Capitulo Um: A Queda

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O som das engrenagens se misturava com os sussurros em sua mente, tudo era tão confuso e alto. Acordou ofegante, com um grito preso em sua garganta, havia uma fina camada de suor sobre seu rosto, sentia que seu coração poderia explodir em questão de segundos. Começou a tatear o próprio corpo, sem sangue. Suspirou aliviado, mas logo se arrependeu, assim que colocou uma de suas mãos em volta do pescoço. Seu coração começou a perder a noção das próprias batidas, não estava ali, havia perdido em algum lugar. Onde? Quando?

Angustiado, olhou para os lados e se viu preso naquele enorme quarto branco, sem portas, sem janelas, sem moveis, sem pessoas, sem absolutamente nada. Tentou se levantar, não uma, não duas, mas sim, três vezes até conseguir ficar de pé. Respirou fundo, em uma falha tentativa de colocar seus pensamentos em ordem. Se entrou naquele lugar, então havia um jeito de sair dali. O quarto em si parecia vibrar e tremer, talvez não tivesse imaginado o som das engrenagens, entretanto, era provável que estivesse sonhando. Andou vagarosamente até uma das paredes, tateou-as com a ponta dos dedos, ficou assim por alguns minutos, até que o som de algo caindo ecoou pelo lugar, olhou para a sala novamente e dessa vez havia algo diferente. Um colar prateado. Correu euforicamente e o pegou, ignorando sua fadiga por alguns momentos.

A criança de cabelos brancos bagunçados sorria alegremente enquanto segurava o pequeno pingente de flor dentre seus dedos.

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Seu corpo estava largado pelo chão, o colar estava em seu pescoço, e não pretendia o tirar dali tão cedo. Apenas encarava o teto. Isso era tudo tão estranho, seus sonhos nunca haviam demorado tanto para acabar, assim como nunca havia sonhado com um lugar assim, o mais próximo disso foi escuridão e apenas isso. Entediado, olhou para as paredes na esperança de que algo mudasse, mas nada mudou. Sabia disso, ainda conseguia ouvir as engrenagens trabalhando arduamente de baixo do chão e talvez dentro das paredes. Com o passar dos instantes o som delas se tornava cada vez mais alto, cada vez mais irritante, estridente e repetitivo. Levantou abruptamente, precisava sair dali. Foi em direção as paredes, uma a uma, tateou todas, mas nada aconteceu. O som não parava, estava mais alto, parecia que elas estavam dentro da sua cabeça, movimentando-se sem parar. Ia faze-las para. Elas precisavam parar!

—EU QUERO SAIR! —berrou com todo o ar de seus pulmões.

O som ecoou pelo quarto, dando lugar ao silêncio. Mas isso não durou muito, o chão voltou a vibrar e começou a se abrir. O ranger do chão rasgando sob seus pés. O desespero começou a tomar conta de si, prensou seu corpo contra a parede, era um sonho, mas não queria cair, não queria morrer. O chão se abria cada vez mais rápido, só restava um pedaço pequeno, estava por um fio. Fechou os olhos esperando a queda, mas ela nunca veio. Abriu os olhos vagarosamente vendo aquela cena sem sentido. Uma fina camada de vidro separava-o daquela água escura, era como o alto mar sobre os seus pés, não conseguia ver o fundo, e talvez de fato não existisse um. Aquele tom de azul se destacava cada vez que olhava para as paredes, daquele apático quarto branco. Sua mente tentava trabalhar o mais rápido o possível para entender aquele lugar, estava tão focado que mal pode reagir ao ouvir o estalo dentro da parede em que se apoiava, e no instante seguinte estava no chão, havia caído de costas. E no lugar de uma parede branca pode ver um corredor negro, sem luzes e repleto de sombras, que farfalhavam em torno da entrada, com muito medo de caminhar para a luz, assim como seu cérebro o fazia temer a ideia de andar ali.

Levantou com a mão no pescoço, garantindo que o colar permanecia ali. Olhou uma última vez para o quarto branco, na esperança de que ao final do túnel veria Celeste, e adentrou na escuridão. Seus passos ecoavam pelo breu, tornando-o cada vez mais solitário. À medida que avançava mais se questionava sobre aquilo ser real ou não, no final, isso não mudaria aquela estranha sensação que quase o fez parar de andar. A agoniante sensação de ser observado por algo que não podia ver, queria se virar na tentativa de ver algo, mas não tinha coragem para fazer isso. Ouviu um passo diferente do seu ecoando por ali, e naquele momento começou a andar mais rápido, mas não importava o quanto andava, aquele corredor parecia não ter um fim. Um alivio tomou conta de si quando viu uma luz distante, era a saída. Começou a correr esquecendo-se de seu medo do escuro.

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⏰ Última atualização: Aug 27, 2023 ⏰

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