capítulo 03

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» Atolado em uma piscina de bosta «

O chinês estava estático, as mãos trêmulas ainda seguravam a – agora vermelha de sangue – navalha de barbear, os olhos arregalados fitavam o chão totalmente ensanguentado, o corpo grande e agora sem vida largado ali, parecia algo assustador e surreal na visão de Renjun. Mas ele sabia que não tinha como escapar, aquilo realmente havia acontecido, ele matou alguém com as próprias mãos.

Totalmente desesperado, pegou a primeira coisa que encontrou em sua frente e, de maneira falha, tentou limpar quaisquer resquícios do infeliz acontecimento daquela noite.

Em todos esses anos no país, o estrangeiro jamais imaginou que algo do tipo poderia ocorrer consigo, nunca se passou em sua cabeça a possibilidade de – mesmo que sem querer, de maneira totalmente desproposital – se tornar um criminoso. Não tinha intenção alguma de machucar alguém, só queria se proteger, estava, obviamente, correndo perigo.

Com um homem desconhecido, duas vezes maior que si, que falava coisas estranhas e desconfortáveis, enquanto o encurralava na parede e tocava seu corpo, em lugares que ninguém além dele mesmo – e alguém com sua permissão – poderia tocar. Qualquer um que estivesse na mesma situação em que ele se encontrava, perderia a cabeça e faria uma loucura, apenas, para se autopreservar.

Agora, voltando ao seu pequeno – na verdade, extremamente grande – probleminha, fez tudo o que pôde para acabar com os vestígios do sangue que estava espalhado por cada canto do chão daquele salão. Com soluços altos e lágrimas que inundavam seus olhos, arrastou o homem pesado para o banheiro, largou-o de forma desleixada ao lado do sanitário. Mesmo sendo ateu, deu graças – a seja lá, qual deus existe ou deixa de existir – pelo fato de seu chefe, ser pão duro e despreocupado o suficiente para não instalar câmeras em seu local de trabalho.

Após estar limpo o suficiente para que ninguém com quem trombasse pela rua, desconfiasse do maldito acidente que teve: saiu do estabelecimento, com a cara inchada pelo choro, passos lentos e cuidadosos, como se o mínimo barulho que fizesse, pudesse chamar a atenção de quem não devia. Trancou a porta, colocou a chave no bolso de trás das calças que usava e pôs-se a andar sem rumo pelas ruas da grande cidade em que vivia.

Em sua perspectiva, não poderia ir para o apartamento que dividia com um amigo da faculdade, chegar lá a esse horário, com essa cara acabada e roupas com pequenas manchas vermelhas, não era algo nem a se pensar.

Ele seria recebido com perguntas e mais perguntas. Perguntas essas, que não teria como responder sem parecer que tinha feito algo extremamente errado – de certa forma tinha, mas a gente já falou sobre isso.

Enquanto andava por aí, encarando o chão, sua cabeça estava longe. Cada momento de seus vinte e dois anos, passavam por sua mente, como se sua vida fosse um filme bem entediante.

Percebeu que desde que nasceu até os dez anos, não fez nada além de brincar e assistir desenhos idiotas; dos seus onze anos até os dezessete apenas estudou, como se a vida dependesse disso e, viu diversas séries adolescentes que tinham basicamente o mesmo enredo – já estava começando a pensar que assistia televisão mais do que devia –. O único risco que teve na vida foi sair de casa aos dezoito e ir para um outro país, somente, por seu amor à música.

Ao atravessar a rua descuidadamente, viu um clarão invadir sua visão de forma totalmente repentina e pensou "é agora! O meu momento chegou, o karma já está agindo. Vou pagar de maneira dolorosa pelo o que eu fiz, é o fim" – o garoto é um pouco dramático, mas a gente deixa passar, afinal está traumatizado, pobrezinho.

De olhos fechados e braços em frente ao rosto – como se isso fosse diminuir a dor de um atropelamento –, o Huang aguardava ansioso o baque do carro se chocando contra o seu corpo, porém, nada veio. Abriu os olhos e abaixou os braços de maneira lenta, ao encarar a figura no banco do motorista, viu um homem de cabelos castanhos, que estava com os olhos tão arregalados que poderiam saltar das orbes a qualquer momento, os dedos apertando o volante com tanta força que as juntas poderiam explodir.

***

Já estavam no mesmo veículo a cerca de vinte minutos, o silêncio desconfortável presente no automóvel, era ensurdecedor. Renjun não sabia exatamente o que fazer ou dizer, apenas encarava com o canto do olho, o cara alto e forte que dirigia o carro esporte, queria muito perguntar o seu nome e o motivo de lhe ter oferecido ajuda, mas a vergonha e o medo eram maiores.

— Jeno – disse o até então, desconhecido, fazendo com que o chinês tivesse um pequeno sobressalto e olhasse para o coreano com certa confusão — meu nome, Lee Jeno, acho que é isso que você quer perguntar, estou errado? – disse, estendendo uma camisa que estava no banco de trás.

— Ah! Claro – pegou a camisa de bom grado, já retirando a que vestia, sem vergonha alguma – obrigado por ter me oferecido ajuda, não é algo que se espera de um estranho – ditou após já estar vestido novamente, notando que o outro o olhava de esguelha —, mas por qual motivo exatamente, está me ajudando?

— Você poderia me dizer seu nome antes? Tipo, você sabe meu nome e eu não sei o seu, é meio estranho manter uma conversa assim – falou Jeno, vendo o outro ficar com as bochechas rubras.

— Meu deus, desculpe! Eu sou Huang Renjun, é um prazer conhecê-lo.

— O prazer é todo meu – falou o mais alto, com um pequeno sorriso singelo no rosto — Sabe Renjun, eu consigo muito bem reconhecer quando alguém está na merda e, sem querer te ofender, você parece estar atolado em uma piscina de bosta.

— Uau! Você é muito sincero – comentou enquanto ria grande, verdadeiramente envergonhado — Não quer perguntar, o motivo de eu parecer estar na merda? – ditou ainda encarando Jeno.

— Bom, eu 'tô curioso, mas não posso te forçar a nada – disse, desviando o olhar da estrada para observar o Huang por apenas alguns poucos segundos –. Então, não se preocupe, não vou ficar te interrogando. Sei como é irritante, querer esconder um segredo e ter alguém aleatório, fazendo perguntas sem parar – falou, recebendo somente um pequeno sorriso.

Continuaram a viagem em silêncio – desta vez, um silêncio confortável –, até que repentinamente, um homem se joga, obviamente, de forma proposital em frente ao carro.

Será mais um assassinato para ficha de Renjun?

                                                                                        ***

n/t: Eae!!!! Tudo bem com vocês? Eu 'tô bem na medida do possível, o Enem está chegando e eu preciso me concentrar nos estudos 'pra tentar tirar no mínimo 700 pontos, e conseguir pelo menos meia bolsa no curso que eu quero fazer. Então, eu ando um pouco estressado, por que além disso, eu ainda tenho que trabalhar e sou responsável por duas crianças, mas acho que dou conta de tudo... ##desabafei

E pra quem tbm está se preparando pra prova do demônio – ainda falta mais de um mês, mas mesmo assim... –, boa sorte, afinal, todos vamos precisar

ps:Se encontrar algum erro, me avise, por favor.

365 FRESH - NORENMINOnde histórias criam vida. Descubra agora