Capítulo 4

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 Valentina

Saber que cada passo é único dava-me a sensação de medo e alivio.

Medo das próximas dezessete horas e dos acontecimentos suscetíveis de acontecer e alívio de trabalho cumprido.

Paul aperta levemente minha mão enquanto subimos a escadaria, como se compreendesse a aflição que se abate sobre mim. Não sei se estou realmente preparada para dizer adeus à rotina de tantos anos, não me sinto bem para percorrer cada sala num adeus silencioso.

Lembro-me do nosso primeiro dia no ensino médio, as pessoas desconhecidas no pátio, outros no corredor vestidos casualmente segurando alguns cadernos, conversando animadamente, tentando demonstrar não ser mais uma criança, e sim um adolescente. Tentando se acostumar com as novas matérias, aulas extras e, principalmente, se tornar uma pessoa popular.

Agora, nossas antigas vontades parecem tão vagas e bobas que sinto vergonha. Vergonha de não conhecer o verdadeiro mundo, as adequadas ambições da vida e ter chorado dias ao receber cada olhar apático.

Eram preocupações estúpidas, mas frequentes.

Mesmo minha deficiência quase imperceptível, as pessoas se habituaram me ver como alguém que carece de compaixão. Sendo a garota que passou o restante da infância impossibilitada de praticar qualquer atividade física, que sempre tinha alguém a acompanhando para que não caísse. A filha de um homem que desistiu da carreira, após o trágico acidente de carro, resultando no falecimento da esposa. Mudando-se para uma pequena cidade sem grandes atrativos.

Inicialmente, sentia-me envergonhada de ouvir os cochichos na hora do almoço, na sala de aula e os recadinhos deixados em minha carteira. Odiava usar o aparelho na perna, era pesado, a necessidade de me ausentar decorrente as operações, mesmo sabendo ser uma perda de tempo.

—Bom dia — Rebeca diz tirando-me dos devaneios —Estão atrasados.

—Beca, pare de ser chata, é o último dia de aula e aniversário da Vale— Thalia argumenta sorrindo maliciosamente — Ela e o Paul deveria estar se divertindo.

— Muito engraçado — respondo.

—Preparados — Frederico pergunta, abraçando-nos.

De onde ele surgiu?

— Se for para morrer, você está fazendo um grande favor nos sufocando — Paul diz de brincadeira.

Mas poderia ser verdade. Frederico é alguns centímetros mais alto que Paul, adora exibir seus músculos e sempre está vestido com a camisa do time de futebol.

— Não, cara. O jogo contra a escola Jeferson.

—Ah, nós estaremos lá — afirmo, saindo do abraço.

— E o baile? Já decidiu se vai com o Daniel? — Beca pergunta empolgada, e nego com a cabeça. —Então, você vai com o chato aí — olha para Paul que dá de ombros.

O sinal toca e agradeço silenciosamente.

Baile!

O que teria de divertido em uma festa de colégio? Alguém batizaria o ponche, as meninas escolheriam os vestidos mais caros, ficariam horas no salão, depois esperariam o par em frente à casa, torcendo para que ele fosse de carro. Horas dançando, enchendo a cara e depois voltar para casa, a maioria bêbada, só para se arrepender no outro dia.

— Sabe que vai. Vamos comemorar seu aniversário e despedir do colégio — Beca diz, enquanto caminhamos para a sala de aula.

— Posso fingir que estou doente— sugiro e ela revira os olhos.

Posso dançar com você?Onde histórias criam vida. Descubra agora