A aldeia estava em pleno vapor, os comerciantes e mercadores andavam e barganhavam de um lado para o outro, em um ritmo frenético que para mim ainda era difícil de acompanhar. Não que eu estivesse inclinada a aprender o ofício de meus tios, até porque não acreditava que ficaria ali por muito tempo, mesmo que já estivesse vivendo ali a alguns anos, mas o que eram cinco anos para quem pode viver milhares de séculos?
Sábado, o dia de maior movimento para nós comerciantes de temperos e ervas exportadas de outras Cortes. Mas com minha tia já ajudando e meus primos ali, eu não era tão necessária assim, pelo menos não até o entardecer quando estaríamos fechando por fim e nos recolher para jantar e então descansar, não que eu estivesse cansada, sempre me mantinha distante para não atrapalhar neste dia de maior movimento, geralmente eu estaria ajudando em casa começando a preparar o almoço ou servindo de mensageira entre os comerciantes.
Ao chegar no pequeno comércio lotado, alcancei minha tia – uma senhora grã feérica calma, mas rígida que coordenava tudo como um maestro rabugento – que ajudava alguma senhora a escolher temperos mais exóticos que vieram da corte estival, minha corte natal. Eu carregava uma cesta com o almoço para todos, minha tia por sua vez, indicou que eu deveria coloca-las nos fundos que logo cada um iria pegar a sua e comer quando chegasse o momento.
Quando retornei a caminhar para fora da loja, e tomei a rua, um de meus primos, o mais velho que era cerca de 20 anos mais velho que eu, Darius, segurou meu cotovelo me fazendo parar bruscamente.
— Desculpe, lhe assustei? - sacudi a cabeça negando, ele soltou meu cotovelo. — Minha mãe disse que você deveria levar mais daquela fruta que cresce perto do córrego, a que você sempre recolhe nas suas caminhadas. E leve os brotos também, meu pai quer tentar reproduzir um balsamo com o óleo da planta.
— Tudo bem, ao por do sol já devo estar de volta. — Dei-lhe um sorriso já começando a me afastar, mas Darius segurou e apertou meu cotovelo novamente, me fazendo parar mais uma vez.
— Não vá se aventurar perto da propriedade do Grão-Senhor novamente. Podem não gostar.
Lhe lancei um olhar inocente, dissimulado.
— Não sei do que está falando. - e antes que ele pudesse replicar, sumi em meio a multidão.
***
Meus pés se arrastavam em meio as folhas secas pelo chão, andei chutando pequenas pilhas que se amontoam sob as copas altas das árvores. Conseguia ouvir o córrego ao longe, me concentrei na audição mais sensível que as dos demais feéricos, as orelhas pontudas se aguçaram ao som das águas correntes se chocando contra as pedras e as margens me avisando que eu estava perto.
Em meio aquele labirinto de árvores eu conseguia ver ao longe a grande mansão do Grão-Senhor da Corte Primaveril, Tamlin. Já o havia lhe visto algumas vezes na aldeia, sempre parecia simpático e gentil com todos, o povo gosta do seu atual grão-senhor, aparentemente. Desviei meu olhar da bela construção e segui meu caminho, focada em achar o córrego o mais rápido possível.
Levei as mãos a fita que prendia parte dos meus fios castanhos claro na parte de trás da cabeça e apertei o laço, segurei a sua saia de linho na tentativa de não deixar que ela agarre em nenhum pedaço de galho pelo caminho. E enfim, o riacho que corria rápido como se estivesse atrasado para um compromisso surgiu em minha gente. Aspirei o cheiro de terra molhada, enchendo os pulmões com aquele aroma, sorri minimamente continuado minha caminhada agora pela margem.
Uma agitação na água, como se alguém estivesse se mexendo rápido em meio ao fluxo chamou minha atenção, e não muito longe, de costas para mim eu o vi, seus cabelos vermelhos como fogo ardente amarrados para cima, suas calças enroladas até a altura do joelho, as mangas da sua camisa dobradas até os cotovelos, apertei os lábios me atentando a cada movimento dele, tentando decifrar o que ele pretendia fazer parado no meio daquele corego que mal alcançava o ápice das suas panturrilhas.
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Corte de Ouro e Tormenta
Fanfiction𝖠𝗇𝗍𝖾𝗌 𝖽𝖺 𝗺𝗮𝗹𝗱𝗶𝗰̧𝗮̃𝗼 𝖾 𝖽𝖺 𝗴𝘂𝗲𝗿𝗿𝗮. 𝖵𝗈𝗅𝗍𝖾 𝗉𝖺𝗋𝖺 𝖺𝗇𝗍𝖾𝗌 𝖽𝗈 𝗼𝗹𝗵𝗼 𝗊𝗎𝖾 𝗋𝖺𝗇𝗀𝖾. 𝖬𝗈𝗌𝗍𝗋𝖾 𝗎𝗆 𝗉𝗈𝗎𝖼𝗈 𝖽𝖺 𝗳𝗲𝗹𝗶𝗰𝗶𝗱𝗮𝗱𝗲. 𝖮𝗇𝖽𝖾 𝖾𝗌𝗍𝖺́ 𝖾𝗌𝖼𝗈𝗇𝖽𝗂𝖽𝗈 𝗈 𝖻𝖾𝗅𝗈 𝘀𝗼𝗿𝗿𝗶𝘀𝗼 𝖽𝗈 𝗋...