela noite, ele foi insistente. Ela não sairia da sua vida mais uma vez sem explicações. Ele sabia que tinha algo errado, ele sempre soube. Sabia, também, que foi além dos seus limites quando ela lhe contou sobre a faculdade e que isso a deixou com medo. Ele estava disposto a mudar isso, mas também queria saber o que tanto a atormentava. Ada, realmente, era uma mulher única. Ao mesmo tempo que sabia tanto sobre a vida, não conseguia entender outras coisas tão simples do seu próprio coração.

Ele tentou. Poderia até dizer que ultrapassou um pouco os limites. Falou para todos da empresa que ela era a sua namorada, mesmo que eles não tivessem voltado oficialmente. Fez questão de acompanhá-la em qualquer coisa que precisava ser feita. Bora a cercou de todos os lados assim como ela o cercou tantas vezes. Aquilo não era mais um jogo de sorte, era o jogo do amor. E ele sabia que os dois poderiam ganhar se ela apenas admitisse que nunca deixaria de amá-lo. Desde aquele término que veio tão rápido quanto a percepção de seus sentimentos, Ada nunca falou com todas as letras que Bora era o seu namorado, mesmo depois de ele ter dito isso em voz alta na frente de todos. Ela sempre desviava ou procurava qualquer chance de fazer algo para evita-lo, ainda que Tugce tivesse ficado completamente fria e distante depois que Bora expôs os sentimentos dele por Ada.

Apesar de todas as investidas de Bora e todos os desvios de Ada, a parceria entre eles só aumentava. A cada novo texto que ela escrevia, a cada nova lição que ele a ensinava, a dinâmica entre eles como amigos dentro da empresa – e fora dela – ficava cada vez mais forte. E Bora usou isso para passar o máximo de tempo que ele podia perto de sua amada. E ela sabia disso, embora não quisesse acreditar por todos os seus próprios motivos.

Quase duas semanas depois daquele episódio, Ada – mais uma vez – não conseguia dormir. Ela já estava assim há muito tempo. Sempre que se sentia assim, ela escrevia. O fluxo da sua imaginação era traduzido em forma de palavras e fazia isso até que seus olhos ficassem cansados. Havia noites em que a inspiração não vinha, então se deixava levar por seus pensamentos.

Todas as vezes ela ia para a varanda do seu quarto ou para o jardim da casa da família do Bora. Olhava para as estrelas e um turbilhão de lembranças invadiam a sua mente, desde as memórias muito remotas que tinha com os seus pais até os dias em que usava o telescópio com a Elif. Aquele tempo que passava na varanda era quando sua mente corria livre e Ada entrava em seus diferentes mundos, totalmente fora daquela realidade.

Naquela noite, ocorreu de Bora mandar uma mensagem, coisa que só acontecia em seus pensamentos. Ela sabia que ele estava tentando entender tudo o que estava acontecendo, mas era melhor que continuassem afastados (um afastamento que achava que acreditava). Ada não poderia suportar a reação dele quando soubesse de tudo. Ainda assim, ela sabia que ambos não poderiam escapar um do outro. Estavam o tempo todo juntos, trabalhando ou brincando com a Elif. Ele entendeu que Ada queria limites e os respeitou da forma como podia; por esta razão, não era comum que Bora mandasse mensagens para ela – principalmente àquela hora, pouco depois das onze. Isso chamou a sua atenção.

Olhar na varandaOnde histórias criam vida. Descubra agora