Capítulo 4

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O ômega apertou seus lábios ao perceber algo que não deveria estar acontecendo. Fechou sua mão em punho, fazendo suas unhas curtas se cravarem na palma de sua mão, puxou o ar fortemente e passou a língua em seus lábios, olhou para o garoto a sua frente e engoliu em seco. 

— Você poderia repetir, por favor? - Perguntou baixo e tentando dar um sorriso simpático.

— Porra, mas é a terceira vez - O garoto levou as mãos para a cabeça, em um claro sinal de raiva - Pode chamar outro atendente que não seja retardado? - Aumentou seu tom de voz e bateu as mãos na mesa, fazendo um barulho alto ecoar pelo ambiente. 

Jimin arregalou os olhos, abriu e fechou a boca algumas vezes, até conseguir compreender exatamente o que aquele garoto havia lhe dito. Direcionou o olhar para o lado, podendo ver, e apenas ver, várias pessoas com os olhos direcionados a si. Algumas apenas cochichavam nos ouvidos da pessoa ao lado, já outras, o olhavam com aquele olhar que tanto tentava fugir. 

Cinco meses.

Esse era o tempo desde que se foi de Busan, mas não por que quis, e sim porque necessitou. Sabia que era sua única chance de realmente recomeçar, não iria conseguir nenhum emprego na antiga cidade. 

Foi difícil encontrar um lugar que não o julgou pela sua condição, Jimin realmente achou que sempre seria a mesma coisa, que sua vida sempre iria ser regada de negação. 

Foi assim desde seu nascimento, por que agora seria diferente? 

Depois que o senhor Junseo o contratou, sem ao menos lhe julgar incapaz, o ômega pensou que finalmente estava vivendo normalmente, que estava recomeçando sua vida. Esse emprego não lhe pagava muito, era atendente de um café no centro de Seul, mas mesmo com o pouco que recebia, Jimin agradecia, pois sabia que seria aquilo, ou nada. Ele tinha noção da sociedade em que vivia, tinha conhecimento que sempre iria ser julgado, pois até ele mesmo o julgava.

Mas agora, vendo todos os olhares para si, sentindo seu coração bater tão forte em sua caixa torácica, compreendeu que nunca poderia fugir de seus problemas, eles sempre iriam estar ali. 

— Outro atendente? - Perguntou ainda com a voz baixa, mas seu sorriso já havia desaparecido.

— É porra, está surdo ou o que? - Perguntou já gritando. Jimin o olhou nos olhos e sentiu um embrulho no estomago se formar, suas pernas bambearam e ele apenas ficou ali, olhando para aquele menino, sem reação.  

— Esquece, eu mesmo irei atrás de outro - O garoto se levantou da mesa, deixando o ômega sozinho e com seus olhos para aquela mesma direção.

O ômega levou seu olhar para os lados novamente, vendo como todos estavam o julgando, vendo diretamente sua alma. Abaixou sua cabeça e passou sua mão na nuca, puxando e arrancando alguns fios ali. Sentiu a primeira lágrima descer, vindas de outras que, infelizmente, ele não conseguiu segurar. 

— Jimin - Ouviu uma voz baixa lhe chamar, vinda de um cutucão no ombro.  Tirou seus óculos, limpou suas lágrimas rapidamente, e deu o melhor sorriso ao se virar para quem estava lhe chamando. 

— Byeong... - Sussurrou baixinho e deixou seu sorriso de lado, pois sabia que não iria conseguir enganar aquele a sua frente - Você viu tudo isso, não é? - Levou as mãos as orelhas, mexendo em um brinco ali.

— Vi sim Ji... - Byeong Chegou perto o suficiente e o abraçou apertado - Não fique assim, vai ficar tudo bem - Jimin negou com a cabeça, sabia que não ficaria tudo bem.

Lee Byeong era um alfa que trabalha ali na cafeteria também, era um grande amigo de Jimin, e sabia sobre si, assim como todos os funcionários. O ômega já teve um relacionamento com Byeong um tempo depois que começou a trabalhar ali, chegou inclusive a passar um cio consigo, mas agora, eram apenas bons amigos. 

— Acho que eu não tenho mais escolha - Diz indo em direção ao balcão, tentando de qualquer forma, esquecer o que ouvira do garoto a minutos atrás. 

— Você vai... - Não terminou a frase, pois sabia como aquilo afetava Jimin, esse que apenas assentiu, sentindo seu queixo tremer um pouco - Se precisar de mim, eu estarei aqui, você sabe - O ômega sorriu, puxou o alfa pelas mangas e o abraçou. Se sentia bem de não precisar mentir para ninguém ali.

[...]

Dentro daquele banheiro, olhava sua própria imagem no espelho, e tentava de alguma forma, se aceitar daquela maneira. Se abraçou, e sentiu seu coração bater forte ao observar aquele objeto em si. Puxou o ar fortemente, ao ponto de sentir sua cabeça rodar e seus pulmões doerem. Levou as mãos aos fios loiros e os colocou para trás de suas orelhas. Observou todo seu rosto, observou como era estranho tudo aquilo que via, sentia que iria desabar a qualquer momento.

O ômega tentava se convencer que tudo ficaria bem, que aquela situação não iria se repetir. Mas ele nunca iria esquecer, nunca iria conseguir deixar de lado aquele dia em específico.  Levou seu olhar para aquela região que tanto odiava, e a tocou, sentindo agora, algo ali. Mordeu fortemente suas bochechas, se impedindo de gritar. 

Mas ele tinha que aceitar, são anos convivendo com isso, ele tinha que aceitar que esse dia chegaria. Porém, como ele poderia, se a todo momento pensava nas palavras ditas a si quando era apenas uma criança? 

"— Você é retardado? Por isso usa isso? - Perguntou o garoto, ao puxar o objeto com toda força. Jimin sentiu a dor no mesmo instante.

— Eu acho que ele é tão idiota que nem consegue te entender, Seung - Jungsu riu alto, vendo seus outros amigos fazerem o mesmo."

— Retardado? - Olhou para si novamente, através da sua imagem no espelho, riu baixo e deixou algumas lágrimas caírem pelo seu rosto. Retirou aqueles objetos que tanto lhe fazia ter lembranças ruins, e os guardou. 

Foi para sua cama, retirou seus óculos os deixando na cômoda ao lado, e se deitou. Olhou para seu teto, e começou a pensar no dia que teve. Não se sabe quando, mas em poucos minutos, estava com os olhos turvos novamente, já havia chorado tanto naquele dia, que sua cabeça estava dando pontadas. Levou a palma de suas mãos ao seus ouvidos, os tampando, respirou fundo e fechou seus olhos, tentando de qualquer forma, se acalmar. 

Ao abrir seus lumes, levou o olhar para a cadeira que estava perto da escrivaninha, e observou o moletom que ali estava. Amava aquele moletom, Jungkook havia lhe dado. Sentia tanta falta de seu amigo, se sentia idiota por ter vendido o celular que ele havia dado a si como presente. Mas não tinha outra opção.

Pensava que o alfa já teria desistido de si, são meses desde o último contato que teve com o outro. Jimin compreenderia se isso acontecesse, Jungkook deveria o achar um péssimo amigo. Mas mesmo assim, o ômega julgava que tudo isso seria realmente o melhor a se fazer, se afastou do alfa, e agora não poderia mais mentir para ele. 

Todos sempre foram embora de sua vida, então, dessa vez, sentiu que estava fazendo um favor, mesmo que em seu mais profundo âmago, sentisse sua alma sendo arrancada de si a cada dia que passava. 

— Você vai me perdoar, não é mesmo?

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Mais um capitulo meus amores, resolvi que vou postar três hoje, porque sei que vocês são curiosos kkkkkkkk 

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O Som da Alma - Jikook ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora