Capítulo 1

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Safira

Ao inferno, eu não iria.

— É obrigatório, não podemos desobedecer o nosso rei. -disse meu pai.

Eu o encarei, arqueando uma sobrancelha.

— Rei de quem? Pode ser de todos os outros, mas meu rei ele não é. -bufei.

Ele suspirou cansado, sabia que isso um dia aconteceria, sabia que um dia essa carta chegaria em nossa casa e eu seria convocada para morrer no foço.

— Você vai sair de lá. —ele disse convicto— eu sei que vai.

Eu balancei a cabeça.

— Deixar o senhor e Connor? Quem irá cuidar de vocês? -questionei baixo.

— Somos bem crescidos. -disse Connor cruzando os braços.

— Você tem seis anos. —encarei meu irmão— e você está doente. -um olhar para o meu pai.

Ele suspirou.

— É o único modo, será morta se recusar o pedido de convocação. -ele tossiu.

— Eu não vou sair daqui com vocês neste estado. -falei lançando a carta a mesa.

— Sasa, você vai matar monstros! Eu queria matar monstros. —disse Connor vindo até mim— eu cuido do papai, eu sou forte. -ele mostrou os pequenos bracinhos.

Eu suspirei.

— Você é uma criança. —o peguei em meu colo— tem que brincar e viver sua vida, não se preocupar com nenhum tipo de problema agora.

Ele choramingou.

— Mas eu quero ser adulto. -ele resmungou.

Meu pai bufou um riso, caminhando devgar até seu quarto, enquanto eu levava Connor para o nosso.

— Daqui alguns anos, sim? -o pus na cama.

— Quantos? -ele perguntou.

— Alguns. -falei de forma cúmplice.

Ele sorriu divertido.

— Ok, ok, e eu vou poder matar monstros?

— Quantos você quiser. -falei.

Ele sorriu imaginando.

Não tive uma infância, mas queria que ele tivesse a dele, desde os dez anos eu saio para caçar, para conseguir comida para nós.

Meu irmão bocejou enquanto eu o cobria direitinho com os cobertores gastos, porém grossos para afastar o frio.

— Você só vai ficar com um. -os olhinhos de um azul safira gêmeos aos meus piscaram.

Eu encarei o cobertor fino em minha cama.

— Estou com calor hoje, hum? —acariciei seu rosto— agora durma. Sonhe. -sussurrei.

Ele bocejou, os olhos pesados.

— Haverá o amanhã? -ele murmurou.

Eu sorri de lado.

— Haverá. -beijei sua testa.

Um sorriso sonolento da criança, ajeitei os cabelos castanhos arrepiados, e vi meu irmão cair no mais profundo sono.

Haverá o amanhã? Talvez sim, talvez não. Era esta a real questão.

Talvez para mim não houvesse.

Um suspiro meu, eu saí do quarto, indo até a pequena cozinha onde havia a carta ainda na mesa.

Eu encarei o símbolo do dragão, por longos segundos, meus dedos foram até a carta, e o selo se partiu quando eu a abri. Puxando o conteúdo de dentro, o abrindo e suspirando para o que estava escrito.

Convocando a mim assim como muitos jovens da cidade de ferro, uma cidade embaixo da terra onde todos os escravos humanos residem.

Eu li toda a carta, que apegava sermos postos no foço, onde lutariamos para chegar até o fim dele.

Estava pronta para amassar aquela carta quando reparei em algo específico.

"O ser, seja humano ou mágico, imortal ou não que chegar até o fim do foço antes de todos, ganhará um título na alta sociedade, e será convocado para se aliar ao rei, se tornando membro da sua alta elite da guarda, junto de uma pequena fortuna e terras em seu nome".

Eu li e reli várias e várias vezes, vendo se era isto mesmo o que estava escrito. E é.

Eu levei a mão a boca, encarando a carta, a lendo de novo e de novo.

Um prêmio, antes era apenas uma disputa onde os imortais se divertiam as nossas custas, apenas para ver se iríamos sobreviver.

Mas... Agora há um prêmio, um prêmio para aquele que vencer a prova.

Era um grande prêmio, enorme. Se eu ganhasse, se eu ganhasse essa competição de vida e morte... Eu poderia tirar meu pai e meu irmão daqui de baixo. Poderia lhes dar uma vida melhor, nós não seríamos mais escravos do ferro e da terra aqui embaixo.

Havia uma ficha ao lado da carta, onde deveria se preencher com suas informações, seu nome, idade, pais, tudo.

Eu peguei uma velha caneta na gaveta do armário comido por cupins.

Levando a mesma até o papel, tudo parecia ser feito com lentidão, o mundo parecia estar indo devagar demais.

As letras foram traçadas, preenchendo cada linha, pondo cada informação sobre mim.

Então cheguei acima, na última linha, eu inspirei fundo, muito fundo, meu corpo congelando quando a ponta da caneta tocou o papel.

Um aperto na mesma e eu acabei com aquilo, assinando.

Safira Endeavor.

Quando encarei meu nome escrito naquela ficha, eu sabia.

Não havia só traçado a tinta da caneta na folha amarelada, havia traçado meu destino.

Vencer aquela competição e garantir um futuro, ou morrer nela e condenar a minha família a vergonha e luto.

E a primeira opção era a única em minha mente.

*Até o próximo capítulo ☄️ deixem seu comentário e seu voto pfvr ☄️*.

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