PRÓLOGO

12 3 4
                                    

Lia, quando nasceu, foi milimetricamente observada. Seu pai Torrance a levantou, ignorando seu choro estridente e seu corpo manchado pelos líquidos vindos de seu recente parto. Tinha os olhos frios e fixos em cada detalhe. Procurava nela características de beleza.

As parteiras, duas para ser mais exato, que estavam ansiosas pelo fim do processo natural das mulheres, atendiam a mãe, Ada, com muita atenção, mas não deixaram de notar o ávido interesse do pai. Se entreolharam com pequenos sorrisos nos lábios. Ainda não sabiam do real motivo de tantas olhadelas, até que ouviram:

— Vejo que tem olhos tenros. Lia será seu nome.

As duas parteiras quase não se aguentaram e suspiraram alegremente. A melhor parte de seu trabalho era este, o momento em que os pais se emocionam com a chegada de seus filhos. Mas a expressão entusiasmada das duas mudou completamente ao escutarem:

— ... esta boquinha fina talvez lhe traga problemas...

A mãe ainda coberta de suor, assumiu-se preocupada:

— Tem certeza, querido?

— Absoluta. Quando crescer, os lábios finos a deixarão levemente feia. Talvez não consiga marido.

— Oh céus! — A mulher quase desmaiou.

As parteiras tinham os olhos colados nas testas, sem acreditar. Aquela era sem dúvida a família mais esquisita que já haviam visto. Os Alencar são mesmo dose!

Um pouco boquiabertas tentaram dizer algo como o fato de a beleza não ser importante, apesar de acharem a bebezinha Lia uma das mais belas de todas, entretanto, foram interrompidas antes que as palavras saíssem:

— Acalmem-se parteiras, minha esposa e eu faremos o possível para disfarçar essa terrível imperfeição. É claro que ela casará, onde já se viu uma mulher feliz sem um casamento?

Caixa de Casamento - CONTOOnde histórias criam vida. Descubra agora