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As fortes e geladas rajadas de vento fizeram Deena encolher todo o seu corpo; em pleno final de outono o frio castigava quase severamente. A garota estava guardando seu crachá en sua bolsa quando suas chaves caíram no chão. Imagine ter que tocar no metal, agora molhado, em pleno 9°C?

Serenava devido à hora: Pouco mais das onze da noite. Deena fez o que mais cedo ou mais tarde teria que fazer e acabou pegando a chave do chão. A garota voltou a se levantar, todavia, algo não a deixou se mover. Ela fechou os olhos ao cair em percepção de que deveria ter ido visitar a senhora Dani e Samantua.

Seus passos foram desajeitados e apressados para dentro do hospital e logo ela estava no elevador rumo ao quarto da garota. Por sorte não precisou ter que gravar outros números de quartos aquele dia, se não, com certeza teria problemas em se lembrar do número do quarto de Samantha.

Assim que chegou ao piso em que deveria descer, ela rumou para o quarto. Deu três suaves batidas na porta e logo a mesma foi aberta.

-- Olá. -- Ela disse docemente. -- Muito tarde? Se quiser eu posso voltar amanhã e...

-- Não se preocupe, criança. Entre. -- Dani disse, vendo Deena (Agora não uniformizada) entrar. A garota deixou a bolsa no canto da sala e se aproximou de Samantha.

-- Olá, Samantha. Como está? -- Deena disse, vendo Dani voltar a se sentar em sua cadeira. -- Vejo que pentearam seus cabelos. Está linda!

-- Ninguém a visitava e, bem, ela sempre gostou de ficar bem arrumada para as visitas. Dei uma leve ajeitada. -- Dani disse sorrindo fraco e Deena agradeceu mentalmente por ter lembrado de visitá-la. A mulher teria se chateado caso o cérebro de Deena resolvesse falhar em lembrá-la de algo novamente.

-- Oh! -- Deena disse. A menor analisou a expressão da mãe de Samantha. Aquela mulher carregava consigo uma dor tão profunda que transparecia no brilho de seus olhos. -- Viu só, Samantha? Sua mãe ainda se lembra seus gostos. -- Dani riu baixinho e assentiu.

-- Você é muito especial, Deena. -- Dani disse, causando um sorriso no rosto da menor.

-- Obrigada, senhora. -- Ela disse sentindo-se lisonjeada. -- Samantha, vou contar para você e sua mãe sobre o meu chefe, quer escutar? -- Deena perguntou sorrindo. -- Ele brigou muito comigo por ter entrado aqui mais cedo. Ele realmente não deve gostar de mim. -- Falou rindo.

-- Oh, querida. Enganos acontecem. Por que ele brigaria com você?

-- Por importunar a paz de uma família. Eu deveria ter ido à outro quarto. Levei bastante xingo, mas sabe, Samantha? Gostei de conhecer vocês duas. -- A porta foi aberta de supetão, roubando a atenção do momento para o doutor que entrava na sala.

-- Boa noite, moças. Como estamos por aqui? -- O homem que aparentava seus quarenta e poucos anos era ligeiramente grisalho, mas incrivelmente lindo e simpático. -- Temos visita nova para você, Samantha? -- O homem disse em um tom Alegre e empolgado.

-- Deena é nossa nova amiga, Doutor Lucas. -- Dani disse sorrindo, se afastando para dar lugar ao médico, que retirava sua pequena lanterna do bolso de seu jaleco.

-- Vamos lá. -- Ele disse, abrindo um dos olhos de Samantha e jogando luz nele. Deena pôde ver que os olhos eram azuis também, uma tonalidade incrível, se fosse ser honesta.

-- Você não se incomoda com isso, Samantha? Se alguém jogasse luz nos meus olhos eu choraria de raiva. -- Deena disse rindo. -- Sou meio explosiva na TPM.

-- Como disse que se chamava? -- O médico perguntou, se virando para Deena.

-- Bem, eu não disse. Dani que me apresentou. Sou Deena.

-- Certo. Deena...

-- Já sei. Pedirá silêncio. Desculpe! -- Ela disse rindo um pouco envergonhada.

-- Muito pelo contrário. Continue falando. -- Deena arqueou uma sobrancelha.

-- Bem, eu não entendi, mas tudo bem. Sou fácil em falar coisas aleatórias do nada. Isso me faz parecer louca? -- Ela perguntou, vendo Dani rir.

-- Não, querida. -- A mulher respondeu gentilmente.

-- Deena, ande até a porta, por favor. -- O homem pediu e Deena assentiu confusa. -- Vá falando. -- Que espécie de louco aquele médico era? Deena resolveu acatar seu pedido mesmo assim.

-- Eu não posso ficar falando sozinha, doutor. O senhor me pede para falar, mas é complicado e isso compromete a minha imagem na frente de Samantha.

-- Repita o nome dela. -- O homem pediu com veemência.

-- Está tudo bem, doutor? -- Dani perguntou preocupada. O homem jamais fizera algo assim em todos os anos que estivera ali. Ele era apenas um interno quando foi apresentado ao caso e permaneceu até os dias atuais ao lado daquela família.

-- Sim. Só preciso que Deena repita o nome da Samantha.

-- Claro. Samantha, eu não sei porque o doutor quer que eu repita seu nome, mas gosto de "Samantha". É um bonito nome e por isso repeti sem problemas.

O homem soltou uma risada animada e apagou a lanterna, olhando para Dani visivelmente comovido. Ele havia se apegado à garota e dizia que naqueles quatorze anos Samantha lhe ensinava sobre perseverança todos os dias.

-- Senhora Dani, podemos trocar uma palavra? -- Ele perguntou e Dani olhou confusa e assustada para ele.

-- Eu prefiro que Deena esteja comigo. -- Ela confessou. -- Você sabe que eu não tenho... mais ninguém, doutor. -- Os olhos negros do homem se direcionaram para Deena antes de ele assentir.

-- Tudo bem. -- Ele disse. -- Senhora Fraser, de alguma maneira a sua filha parece responder quando ouve. As pupilas se dilatam e se movem, porém...

-- Oh, meu Deus. -- Dani disse levando sua mão à própria boca. -- Ela nos ouve? Oh, meu Deus. Minha filha... -- A mulher começou a chorar e o doutor respirou fundo.

-- Preciso que se acalme, senhora. Ainda tem mais. -- Ele disse, vendo-a limpar algumas lágrimas e voltar a fitá-lo. Dani sentiu um aperto cálido em sua mão, virando-se apenas para ver que era de Deena.

-- Prossiga, Doutor.

-- Bem, o mais estranho de tudo é que, bem... Samantha só responde à voz de Deena. Eu falei e nada, a senhora falou e nada, Deena falou e seus olhos a seguiram. Quando Deena proferiu o nome dela era como se seus olhos quisessem se aproximar dela.

-- Está dizendo... -- Dani foi cortada pelo Doutor.

-- A voz de Deena é o estímulo que procuramos todos esses anos para Samantha, Danielle. -- Deena piscou lentamente, tentando processar o que acabara de escutar. Como raios seu dia se tornora tão louco?

Em um Piscar de Olhos (Sameena)Onde histórias criam vida. Descubra agora